Ex-homem forte dos governos do PT teve reunião com advogado e diz que habeas-corpus concedido à José Dirceu não muda nada
Da Redação, com informações do Correio Braziliense
O habeas corpus concedido ontem pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-ministro José Dirceu dará um outro ritmo aos acordos de delação premiada costurados por outro petista de peso: o também ex-ministro Antonio Palocci. Palocci já separou alguns documentos que poderão servir de anexos para embasar o que falará ao juiz Sérgio Moro. Mas o timing, a partir de agora, será redesenhado.
Palocci passou quase oito horas, nos últimos dois dias, reunido com o advogado Tracy Reinaldet — sócio de Adriano Bretas no escritório contratado para definir os termos da delação premiada à força-tarefa da Operação Lava-Jato. No encontro de segunda, dia 1º, as primeiras linhas da proposta de delação começaram a ser delineadas.
Mas o ex-czar da economia no governo Lula e da Casa Civil na gestão Dilma não abandonou seu antigo defensor, José Roberto Batocchio, que é frontalmente contrário à delação. Interlocutores do ex-ministro afirmam que ele trabalha com todas as hipóteses à frente.
Na segunda-feira, ele havia sido questionado por pessoas próximas se a possibilidade de liberdade de Dirceu por intermédio de um habeas corpus poderia fazê-lo desistir de um acordo de delação. Esses mesmos aliados disseram que ele se mostrou evasivo e, mesmo assim, manteve a disposição de separar documentos e informações importantes. “O Palocci é um jogador. Claro que, com Dirceu solto, ele pode esperar para definir os rumos. Poderá, inclusive, fazer a delação em liberdade, como uma forma de reduzir uma possível pena futura”, disse ao Correio um jurista que acompanha de perto o processo de Palocci.
Sem efeito
Petistas admitem ser quase improvável um recuo de Palocci neste momento. “Ele falou para o Moro, ao vivo, que tem informações suficientes para ampliar as investigações durante um ano. Não dá para agora simplesmente dizer que não vai falar mais nada”, afirmou um cacique do PT na Câmara.
O líder do partido na Casa, Carlos Zarattini (SP), concorda com o colega de bancada. Mas acha que é impossível que a mudança na situação de Dirceu não interfira na disposição de Palocci. “Quem sabe isso não pode definir o quanto ele vai falar neste momento, já que o STF, a partir de agora, está dando um novo balizamento em relação a essas prisões arbitrárias”, disse Zarattini.
A profusão de denúncias e acordos de delação premiada não divide os advogados apenas entre aqueles que propõem acordos e outros criminalistas contrários a esse tipo de prática. Um dos defensores de clientes da Lava-Jato afirmou que existe um outro grupo de advogados que oferece compras de proteção, alertando que terceiros, eventualmente interessados em se defender de denúncias futuras de corrupção, se ofereceriam para ajudar em custas de processos, por exemplo.
Por isso, alguns juristas afirmam que a situação de Palocci é sui generis, uma vez que, além de ter informações privilegiadas das campanhas e das gestões de Dilma e Lula, também pode incomodar o sistema financeiro nacional, com o qual teve contato direto quando foi ministro da Fazenda entre 2003 e 2006 e principal arrecadador de campanha para a primeira eleição de Dilma Rousseff, em 2010.
Aécio depõe sobre Furnas
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi interrogado ontem de manhã na Polícia Federal, em Brasília, na condição de investigado em um inquérito que apura irregularidades em Furnas, estatal do setor elétrico. O interrogatório durou cerca de uma hora. O advogado criminalista Alberto Zacharias Toron, que defende Aécio no caso, disse que ele respondeu a todas as perguntas feitas pelo delegado da PF e acrescentou que o cliente “fez questão absoluta de esclarecer tudo”.
“A ênfase que se deu é que toda a suspeita que se lançou sobre ele veio por informações ‘por ouvir dizer’. Ele refutou tudo que foi dito”, afirmou Toron. Nesse inquérito, um dos sete nos quais é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF), Aécio é suspeito de receber propina do ex-diretor de Furnas Dimas Toledo, em um esquema de desvio de recursos na estatal do setor elétrico.