Cenário econômico se deteriora, País vive clima de recessão, mas governo do Estado ignora situação calamitosa, mantém gastos nas alturas e desperdiça o tempo que ainda há para reparar erros
Por Edson Rodrigues
A esperança dada pelo ministro da Economia, Joaquim Levy, na última semana, de que estados e municípios poderiam voltar a captar recursos internacionais com o aval da União, considerada por todos, unanimemente, a luz no fim do túnel para o saneamento das finanças, acaba de ser revogada.
A luz se apagou nesta sexta-feira, quando o Tesouro Nacional suspendeu a possibilidade do aval da União, em comunicado do Cofiex, órgão do ministério do Planejamento, responsável pela operacionalidade de financiamento externos.
Com esse ato, o governo federal fecha todas as portas e praticamente assume que não tem mais crédito para contrair dinheiro junto a órgãos financiadores internacionais.
Além de ser um balde de água fria aos estados e municípios endividados, o ato praticamente sepulta as expectativas de melhora de muitos governos e partidos.
ESTOURO DA BOIADA
Há tempos O Paralelo 13 vem falando da necessidade de o governo do Estado se ater aos altos gastos e certos desperdícios – para não dizer outra coisa – que vêm acontecendo na atual administração.
Mas, inesperadamente, o aviso veio de alguém de dentro do próprio governo, quando, ao iniciar uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Nilton Franco, do núcleo palaciano, fez um pronunciamento onde desfiou um rosário de críticas á atuação do governo do qual faz parte.
Segundo o deputado, o Tocantins, hoje, está sem um controle direto do que acontece nos municípios. Ele teria tomado ciência disso ao visitar o hospital de Paraíso do Tocantins, onde viu um paciente com a perna quebrada que espera por uma cirurgia há 20 dias. Nilton Franco considerou isso um descaso com o ser humano e uma prova de que o governo não conhece a realidade do estado que governa: “apesar de ter um grande respeito por Marcelo Miranda, não posso deixar de afirmar que é errado que se fechem postos de fiscalização, que não se tenham viaturas nem combustível para a polícia, enquanto temos gastos que não ajudam em nada para melhorar a vida da população”.
Nilton Franco ainda citou o governo do Espírito Santo, onde o governador Paulo Hartung “cortou na própria carne” e reduziu seu salário e o dos demais servidores de primeiro e segundo escalão.
NOSSO PONTO DE VISTA
Diante dos fatos por nós divulgados durante toda esta semana, podemos afirmar com tranqüilidade que Marcelo Miranda perdeu totalmente o controle político de seu partido e, por conseguinte, de sua base aliada.
Elogiado exaustivamente por sua humildade, o governador do Tocantins parece ter perdido o pulso, a voz ativa, tão necessários em um cargo de comando.
Na assembléia legislativa, um grupo de, pelo menos, oito deputados, a despeito do árduo e bem-intencionado trabalho desempenhado por Paulo Mourão, líder do governo, está “fazendo de conta” que apóia Marcelo Miranda, se dizendo de sua base aliada, mas mostrando total descompromisso com as necessidades do governo, formando uma espécie de “maioria fictícia” no plenário.
O certo é que, caso não haja um plano de ações urgentes a ser posto em prática pelo Palácio Araguaia, a situação no Tocantins vai piorar muito, e rapidamente. Outras greves se juntarão à da Educação – e por motivos mais que justos.
O governo do Tocantins sofre pela comunicação falha, com uma secretaria de Comunicação que não consegue cumprir seu papel fundamental, que é o de municiar a imprensa e, consequentemente, o povo, do que o governo vem fazendo para tentar aplacar a crise. Isso acontece não por incompetência. Os integrantes da Secom são pessoas capazes, porém, sem autonomia para agir, segundo uma pessoa do primeiro escalão do governo.
A imagem do Tocantins não pode ser maculada novamente como aconteceu no caso do Reced, em que nosso estado sangrou ante a mídia nacional sem que nada fosse feito para estancar tal hemorragia.
O que se vê surgindo no horizonte, nada mais é que uma nova crise institucional. Só que, desta vez, sem precedentes na breve história do Tocantins.
A verdade é que o vácuo deixado pela figura política forte, determinada, indômita e capaz de tudo para manter o Tocantins como uma unidade forte da federação, representada pela figura emblemática de José Wilson Siqueira Campos.
Ao que parece, falta a Marcelo Miranda, vontade de assumir esse papel, pois, incapaz, certamente ele não é. Ou quais serão as amarras que o impedem de fazê-lo?
E se Marcelo Miranda não tomar as atitudes necessárias, em tempo hábil, será uma era de pesadelo que se instalará em terras tocantinenses, tanto quanto já vem se instalando em outros estados. Dificilmente, com a queda no repasse de recursos, o aumento da inflação e dos impostos, nosso estado se livrará da recessão e da inadimplência.
Cabe a Marcelo Miranda assumir corajosamente as rédeas, cortar drasticamente os gastos, eliminar as contratações desnecessárias, os passeios em carros oficiais aos fins de semana, dialogar com as categorias que lutam por seus direitos, enfim, governar como manda o manual.
Nosso papel enquanto imprensa é alertar, fiscalizar e mostrar. Acreditamos na capacidade do governador e em uma improvável união pela governabilidade do Tocantins.
Mas, acima de tudo, acreditamos na capacidade do nosso povo!
Quem viver, verá!