Depoimento de Marcelo Odebrecht dura quatro horas e começa a revelar esquemas
O empreiteiro Marcelo Odebrecht depôs durante quatro horas nesta quarta-feira (1), em Curitiba, como testemunha na ação de cassação da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014.
O depoimento era aguardado com grande expectativa pelas defesas: como delator, o empresário poderia afirmar se houve ou não caixa dois na arrecadação da campanha presidencial de 2014, e se o dinheiro tinha origem ilícita, como propina de obras da Petrobras.
O teor da fala, porém, é sigiloso –segundo os advogados, o executivo repetiu o que disse em delação premiada, que ainda está em segredo de Justiça.
Marcelo disse que 4/5 dos recursos destinados pela empresa para a campanha da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer em 2014 tiveram como origem o caixa 2. Segundo relatos, Marcelo afirmou que a petista tinha dimensão da contribuição e dos pagamentos, também feitos por meio de caixa 2, ao então marqueteiro do PT, João Santana. A maior parte dos recursos destinados ao marqueteiro era feita em espécie.
O valor acertado para a campanha presidencial da chapa reeleita foi de R$ 150 milhões. Deste total, de acordo com o empresário, R$ 50 milhões eram uma contrapartida à votação da Medida Provisória do Refis, encaminhada ao Congresso em 2009, e que beneficiou a Braskem, empresa controlada pela Odebrecht e que atua na área de química e petroquímica.
No depoimento, Marcelo citou um encontro com Dilma no México, ocasião em que lembrou a ela que os pagamentos feitos a Santana estavam “contaminados”, uma vez que as offshores utilizadas por empresários do grupo serviam para pagamento de propina. Conforme relatos, o empreiteiro afirmou, no entanto, que esse assunto era normalmente tratado entre o ex-ministro Antonio Palocci e Santana.
No depoimento, Marcelo Odebrecht foi questionado sobre o início da relação com o governo do PT e ressaltou que as primeiras conversas ocorreram em 2008, quando foi procurado para fazer doações para as eleições municipais daquele ano, especificamente para as que João Santana estava trabalhando.
Marcelo Odebrecht confirmou ter se encontrado com o presidente Michel Temer durante tratativas para a campanha eleitoral de 2014, mas negou ter acertado com o peemedebista um valor para a doação. Ele informou que não houve um pedido direto pelo então vice-presidente da República para a doação de R$ 10 milhões ao PMDB.
Temer tenta reagir à queda de escudeiros peemedebistas
Em 12 de maio, quando assumiu interinamente a Presidência, Michel Temer se cercava de quatro peemedebistas de sua confiança: Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Romero Jucá (Planejamento), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Parceria de Investimento).
Às portas de o presidente completar um ano no cargo, dois caíram (Geddel e Jucá), um está licenciado e debaixo de acusações (Padilha) e outro já foi citado na delação da Odebrecht (Moreira).
O presidente acredita que, apesar do desgaste, conseguirá uma sobrevida como inquilino do terceiro andar do Palácio do Planalto ao descentralizar as funções mais importantes de seu governo e, dessa forma, não depender de apenas um ou dois de seus assessores.
Além de atuar pessoalmente na articulação política o presidente delega a ministros e parlamentares –inclusive àqueles considerados do baixo clero do Congresso– acordos para garantir a tramitação das principais reformas propostas por sua gestão. A da Previdência, por exemplo, menina dos olhos do governo neste primeiro semestre, tinha em Padilha o seu homem forte. Desde o início do projeto, era responsabilidade do ministro chefe da Casa Civil a negociação com sindicatos, empresários e parlamentares. Depois de Padilha ter sido citado pelo ex-assessor da Presidência José Yunes como destinatário de um "pacote" em que supostamente haveria dinheiro da Odebrecht, auxiliares de Temer já afirmam que ele não era o único a cuidar das mudanças no INSS: o Ministério da Fazenda e a comunicação do Planalto poderão, caso seja necessário, prosseguir com as negociações sobre o tema.
Terminado o carnaval, a atenção se volta para os desafios políticos
Encerrada a pausa do carnaval, que trouxe problemas de segurança na Sapucaí, mas que deu uma trégua na crise do governo, o presidente Michel Temer inicia março com uma agenda carregada de problemas para resolver. Os 31 dias que começam a partir de hoje serão turbulentos e muitos apostam que, se superar o que está por vir nas próximas semanas, o governo poderá ter uma sequência menos tumultuada de mandato. “Temer viverá, agora, o seu agosto (o tradicional mês de azar da classe política)”, resumiu o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz.
À agenda já pesada, soma-se mais uma crise que não estava prevista no roteiro. A licença médica do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, para uma cirurgia na próstata, deixa a dúvida se ele, de fato, voltará ao cargo. Padilha foi citado pelo ex-assessor especial da Presidência José Yunes, amigo pessoal de Temer, como destinatário de um envelope lacrado, que teria R$ 1 milhãi, enviado pelo doleiro Lúcio Bolonha Funaro, operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Ambos estão presos em Curitiba.