O recém-publicado resultado das provas do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), aplicadas em dezembro de 2021, revelou um panorama sombrio. Os alunos do 3.º ano do ensino médio da rede estadual obtiveram as piores notas em Matemática de toda a série histórica da avaliação feita pelo governo paulista, iniciada em 2010. A maioria dos alunos (58,7%) do último ano do ensino médio saiu da escola sem conhecer noções elementares da disciplina. O desempenho na prova de Língua Portuguesa foi igualmente sofrível. Notas&Informações - Estadão Em 2021, os estudantes obtiveram nota 264,2 em Matemática. Até então, o pior resultado fora registrado em 2013, e mesmo assim acima do atual (268,7). Em Língua Portuguesa, a nota média obtida no fim do ano passado despencou em relação a 2019, aproximando-se do resultado de 2013. Note-se que não se está falando de conhecimentos altamente especializados, mas do manejo básico do idioma pátrio e das operações matemáticas. Sem isso, o que esperar do futuro dessa massa de jovens? Resgatá-los, em grande medida, é resgatar o País. O Brasil estará condenado a ser um país medíocre caso o desastre causado pela pandemia de covid-19 na área de educação não seja revertido por políticas públicas bem planejadas e executadas desde já por Estados e municípios e, a partir do início de 2023, pelo governo federal. É quando se espera que o Ministério da Educação (MEC) – que se fez presente apenas pela irracionalidade de seus titulares nos últimos três anos – tenha, enfim, a chance de ser reerguido por um presidente da República digno do cargo após a razia promovida na pasta por Jair Bolsonaro. A educação brasileira, particularmente nos níveis fundamental e médio, a rigor já não ia bem antes da eclosão da pandemia. Casos pontuais de boas políticas educacionais foram registrados em alguns municípios, mas os indicadores nacionais e regionais de desempenho dos alunos em conhecimentos básicos, como Língua Portuguesa e Matemática, já oscilavam abaixo dos padrões internacionais há algum tempo. A disseminação do novo coronavírus, somada à inoperância de um presidente que enxerga o poder como mero exercício de mando e escudo contra a responsabilização por suas ações e omissões, impôs novos desafios à aprendizagem e agravou problemas antigos. De um dia para o outro, por exemplo, a pandemia obrigou professores e alunos que jamais haviam experimentado o ensino remoto a se adaptarem a uma nova forma de interação. O necessário fechamento das escolas nos primeiros meses da pandemia foi seguido por políticas erráticas e desastrosas dos governos subnacionais em relação à reabertura – mais um reflexo da ausência do MEC. O que se viu foi o crescimento brutal da desigualdade entre alunos por classificações de renda e cor e um notável aumento do déficit de aprendizagem, que apenas no Estado de São Paulo, o mais rico e desenvolvido do País, chega a seis anos. É evidente que o resultado pífio obtido pelos estudantes paulistas no Saresp 2021 é parte de uma miséria cognitiva que se reproduz Brasil afora, fruto da tibieza dos governos, em todas as esferas da administração, ao lidar com a educação no curso da pandemia. O fechamento das escolas era uma medida necessária no início da pandemia, mas o ensino remoto, sem a estrutura necessária, provou-se um fracasso, sobretudo entre os mais pobres. Em seguida, criou-se um modelo híbrido, que também não se mostrou eficaz. E, nessa política de tentativa e erro, prevaleceu o erro e o resultado aí está. Já se sabe o que precisa ser feito para reverter esse quadro trevoso. Há organizações da sociedade civil muito sérias que, diligentemente, têm feito diagnósticos e apontado caminhos. No Congresso, há uma dedicada bancada de deputados e senadores a serviço da educação trabalhando para tirar o País do atraso. Alguns secretários estaduais e municipais de Educação, por sua vez, têm conseguido êxitos locais que servem de exemplo para todo o País. A importância da educação para o futuro do Brasil precisa deixar de ser o truísmo das campanhas eleitorais e se tornar a realidade percebida por milhões de alunos, pais e professores. O que falta é ação.