Por Edivaldo Rodrigues
Na política, vez ou outra, surgem personagens que vestem a pele de cordeiro, mas caminham com passos de lobo. Não é novidade. A história está repleta de líderes que, sob o discurso da fé, da lealdade ou da moralidade, revelam-se estrategistas frios e, quando necessário, traiçoeiros. Na trilha dos “falsos profetas” da vida pública, quem observa a cena palaciana de Palmas identifica sem esforço o vice-prefeito Carlos Eduardo Velozo, que parece se encaixar perfeitamente nesse vagão da gestão Eduardo Siqueira Campos.
ORAÇÃO DE FIDELIDADE… PARA QUÊ MESMO?
O primeiro capítulo dessa novela política se escreveu no dia em que o então prefeito Eduardo Siqueira foi conduzido ao Comando-Geral da PM, acusado de obstrução de justiça denúncia que, até hoje, carece das provas anunciadas com tanto alarde.

O prefeito Eduardo Siqueira Campos e o vice Carlos Velozo
Ali, diante do “irmão” em apuros, o vice-prefeito Carlos Velozo, pastor, líder religioso, homem público, entoou uma oração que ficou registrada na memória dos presentes: “Ó Senhor, faz justiça com nosso irmão prefeito Eduardo Siqueira. A quem prometo ser fiel. Não sentarei na sua cadeira, Senhor. Despacharei do meu gabinete. Não demitirei nenhum de seus secretários. Senhor, nos dê luz para continuarmos unidos e fiéis um ao outro…”
Foi bonito. Foi dramático.
Mas durou pouco.
No dia seguinte, já no exercício do cargo e sentado exatamente na cadeira que prometera não ocupar, Carlos Eduardo promoveu uma verdadeira devassa administrativa. Demitiu secretários ligados a Eduardo Siqueira, trouxe parentes de Goiás, nomeou aliados de sua igreja e começou a agir como se estivesse autorizado a governar Palmas pelos próximos anos. Para quem acompanhou, ficou claro que a oração foi apenas prólogo de um roteiro político muito mais ambicioso.
O RETORNO DE EDUARDO E O GELO NO PROJETO DO VICE

Quando a Justiça determinou o retorno de Eduardo Siqueira ao cargo, o castelo de expectativas do vice-prefeito desmoronou. A reaproximação com o poder foi curta, e o pupilo do Pastor Amarildo, figura influente nos bastidores, saiu discretamente de cena. Os planos ficaram no ar, à espera de nova oportunidade.
A REENTRADA EM CENA E AS PROFECIAS POLÍTICAS

Pastor Amarildo Martins e Carlos Velozo
Agora, Carlos Velozo reaparece com movimentos bem calculados. Fez uma visita surpresa à Câmara Municipal, conversou com vereadores e, com a segurança de quem afirma saber mais do que diz, deixou escapar uma frase que circulou como pólvora: “Eduardo Siqueira não chega a Natal no cargo. As coisas em Brasília estão andando.”
A fala intrigou, acendeu alarmes e alimentou suspeitas de que o vice-prefeito tenta, mais uma vez, criar um clima propício à sua ascensão.
Para além das visitas, Carlos Velozo passou a atender pessoas em um escritório próprio, recebendo lideranças, aliados e curiosos. Entre vários visitantes que conversaram com nossa reportagem, muitos nos confidenciaram que o vice-prefeito afirma, sem rodeios, acreditar realmente que o prefeito Eduardo Siqueira não emplacará o Natal no cargo.
Segundo eles, Carlos Eduardo não fala como quem apenas comenta o cenário político, fala como quem espera, aposta ou articula. Essa postura reforçou ainda mais a percepção de que o vice trabalha nos bastidores para fragilizar o titular e construir, peça a peça, um ambiente favorável à sua própria volta ao centro do poder.
A TENTATIVA DE CRIAR INSTABILIDADE

Felipe Martins, Carlos Velozo, Amarildo Martins e familiares
Para vereadores que ouviram suas declarações, o movimento soa mais como estratégia de enfraquecimento político do prefeito do que como informação concreta de Brasília. A narrativa de “queda iminente” cria dúvidas, balança apoios e afeta diretamente a governabilidade. Em política, plantar a sensação de que o líder está por cair é, muitas vezes, o primeiro passo para empurrá-lo de fato.
Carlos Velozo se vale do discurso religioso para construir imagem de seriedade e honestidade, mas seus gestos recentes desenham um personagem mais complexo e muito mais político do que devocional. A lealdade pregada na oração contrasta com atos que apontam para um projeto pessoal, que tenta se alimentar das fragilidades do governo para florescer.
E o eleitor palmense, atento, terá de decidir se enxerga no vice-prefeito um líder movido pela fé… ou apenas mais um “Judas político”, que reza com uma mão e carrega o punhal oportunista com a outra...
Iniciativa é uma força-tarefa que mobiliza secretarias, autarquias e parceiros estratégicos do Governo do Tocantins, para levar diretamente à população atendimentos nas áreas de saúde, educação, assistência social, agricultura, emprego, dentre outras
Da Assessoria
O governador Laurez Moreira lançará, nesta sexta-feira, 5, em Miracema do Tocantins, o programa Tocantins Presente. A ação é uma iniciativa do Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas), e marca o início de um novo modelo de Governo Itinerante, que levará a estrutura completa do Estado para todas as regiões do Tocantins. A programação será realizada em frente à Câmara Municipal, no bairro Dona Filomena, das 9 às 17 horas.
A programação se estende nos dias 6 e 7 de dezembro, correspondendo à tradicional celebração em que Miracema simbolicamente reassume, por um dia, a condição de sede do governo tocantinense. A programação especial da Capital por um Dia coincide com este momento cívico e histórico, atraindo autoridades e revivendo o legado político da cidade.

O governador Laurez Moreira enfatiza a importância de aproximar a estrutura do Estado da população, visando uma troca assertiva e a promoção do trabalho conjunto entre o Governo do Tocantins e os cidadãos.
“Estamos cientes de que o governo trabalha integralmente para a população; nada melhor do que levar toda a nossa estrutura para perto do povo tocantinense. Quero ouvir cada um, levar melhorias para quem precisa e entender quais as demandas mais urgentes. Nosso objetivo é acertar, utilizando o recurso de maneira correta, tendo as pessoas como fiscalizadores e ordenantes da gestão”, evidencia o governador Laurez Moreira.
Tocantins Presente
O Projeto de Governo Itinerante Tocantins Presente estabelece um novo formato de gestão pública, baseado na presença ativa do Estado e na aproximação com as comunidades, especialmente nas regiões mais afastadas da capital. A proposta é democratizar o acesso aos serviços, fortalecer o diálogo com os municípios e garantir que as políticas públicas cheguem a todos de forma eficaz.
Atuando como uma força-tarefa interinstitucional, o projeto mobiliza secretarias, autarquias e diversos parceiros para levar diretamente à população um amplo conjunto de atendimentos, orientações e políticas nas áreas de saúde, educação, cidadania, assistência social, agricultura, emprego, renda, segurança, turismo e cultura.
Trata-se de uma estratégia permanente de governo, voltada a democratizar o acesso aos serviços públicos e aos programas sociais em todos os municípios, além de fortalecer o vínculo entre o Governo do Tocantins e a sociedade, promovendo uma gestão mais acessível, participativa e eficaz.
Estrutura de Governança

Titular da Setas, Ana Carina Souto
Coordenado pela Secretaria de Estado do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas), com apoio da Casa Civil e participação de todos os órgãos estaduais, o programa será conduzido por um Comitê Gestor Integrado, responsável pelo planejamento e pela execução das ações. Os atendimentos serão organizados em nove eixos temáticos e ofertados em espaços acessíveis, como escolas, unidades móveis, tendas e mutirões.
A Setas assume a supervisão do Governo Itinerante, atuando como elo integrador para garantir a execução coordenada das ações. A titular da Setas, Ana Carina Souto, comenta que o Tocantins Presente representa o compromisso do Governo do Tocantins com cada município, levando serviços, atendimentos e políticas públicas diretamente às pessoas. “É um governo que não espera a população vir até nós; somos nós que vamos até ela, ouvindo suas necessidades e construindo soluções de forma integrada. Essa ação fortalece a cidadania, amplia direitos e reforça o cuidado com cada família tocantinense. Onde houver gente, o Governo do Tocantins estará presente”, afirma a secretária Ana Carina Souto.
Ações ativas e serviços prestados

Irana de Sousa Coêlho Aguiar secretária-chefe da Casa Civil
O Tocantins Presente está estruturado em nove eixos temáticos, que reúnem as principais áreas de políticas públicas a serem levadas às regiões do estado. Cada eixo será coordenado por uma ou mais secretarias responsáveis, com equipes técnicas específicas. Os eixos contemplam: Saúde e Bem-Estar; Cidadania e Direitos Humanos; Educação e Cultura; Segurança Pública; Economia e Desenvolvimento; Mobilidade e Regularização; Emprego e Empreendedorismo; Meio Ambiente e Recursos Naturais; Infraestrutura e Tecnologia.
Durante a ação, o gabinete do governador funcionará diretamente na cidade, assim como secretarias, departamentos, institutos e agências do Governo do Tocantins. Os serviços seguem um formato itinerante, com atendimentos realizados em escolas, tendas e mutirões, garantindo acesso facilitado às comunidades.
MPTO reúne gestores para assegurar continuidade, qualidade e segurança no tratamento dos pacientes
Da Assessoria
O Ministério Público do Tocantins (MPTO) realizou, na tarde desta quinta-feira, 27, audiência administrativa para discutir o processo de transição do fluxo de pacientes oncológicos do Hospital Geral de Palmas (HGP) para o Hospital de Amor. O encontro deu continuidade às tratativas iniciadas em reuniões anteriores e integra a atuação de fiscalização permanente do MPTO sobre a migração dos serviços especializados de oncologia no estado.
A audiência foi conduzida pela promotora de Justiça Araína Cesárea, com participação do promotor de Justiça Thiago Ribeiro Franco Vilela e de representantes da Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO), da Defensoria Pública, do Hospital de Amor e do Conselho Regional de Medicina (CRM-TO).
Plano de transição
Durante a reunião, a promotora de Justiça Araína Cesárea solicitou o detalhamento técnico do plano de transição que será executado pelo Hospital de Amor. Entre os pontos questionados estão: prazos para cada fase do fluxo assistencial; capacidade operacional e número de leitos; protocolos de recepção e triagem de pacientes; estrutura de odontologia oncológica; dimensionamento da UTI; diagnóstico da demanda reprimida no estado, protocolos de cuidados paliativos, oncopediatria e hematopediatria.
Araína Cesárea destacou os avanços já apresentados, como a previsão da capacidade instalada e os primeiros protocolos técnicos.
“Nesta audiência, tratamos dos avanços já alcançados no processo de transição do atendimento oncológico, analisando a capacidade instalada, a oferta de leitos e a estrutura operacional que será implantada pelo Hospital de Amor. Também foram apresentados, ainda que de forma preliminar, protocolos essenciais, como cuidados paliativos, oncopediatria, hematologia pediátrica e fluxos relacionados à radioterapia”, detalhou.
Nas deliberações finais, foram definidos prazos para apresentação de respostas sobre o plano emergencial de oferta de serviços, especialmente os relacionados à iodoterapia, braquiterapia, radioterapia para câncer de pele e PET-SCAN.
A promotora também ressaltou a criação do Comitê de Transição, que será responsável pelo acompanhamento técnico do processo.

“O Comitê de Transição terá caráter intersetorial e reunirá a Secretaria de Estado da Saúde, o Hospital de Amor, o Ministério Público e demais instituições envolvidas. Caberá a esse grupo consolidar, de forma gradual e articulada, os fluxos, protocolos e o termo de referência que subsidiará a contratualização definitiva dos serviços”, afirmou a promotora.
Continuidade de atendimento aos pacientes em tratamento
Durante a audiência, representantes das SES e do HGP reafirmaram que os pacientes que atualmente realizam quimioterapia e radioterapia no HGP terão seus tratamentos mantidos na unidade, sem interrupções ou prejuízos clínicos durante a transição.
A secretária-executiva da Saúde, Ana Paula dos Santos Andrade Abadia, avaliou positivamente a reunião.
“A audiência foi extremamente produtiva e crucial para o andamento da transição. Superamos dificuldades, esclarecemos dúvidas e avançamos na articulação entre o Estado e o Hospital de Amor. Estamos na fase final da minuta contratual e caminhando para a assinatura do contrato na primeira quinzena de dezembro. É um avanço muito importante para o Tocantins, após anos de esforços para estruturar esse atendimento”, afirmou.
“A expectativa é que, após a assinatura, possamos iniciar os primeiros atendimentos no Hospital de Amor em Palmas”, completou.
Estrutura assistencial apresentada
A equipe técnica do Hospital de Amor apresentou as capacidades previstas para o Tocantins, incluindo equipamentos de alta complexidade já instalados como tomografia, ressonância magnética e hemodinâmica, além do acelerador linear utilizado para radioterapia.
O rádio-oncologista Daniel Grossi Marconi, coordenador da área de reabilitação, destacou o impacto da nova estrutura:
“Estamos falando de um serviço extremamente complexo, e a estrutura prevista pelo Hospital de Amor, quando estiver em sua totalidade, representará um ganho extraordinário para o Estado e para os pacientes. Serão 84 leitos de internação, 10 leitos de UTI com possibilidade de ampliação para mais 10, além de 12 salas cirúrgicas totalmente dedicadas à oncologia. É uma estrutura construída com recursos próprios, doações e emendas. Agora aguardamos apenas a formalização contratual para colocar toda essa capacidade em funcionamento”, celebrou.
Ações na área da Educação têm reflexos diretos no trabalho dos profissionais da rede e na ampliação do atendimento às crianças e adolescentes de Palmas
Da Assessoria
Ao longo deste primeiro ano, a gestão do prefeito Eduardo Siqueira Campos tem implementado uma série de ações na área da Educação, com reflexos diretos no trabalho dos profissionais da rede e na ampliação do atendimento às crianças e adolescentes de Palmas.
A começar pelo compromisso, valorização e fortalecimento das equipes, o município garantiu o pagamento do Piso Nacional do Magistério, com retroativos referentes a janeiro, além da efetivação das progressões horizontais e verticais e da inclusão dos benefícios de titularidade e escolaridade na folha de pagamento. A gestão também fez o chamamento de todos os 1.209 aprovados do concurso público da Educação e a convocação de mais 104 professores do cadastro de reserva, que reforçam o quadro de servidores.
Para assegurar o funcionamento das escolas e ampliar o apoio pedagógico, a Prefeitura de Palmas também contratou 1.320 assistentes-gerais, 338 assistentes de sala e 250 professores substitutos. Outra medida foi a concessão de afastamento remunerado para servidores que ingressaram em cursos de mestrado e doutorado.
Merenda
A Prefeitura avançou na modernização da alimentação escolar com a aprovação da Lei nº 3.297/2025, que atualiza a gestão da merenda e fortalece a segurança alimentar dos estudantes.

A nova legislação centraliza as compras na Secretaria Municipal de Educação (Semed), o que gera economia e eficiência no uso dos recursos, estabelece critérios técnicos mais rigorosos para a padronização da qualidade dos alimentos servidos em todas as unidades, além de garantir a participação mínima de 30% da agricultura familiar nas aquisições.
Investimento contínuo em formação
Ao longo do ano, cerca de 2.400 profissionais participaram de cursos e capacitações presenciais e on-line. São mais de 20 formações com, no mínimo, 8 horas de duração, além de mais de 40 cursos disponibilizados na plataforma ‘Palmas Home School’, todos com certificação.

As capacitações abordaram temas como educação inclusiva, organização do trabalho pedagógico, alfabetização, legislação e processos de compras, elaboração documental, educação de jovens e adultos, execução de programas federais e práticas voltadas ao avanço do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A formação ‘Cada aluno, uma história’, focada no Plano de Ensino Individualizado (PEI), reforçou o compromisso da gestão com a personalização do ensino e o atendimento adequado aos estudantes.
Inclusão
Em janeiro, a Prefeitura implantou a Superintendência de Educação Inclusiva, criada para organizar, acompanhar e responder de forma especializada às demandas de famílias e profissionais que atuam com crianças neurodivergentes. A superintendência é hoje uma das estruturas centrais da política educacional do município.
A gestão também lançou a construção do Centro de Educação Inclusiva (CEI) Sarah Gomes, com investimento de R$ 5 milhões, fruto de emenda do senador Eduardo Gomes. O prédio, de 1.070 m², será referência municipal no atendimento educacional especializado.
Ampliação e modernização

O município mantém frentes de obras em unidades de ensino de todas as regiões. As maiores intervenções são a Escola de Tempo Integral (ETI) do Jardim Taquari, retomada em agosto e projetada para atender mil estudantes, e o Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Capadócia, com capacidade para 560 crianças em tempo integral. Juntas, as duas obras ultrapassam R$ 24 milhões em investimentos e têm entregas previstas para 2026.
Além delas, a gestão conta com 19 unidades em obras de reforma, ampliação ou requalificação. Entre as intervenções concluídas estão os Cmeis Lucas Ruan Araújo Alves, Castelo Encantado, Cantinho da Alegria, Sementes do Amanhã, e as ETIs João Beltrão e Margarida Lemos Gonçalves.
Outras unidades seguem em fase final, como a Escola Monteiro Lobato, que recebe novas salas e melhorias estruturais, e a Escola Sávia Fernandes Jácome, que terá quadra poliesportiva e reforma completa de salas e setores administrativos.
Por Edson Rodrigues
O calendário político do Tocantins entrou oficialmente em contagem regressiva. Não é apenas o fim de 2025 que se aproxima, mas o esgotamento de um ciclo de incertezas que precisa obrigatoriamente dar respostas antes que o eleitor chegue às urnas em 6 de outubro de 2026. Até lá, o relógio da política e o relógio da Justiça vão bater juntos, e é nesse compasso que se definem destinos de mandatos, projetos de poder e sobrevivência eleitoral.
RECESSO DA JUSTIÇA, SOBRESSALTO NA POLÍTICA

O Poder Judiciário entra em recesso a partir de 20 de dezembro, retornando às atividades apenas em 6 de fevereiro de 2026. Até lá, a classe política tocantinense vive em sobressalto. Deputados, prefeitos, ex-gestores e, sobretudo, o governador afastado Wanderlei Barbosa e seus familiares acompanham com atenção cada movimento do STJ e do STF diante das investigações em curso.
Não estão descartadas novas operações em desdobramento daquelas que já cumpriram mandados de busca em residências, gabinetes na Assembleia Legislativa, apartamentos em Brasília e apreenderam dinheiro em espécie, joias, computadores e celulares. O conteúdo desses aparelhos, especialmente os ligados ao governador afastado, seus filhos e esposa, ainda pode produzir fatos novos, sobretudo se ficar configurada obstrução de Justiça, tese já levantada em trechos dos autos da Polícia Federal.
O CASO CINTHIA E O SILÊNCIO QUE INCOMODA

No tabuleiro das investigações, outro ponto sensível segue à espera de desfecho: a gestão da ex-prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro. Em operação da Polícia Federal, foram encontrados milhões de reais em espécie e joias de ouro em um apartamento vinculado a um ex-secretário de sua administração. A cada mês que passa sem uma conclusão clara, cresce a cobrança da população palmense e tocantinense por respostas objetivas, em que pé estão esses processos, quem será responsabilizado, haverá denúncia, absolvição ou tudo acabará acomodado no silêncio conveniente da morosidade?
ENTRE LINCHAMENTO POLÍTICO E IMPUNIDADE

A sociedade já não se contenta com a novela interminável dos “investigados permanentes”. As apurações envolvendo o governador afastado, ex-gestores municipais e lideranças de peso precisam ser concluídas com rigor, mas também com transparência.
A Justiça é chamada a cumprir três tarefas básicas: encerrar investigações que se arrastam há anos, oferecer denúncia quando houver provas robustas e arquivar o que não se sustentar nos autos. O que não se pode naturalizar é o limbo político em que autoridades são mantidas sob suspeita indefinida, expostas publicamente como quase culpadas ou blindadas na prática por decisões inconclusas. Nem linchamento político prévio, nem impunidade silenciosa, o Tocantins precisa de verdades documentadas, não de rumores de bastidor.
O PRAZO DO AFASTAMENTO DE WANDERLEI

A contagem regressiva também corre para o prazo de afastamento de Wanderlei Barbosa. O período de 180 dias se aproxima do meio do caminho, e até março a Justiça terá de decidir se devolve o mandato ou renova o afastamento por mais 180 dias. Uma prorrogação desse porte não será trivial e exigirá fundamentação robusta, novos elementos e disposição para enfrentar o confronto jurídico e político que inevitavelmente virá. Nesse cenário, o governo interino de Laurez Moreira tenta equilibrar duas tarefas: administrar o Estado sob o peso de uma interinidade vigiada e construir o próprio projeto de reeleição em 2026.
AMÉLIO CAYRES, FIADOR DO EQUILÍBRIO

Nesse ambiente carregado, uma figura emergiu como ponto de equilíbrio entre as instituições. o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Amélio Cayres. Ele conseguiu manter a lealdade pessoal e política ao governador afastado, com quem tem relação de amizade e confiança, e, ao mesmo tempo, garantir governabilidade ao interino Laurez. Sob seu comando, passaram empréstimos, Refis e projetos de interesse do Executivo, sem ruptura com o governo afastado nem confronto aberto com o atual. Em tempos de radicalização e alianças descartáveis, a postura de Amélio, dialogando com o Executivo, segurando o tom entre os pares e preservando a compostura institucional da Assembleia, tornou-se uma raridade na política tocantinense, e o colocou como fiador de um frágil equilíbrio entre os poderes.
TABULEIRO 2026: GOVERNO E SENADO EM DISPUTA

Enquanto Justiça e governo se ajustam, o tabuleiro eleitoral de 2026 vai tomando forma. Na disputa pelo Palácio Araguaia, a senadora Professora Dorinha Seabra (União Brasil) se movimenta como nome consolidado, o governador interino Laurez Moreira (PSD) trabalha pela reeleição e o empresário Ataídes de Oliveira sinaliza retorno ao jogo. No Senado, a fila é ainda mais apertada uma vez que Eduardo Gomes (PL) e Irajá Abreu (PSD) buscam a reeleição; Vicentinho Júnior articula sua candidatura à espera da janela partidária; Carlos Gaguim, Alexandre Guimarães e o empresário Vanderlei Luxemburgo também se colocam como alternativas, disputando espaço em chapas majoritárias.
A CARTA DO BICO DO PAPAGAIO AO PT
É nesse contexto que entra o movimento mais recente vindo da esquerda tocantinense. A União de Diretórios e Comissões Provisórias do Bico do Papagaio (UDCPBP) divulgou texto em que faz um diagnóstico duro da situação interna do Partido dos Trabalhadores no Estado e aponta um caminho estratégico para 2026. O documento lembra que, historicamente, as vitórias presidenciais do PT, desde 2002, só foram possíveis porque o partido soube operar grandes coalizões, superar crises internas e construir uma práxis política em que o projeto coletivo se sobrepõe aos egos individuais. A mensagem é de que se o PT do Tocantins não unificar sua executiva com as bases, não alinhar discurso e prática e não superar disputas intestinas, estará fadado ao fracasso eleitoral, mesmo sob a sombra positiva de um eventual palanque de Lula.
PAULO MOURÃO COMO ESTRATÉGIA, NÃO SÓ PREFERÊNCIA

Dentro dessa leitura, os signatários da UDCPBP defendem com veemência a pré-candidatura de Paulo Mourão ao Senado Federal. O texto resgata a trajetória do ex-prefeito, ex-deputado estadual e ex-deputado federal, sua atuação na implementação de programas sociais federais no Tocantins e sua capacidade de articulação em torno de pautas de combate à desigualdade social. Para o grupo, Paulo Mourão representa um nome com densidade política, histórico orgânico no partido e discurso afinado com o projeto nacional do PT. Mais do que uma preferência individual, a defesa de seu nome é apresentada como uma escolha estratégica para dar coerência ao palanque lulista no Estado.
O NÓ NO PALANQUE DE LAUREZ

A confirmação da candidatura de Mourão, contudo, abre um imbróglio direto no palanque de Laurez Moreira. Se o diretório nacional e a articulação conduzida pela ex-senadora Kátia Abreu, hoje a principal responsável pela construção de um palanque de Lula no Tocantins, consolidarem o governador interino como referência local do presidente, o cenário tende a aproximar Laurez do PT. Nesse desenho, o eleitor pode se deparar com uma curiosa cena de campanha em 2026: Laurez pedindo voto fazendo o “L” de Lula e o “L” de Laurez na mesma propaganda, enquanto tenta encaixar Paulo Mourão como candidato oficial do PT ao Senado. A equação complica ainda mais quando se considera que Vicentinho Júnior já se apresenta em plena pré-campanha ao Senado ao lado de Laurez. É importante ressaltar a aliança de Vicentinho Júnior ao governador em exercício Laurez Moreira, da mesma forma que o pré-candidato ao governo precisa do apoio do presidente Lula. Há, portanto, um nó político a ser desatado: como conciliar na mesma base dois candidatos competitivos ao Senado, Paulo Mourão e Vicentinho, ambos de Porto Nacional, primos e que, historicamente, nunca estiveram no mesmo palanque?
LULA, KÁTIA E A ENGENHARIA DAS ALIANÇAS

Essa disputa interna no campo que se aproxima de Lula no Tocantins vai exigir habilidade milimétrica. Kátia Abreu, que articula a construção desse palanque, terá de operar num terreno em que as lealdades locais, as rivalidades familiares e os projetos pessoais de poder convergem e colidem ao mesmo tempo. A definição sobre quem será o rosto do lulismo ao Senado no Estado vai dizer muito sobre a capacidade do PT e de seus aliados em reproduzir no Tocantins a fórmula nacional de amplas coalizões ou, ao contrário, repetir o roteiro de fragmentação que o documento da UDCPBP já aponta como risco real.
UM 2026 DE SURPRESAS ANUNCIADAS

Enquanto isso, o relógio segue implacável. O governador afastado espera o desfecho do seu caso, Laurez administra um governo de transição permanente, Amélio Cayres segura as pontas entre os poderes, Dorinha, Eduardo, Irajá e outros pré-candidatos ensaiam passos calculados, e o PT tenta decidir se será protagonista, coadjuvante de luxo ou espectador privilegiado da disputa. O Tocantins entra em 2026 com uma certeza de que quando política e Justiça andam em contagem regressiva no mesmo calendário, não faltam surpresas. E, desta vez, o eleitor parece menos disposto a aceitar versões sem desfecho e alianças sem coerência.