Uma reunião de lideres em Brasília tentara barrar o vazamento de informações da delação premiada feitas por Paulo Roberto Costa a Polícia Federal.
Nesse contesto a Controladoria Geral da União (CGU) pede acesso a depoimento de ex-diretor da Petrobras. Por Meio do ministro-chefe, Jorge Hage, que enviou ontem ofício ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedindo acesso aos depoimentos que o ex-diretor de abastecimento e refino da Petrobras Paulo Roberto Costa prestou à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, em nova rodada de investigações, sob regime de delação premiada. Em nota, a CGU cita que "o teor das declarações, a se confirmar o que vem sendo divulgado pela imprensa, poderá auxiliar nas investigações em andamento pela CGU, nas suas diversas frentes de atuação relativas à Petrobras". - Conforme a revista Veja, o ex-diretor da estatal citou na delação nomes de políticos. Costa teria citado inclusive o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A maior parte dos citados já negou envolvimento em irregularidades. No ofício encaminhado, Hage argumentou que a CGU já tinha obtido autorização judicial para o compartilhamento de informações do inquérito da Operação Lava Jato.
Em meio à repercussão das revelações feitas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, a presidente Dilma Rousseff disse ontem que a lista de nomes apresentada por Costa "não lança suspeita nenhuma sobre o governo, na medida em que ninguém do governo foi oficialmente acusado". Dilma indicou, porém, que poderá tomar medidas "mais fortes" imediatamente, caso as denúncias sejam comprovadas.
No depoimento de delação premiada, Paulo Roberto Costa citou o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão; os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros – todos do PMDB –, além do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em agosto. Reportagem da edição deste final de semana da revista Veja afirma que, ao todo, foram três governadores, seis senadores, um ministro e pelo menos 25 deputados federais beneficiados com pagamentos de propinas oriundas de contratos com fornecedores.
"Meu querido, eu acho que (o nome de Lobão aparecer no depoimento de Paulo Roberto Costa) não lança suspeita nenhuma sobre o governo, na medida em que ninguém do governo foi oficialmente acusado", comentou Dilma ao ser questionada sobre o assunto em coletiva de imprensa concedida no Palácio da Alvorada ontem.
Questionada sobre a permanência de Lobão no governo, após a revelação da revista Veja, Dilma disse que não pode tomar "nenhuma providência" enquanto não tiver "todos os dados oficialmente entregues". "Não acredito que os dados que a imprensa tem fornecido são oficiais. Ao ter os dados, tomarei todas as providências cabíveis, todas as medidas inclusive se tiver de tomar medidas mais fortes", ressaltou.
ACUSAÇÃO
Dilma disse a jornalistas que não conversou com o ministro Lobão nos últimos dias. "Nem ele sabe do que é acusado, porque não está na matéria (da revista Veja). Ninguém sabe. Não pode ser assim o Brasil", observou. "E quero dizer mais: o governo tem tido em relação a essa questão (investigação da Petrobras) uma posição extremamente clara. Aliás, foram órgãos do governo que levaram a essa investigação. Foi a Polícia Federal, não caiu do céu. O governo está investigando essa questão."
Ex-ministra da Casa Civil e também de Minas e Energia, Dilma presidiu o Conselho de Administração da Petrobras na época da compra da refinaria de Pasadena (EUA). À PF, Costa disse que houve pagamento de propina nesse negócio, que causou prejuízo de US$ 792 milhões à empresa, de acordo com o Tribunal de Contas da União.
VAZAMENTO DESESPERADO
O vazamento "parcial" dos depoimentos de Costa à Polícia Federal e ao Ministério Público, são "um pouco de desespero para mudar o rumo da campanha", disse ontem o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, após o encerramento do desfile de Sete de Setembro, Dia da Independência.
"Vazamento sempre é condenável porque pode ter sido feito por advogado de réu para protegê-lo", disse. Ele acrescentou que o governo não pode agir em cima de "boataria" e "denúncia que no momento é sem comprovação, sem fundamento". "Ninguém tem de ficar muito preocupado enquanto não tiver acesso ao inteiro teor dessa dita denúncia", minimizou.
Marina: em defesa de Campos.
A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, disse ontem que PT e PSDB, partidos dos seus principais adversários na eleição presidencial, se uniram, em uma "campanha desleal", para atacá-la. A ex-senadora acusou as campanhas de Dilma Rousseff e Aécio Neves de estarem recorrendo à "calúnia" e "difamação" para tentar desconstruir a imagem dela.
"Eu encontrei no interior da Bahia, no Rio Grande do Sul, no Acre e em qualquer lugar desse país: PT e o PSDB juntos, numa campanha desleal, que afronta a inteligência da sociedade brasileira, fazendo todo o tipo de difamação, de calúnia, de desconstrução do nosso projeto político e até mesmo da minha pessoa", criticou Marina, durante coletiva na sede de seu comitê de campanha, em São Paulo.
De acordo com a presidenciável do PSB, os "boatos" lançados contra ela por adversários, em diversos pontos do País, visam a provocar nos eleitores dúvidas sobre suas condições de garantir a governabilidade, caso ela seja eleita, e também sobre a manutenção, durante seu eventual governo, de programas sociais como o Bolsa Família.
MANIFESTO
Antes de conceder entrevista, Marina leu um manifesto de seis páginas em comemoração ao Dia da Independência. No documento, ela também criticou o PT e o PSDB por, segundo ela, recorrerem a calúnias para atacá-la. O texto apresentado pela ex-senadora afirma que os adversários estão incomodados com a possibilidade de ver a polarização entre os dois partidos ser quebrada.
"Tanto representamos a mudança que a sociedade brasileira está assistindo um degradante espetáculo político inédito: PT e PSDB irmanados na determinação de nos destruir, não importam os meios. Desde o falso respeito e admiração no início da campanha até os ataques caluniosos diretamente proferidos pela nossa adversária do PT [Dilma] em sua propaganda na TV e a impressionante mobilização de exército de propagadores de calúnias, mentiras e distorções nas redes sociais", diz o manifesto.
"Não se conformam de ver a sua bem treinada e confortável polarização ser quebrada pela primeira vez em décadas", completa o texto.
LULA
Marina também rebateu declarações feitas nos últimos dias pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que apoia a reeleição de Dilma. A candidata do PSB diz que está sendo vítima do mesmo tipo de "preconceito e discriminação" sofridos por Lula.
"Nesse momento, estão usando os mesmos preconceitos contra mim. Talvez pelo fato de ser uma pessoa de origem humilde, filha de seringueiro, negra, tendo sido analfabeta até os 16 anos, uma pessoa que tem uma trajetória de vida que permite àqueles que usam do conceito como ferramenta política fazer a desqualificação", disse ela.
CORRUPÇÃO NA PETROBRAS
Marina e o seu vice, Beto Albuquerque, saíram novamente em defesa de Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo no dia 13 de agosto, e que, segundo reportagem publicada na edição deste fim de semana da revista "Veja", foi citado pelo ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, em depoimento à Polícia Federal, entre os beneficiários de esquema de pagamento de propina envolvendo fornecedores da estatal.
Ao ser questionada sobre um eventual impacto na campanha, Marina disse não temer que a verdade venha à tona.
"A verdade jamais atrapalhará uma campanha que se dispõe a passar o Brasil a limpo. Nós queremos as investigações. Nós não queremos é que prevaleça a estratégia leviana de que, antes que se tenha as informações e as apurações, já faça essa associação [com Eduardo Campos], esquecendo a grande quantidade de envolvidos que estão aí muito vivos e muito aptos para atuar destruindo e dilapidando o patrimônio público", declarou.
Segundo Beto Albuquerque, o PSB já requereu acesso ao depoimento de Costa. "A gente lamenta o lançamento de um nome que não está mais aqui para se defender", disse.
Aécio envolve a presidente
O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, afirmou ontem durante encontro com evangélicos em São Gonçalo (RJ), na região metropolitana do Rio de Janeiro, que não dá para dizer que a presidente Dilma Rousseff "não sabia" de suposto esquema de pagamento de propinas oriundas de contratos com fornecedores da Petrobras. O presidenciável tucano ressaltou que o "aparelhamento do Estado" se tornou marca dos governos petistas.
"Não dá pra dizer que (Dilma) não sabia de nada. Esse é o resultado mais perverso daquela que, para mim, é a pior das marcas do governo do PT, o aparelhamento do Estado Brasileiro. O PT, para se manter no poder, esqueceu aquilo que pregava e até as boas intenções que provavelmente já teve em algum momento", disse o candidato do PSDB no ato político em São Gonçalo.
MENSALÃO Nº 2
Aécio voltou a chamar o caso, como fez no último sábado, de "Mensalão 2". Segundo ele, empresas públicas se submeteram ao projeto político do PT.
"O que estamos assistindo a partir dessas denúncias, e aguardamos que outras informações possam vir, mas essas denúncias mostram que o Mensalão não acabou, ou pelo menos se criou o Mensalão 2 durante todo esse período de governo do PT. As empresas públicas se submeteram a um projeto de poder", declarou o tucano.
Neves afirmou durante entrevista coletiva, ver com "cautela" as denúncias envolvendo a estatal do petróleo e defendeu a apuração das informações apresentadas por Paulo Roberto Costa ao MPF. O candidato do PSDB sugeriu também que o ex-diretor volte a prestar depoimento à CPI instalada no Congresso para dizer, "de forma muito clara", como funcionava o suposto esquema.
"Não condeno previamente ninguém, mas que existia, segundo o diretor mais importante da empresa, uma organização criminosa funcionando dentro dela durante todo esse período de governo, isso parece que é, segundo a Polícia Federal, um fato inquestionável. E é uma empresa que teve sempre atenção muito próxima da presidente da República", disse.
Segundo a Veja, na delação do ex-diretor da Petrobrás, aparecem a governadora Roseana Sarney (Maranhão) e dos ex-governadores Sérgio Cabral (Rio) e Eduardo Campos (Pernambuco); do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; dos senadores Renan Calheiros (PMDB), Romero Jucá (PMDB) e Ciro Nogueira (PP); e dos deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB), Cândido Vacarezza (PT), Mário Negromonte (PP) e João Pizzolatti (PP).
Com informações do Estadão e Agencia da Redação