Brasileiros não acreditam mais em políticos e tacham partidos como corruptos
Apenas 3% dos brasileiros acreditam que os políticos representam e defendem os interesses da sociedade. Foi o que revelou uma pesquisa realizada no País pelo Instituto Ibope. Segundo o levantamento há uma distância entre o que o povo quer e o que pratica os políticos, principalmente senadores e deputados federais.
Segundo a pesquisa, 84% dos brasileiros afirmaram acreditar que os parlamentares trabalham pouco e 52% consideram que não passa de 10% o número de bons políticos do País. Mais constrangedor do que isso, só os adjetivos que os entrevistados selecionaram para classificar os seus representantes. Pela ordem: 55 % acreditam que eles são desonestos, 52% que são insensíveis aos interesses da sociedade 49% ressaltaram que eles são mentirosos. Os números são fruto do atual estado de degradação moral do Parlamento, de acordo com a avaliação do sociólogo Demétrio Magnoli, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Os analistas e cientistas políticos explicam que o índice de confiança no Legislativo tem decrescido em todo o mundo. Dados do instituto Eurobarômetro mostram que, mesmo em países com democracias consolidadas, como Inglaterra e Alemanha, o grau de confiança na classe política gira em torno de 30%, no Brasil, está em 20%.
Eles apontam duas explicações para o fenômeno: “A primeira, na definição do cientista político Jairo Nicolau, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro ‘é a crescente concentração de poderes no Executivo, mesmo em países parlamentaristas’. A segunda é o fortalecimento de outras instâncias fora do Estado capazes de atender a parte dos anseios da sociedade”. Diz a cientista política Lucia Hippolito: “Os políticos já não detêm o monopólio da representação. ONGs, Igreja, mídia e universidades também cumprem esse papel”.
A pesquisa revela que, além dos escândalos políticos dos últimos meses e do distanciamento do eleitor, os legisladores brasileiros contribuem para piorar a sua péssima imagem por não legislar.
Muitos Partidos, ideologias
e nenhuma ação
É evidente que o enfraquecimento dos partidos políticos no Brasil a cada dia aumenta. O povo não confia em partidos políticos e suas ideologias “mentirosas e farsantes”, quando todos sabem que os interesses pelo poder superam toda filosofia das mais variadas linhas de pensamento.
O descrédito do eleitor junto aos partidos, que perderam o sentido de debates dentro do campo das ideias, restringindo tão somente aos discursos banais, disputas por espaço. Observa-se, em todas as casas legislativas, isso nas três, que os debates calorosos sobre assuntos de grande relevância para sociedade não são debatidos, perdendo, com isso, o sentido de existência.
Os partidos políticos perderam tanto sua força que, atualmente, membros de uma determinada legenda são incapazes de indicá-la a uma pessoa que queira ingressar na vida política partidária. O Brasil conta atualmente com 31 partidos legalizados, no entanto poucos partidos são, efetivamente, expressivos. Diante deste cenário, o eleitor tende a votar sem compromisso com as plataformas ou programas eleitorais das siglas, muitos acabam votando em candidatos que oferecem alguma vantagem ou benesse.
Partidos são corruptos.
Afirmam 81% dos brasileiros
Pesquisa Ibope divulgada em julho, pela Transparência Internacional, apura que 81% dos brasileiros consideram os partidos políticos “corruptos ou muito corruptos”, Isso quer dizer que quatro de cada cinco pessoas põem em xeque a base da representação política no País. Os números do levantamento traduzem uma insatisfação que ficou explícita com a série de manifestações que se alastraram pelas cidades brasileiras.
Se comparados à percepção de moradores de outras áreas do globo, fica claro que os brasileiros estão mesmo descontentes. Na média dos 107 países que participaram da pesquisa organizada pela organização não governamental, algo em torno de 65% dizem que os partidos são “corruptos ou muito corruptos”. A mesma pesquisa – feita em 2010 pela Transparência Internacional – mostra que, no Brasil, a situação se agravou: três anos atrás, o índice de descontentamento sobre o tema era de 74%.
Os dados nacionais sobre percepção de corrupção – obtidos após entrevistas com 2.002 pessoas – mostram também que, depois dos partidos, o Congresso é a segunda instituição mais desacreditada. Cerca de 72% da população o classificam como “corrupto ou muito corrupto”. Na média mundial – foram 114 mil entrevistas –, o índice é de 57%.
A pesquisa ainda perguntou se os entrevistados consideravam eficientes as medidas dos governos contra a corrupção: 56% dos brasileiros disseram que não; 54% da média mundial também. “O desprestígio dos partidos e dos políticos é muito grande, disse Alejandro Salas, um dos autores do informe da Transparência Internacional. “O resultado é triste. Os partidos políticos são pilares da democracia”, disse.
Na avaliação de Salas, o que tem sido positivo no Brasil é que as pessoas que saíram às ruas para se manifestar fizeram uma ligação direta da corrupção na classe política ao fato de não haver serviços públicos adequados. “As pessoas fizeram a relação direta entre a corrupção e a qualidade de vida que têm”, disse. “Para muitos, o mais dramático é que o Brasil cresceu nos últimos anos. Mas as pessoas perceberam que os benefícios não foram compartilhados e que parte disso ocorreu por conta da corrupção.”