Enquanto pacientes dos hospitais públicos e alunos da rede pública passam fome, um grupelho de deputados estaduais realizam dois shows em Porto Nacional de caráter beneficente duvidoso. Através de emendas impositivas, eles usaram os recursos públicos para fazer politicagem, tentando ludibriar o povo e as autoridades constituídas antecipando a corrida eleitoral no município.
Da Redação
Caros leitores de O Paralelo 13, cidadãos, amigos, políticos, governantes. Vimos, por meio deste editorial, testemunhar que a pior dor de todo e qualquer ser humano é a fome.Quando estamos com fome não conseguimos raciocinar com clareza, pois ela invade nossa mente ante a necessidade mais primária de qualquer ser vivente, que é manter-se vivo.
A fome não deixa quem a sente dormir, a tortura, associando tudo o que acontece a sua volta com comida. Qualquer imagem, qualquer cheiro, qualquer sensação.A única coisa pior que sentir fome é sentir fome sentindo o cheiro da comida, vendo a comida sem ter cesso a ela.
Pois é nessa situação que estão os pacientes e acompanhantes do hospital e maternidade Tia Dedé e do Hospital Regional de Porto Nacional.Essas pessoas são, em sua maioria, oriundas de cidades distantes, que vieram buscar em Porto Nacional melhores condições para seus enfermos, mas que acabaram encontrando a fome e a falta de medicamentos.
Dirigentes e profissionais da saúde das duas unidades vêm fazendo milagres para dar condições mínimas de dignidade a esses pacientes e acompanhantes. Somos sabedores, também, dos esforços da secretaria estadual da Saúde, dos seus servidores e do governador Marcelo Miranda em carrear recursos para sanar a sangria da Saúde, da Educação e da Segurança Pública estaduais, mas gostaríamos de salientar que alimentação e saúde são questões emergenciais, urgentes, que precisam ser resolvidos logo, sob pena de perda de vidas humanas.
Mas, ao que parece, há pessoas na equipe do governo estadual, detentores de cargos eletivos e membros da “base” aliada que ou são cegos ou não estão querendo enxergar de propósito o sofrimento da nossa boa gente.
Estamos falando do um grupelho de deputados estaduais de olho nas eleições para prefeito de Porto Nacional. Eles são autores de emendas impositivas que neste último dia 14 de maio, serviram para pagar dois shows politiqueiros na Orla da Avenida Beira Rio, na cidade portuense. Segundo se comenta as emendas somaram 400 mil reais para o pagamento dos artistas e da infraestrutura. Só para constar, emenda impositiva é aquela em que o deputado indica o destino do recurso a que tem direito e o governo do Estado é obrigado a pagar.
“Pano de fundo”
Aliás, segundo apuramos, os shows seriam beneficentes, com o recolhimento de donativos para o abrigo João XXIII. Mas, ao que parece, esse caráter beneficente serviu apenas de “pano de fundo” para que o evento fosse realizado sem gerar críticas ou protestos – que seriam naturais ante a crise que assola o Estado e o Brasil – pois não houve nenhum tipo de divulgação dessa intenção de beneficiar o abrigo, nem com carros de som nem panfletos, muito menos comunicados via rádio ou TV, o que resultou em alguns quilos de feijão, arroz, farinha e macarrão para os idosos segregados nas dependências, quase abandonadas, desta quase centenária instituição, agora usada irresponsavelmente por estes deputados..
Já que perguntar não ofende, se a intenção era realmente beneficiar o abrigo João XXIII, porque não carrear os recursos direto para a entidade? Por que ajudar apenas o abrigo, se temos o Hospital Dr. Francisco Aires e ao Hospital Maternidade Tia Dedé,em situações precárias, ou as escolas estaduais de Tempo Integral, que no momento passam por dificuldades por falta de merendas oferecida aos estudantes?
Há algum outro sentido em realizar um show beneficente com dinheiro público, advindo dos impostos que os cidadãos pagam com dificuldade, senão a autopromoção? E é total falta de conhecimento destes parlamentares sobre a nobre secular história politica e cultural da coletividade portuense, que nunca se vendeu e não se venderá por circo, ou patrocínios de troças. Se quer o voto deste povo tem que militar nas propostas, no campo das ideias, agindo como um homem público de princípios notadamente éticos e morais.
Nestas terras de Felix Camoa não valem as maracutaias rotineiras, os nós em pingo d’água, as gambiarras politiqueiras, que muitos dos que nos representam elegem como princípios doutrinários para a prática política. Porto Nacional, é diferenciada é por isso merece ser tratada com respeito, mesmo pelos que somente aparecem na cidade no período eleitoral, para vociferar inverdades, na tentativa de armar o circo dos horrores e do lamaçal da corrupção. Aqui não!!!
E aí perguntamos novamente: será que é esse o retorno que os cidadãos esperam para os altos impostos que pagam mês a mês? Será que não seria melhor ter aplicado estes milhares de dinheiro público, gasto com esses shows politiqueiros nas carências da Saúde, da Educação e da Segurança Pública?
Merenda escolar
Nesta última sexta-feira presenciamos uma professora do colégio de tempo integral Dom Pedro Segundo, em Porto Nacional, aflita, nervosa e emocionada, abordando um político, clamando por comida, merenda escolar, para os alunos.
Ela explicava que 470 crianças estavam no colégio desde as sete horas da manhã, e já era quase meio-dia, sem um lanche sequer, e sem previsão de almoço. “Como elas podem aprender, se a fome está a lhes turvar a mente e corroer o estômago?”, perguntava a professora.
APELO
Por conhecer de perto e intimamente a fome, venho, aqui, fazer um apelo ao governador Marcelo Miranda, pois parece que os senhores deputados estão mais preocupados em fazer shows.
Acredito piamente que o governador não esteja sabendo dessa realidade enfrentada pelos cidadãos portuenses, pois com sua boa criação religiosa, de princípios e valores, jamais deixaria que algo semelhante acontecesse, principalmente em se tratando de pessoas enfermas e de crianças de baixa renda.
Portanto, venho aqui, em nome do povo portuense, desses pacientes e dessas crianças, suplicar aos seus princípios morais, familiares e éticos, Sr. Governador, para que o senhor olhe para essas pessoas, compreenda sua dor e providencie o alívio que lhes é de direito.
O abrigo João XXIII, inclusive, não recebe nenhum tipo de ajuda do Estado há anos. Os homens e mulheres que, hoje, precisam recorrer ao abrigo para ter um teto sobre suas cabeças, não têm um fisioterapeuta, um enfermeiro, um médico custeado pelo Estado a lhes servir. Esses homens e mulheres são os mesmos que num passado próximo, ajudaram a construir o Tocantins como o conhecemos hoje. São pessoas que mereciam muito mais. Não por dó ou comiseração, mas por reconhecimento pelo papel que representaram na história deste Estado.
Esta situação, talvez, não tenha culpados imediatos ou atuais. Pode tanto ser por acúmulo de descaso dos governos que passaram ou dos próprios dirigentes do abrigo. Mas, a verdade, é que o que menos importa agora é encontrar culpados. O que importa é ajudar, amparar e proteger essas crianças, esses pacientes e esses idosos.
São cidadãos, Sr. Governador, que necessitam da sua atenção, da sua intermediação e, principalmente, da sua ação.