Por Edson Rodrigues
A sucessão ao governo do Tocantins foi precipitada por eventos fora do curso natural da política. Tudo começou com o rompimento político, no ano passado, entre o então governador Wanderley Barbosa e seu vice, Laurez Moreira. Alijado da gestão, Laurez decidiu trilhar caminho próprio, formando um novo grupo político e lançando sua pré-candidatura ao governo estadual, percorrendo os 139 municípios tocantinenses.
COM A PRÉ-CAMPANHA NAS RUAS

A movimentação de Laurez nas ruas provocou um efeito dominó. Outros nomes com pretensões ao Palácio Araguaia se viram obrigados a se posicionar. Entre eles, o presidente da Assembleia Legislativa, Amélio Cayres, que contava com o apoio direto de Wanderley Barbosa. Também entrou no jogo a senadora Dorinha Seabra, respaldada por prefeitos dos cinco maiores colégios eleitorais do estado — Palmas (Eduardo Siqueira), Araguaína (Wagner Rodrigues), Gurupi (Rosi Nunes), Porto Nacional (Ronivon Maciel) e Paraíso (Celso Morais) — além do senador Eduardo Gomes, vice-presidente do Senado.
A situação ganhou ainda mais urgência com o afastamento de Wanderley Barbosa por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por 180 dias. Com isso, Laurez Moreira assumiu o governo e formou uma nova equipe de auxiliares, priorizando nomes de seu grupo político, embora tenha mantido alguns quadros da gestão anterior.
Essa reconfiguração, imposta pelo Judiciário, alterou profundamente o equilíbrio entre os poderes Executivo e Legislativo. Amélio Cayres perdeu seu principal apoiador e, com ele, o respaldo de 18 deputados estaduais que formavam a base de Wanderley. O cenário atual praticamente inviabiliza a candidatura de Cayres ao governo.
DORINHA X LAUREZ

As pesquisas de intenção de voto divulgadas até o momento colocam a senadora Dorinha Seabra na liderança, com o governador em exercício, Laurez Moreira, em segundo lugar. No entanto, o cenário está longe de ser definido. O número de eleitores indecisos, somado aos votos brancos e nulos, ainda supera as intenções de voto de qualquer pré-candidato. É o que revelam levantamentos internos encomendados por partidos e grupos políticos, aos quais o Observatório Político de O Paralelo 13 teve acesso.
OBSTRUÇÃO DE JUSTIÇA É PASSÍVEL DE PRISÃO

O Tocantins vive um clima de insegurança política e jurídica, aguardando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pedido da defesa de Wanderley Barbosa para retornar ao cargo. As recentes operações da Polícia Federal, que miraram o governador afastado, seus familiares e deputados estaduais, com mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa e em residências de parlamentares, agravaram ainda mais o ambiente de incerteza.
As acusações de obstrução da Justiça, envolvendo Wanderley Barbosa, sua esposa Karinne Sotero e os filhos — o deputado estadual Leo Barbosa e Rérison Barbosa —, resultaram na apreensão de celulares e dispositivos eletrônicos. Caso as suspeitas sejam confirmadas com o conteúdo dos celulares e outros dispositivos eletrônicos apreendidos, tudo pode culminar em pedido de prisão. Porém, se nada houver que comprove a prática de obstrução de Justiça, cairá por terra a acusação mais grave que há contra Wanderlei Barbosa, o que pode reverberar nas decisões judiciais, facilitando o acatamento dos pedidos da sua defesa e a sua recondução ao cargo. O ministro Mauro Campbell deve receber os laudos técnicos da perícia da Polícia Federal já na próxima semana.
TERCEIRA VIA?

A crescente taxa de indecisos e o aumento dos votos nulos ou em branco refletem o sentimento popular diante das crises políticas e institucionais. O eleitor já compreende que, no fim das contas, é ele quem arca com as consequências. Por isso, o Observatório Político de O Paralelo 13 afirma que a disputa pelo governo está mais aberta do que nunca.
Há espaço, inclusive, para o surgimento de uma terceira via competitiva, capaz de embaralhar o atual quadro sucessório. Diante das sucessivas decepções político-eleitorais e da indefinição sobre quem, de fato, governa o estado, o mais prudente é que as pré-candidaturas permaneçam restritas ao meio político. Nas ruas, a preocupação é outra: demissões em massa, contas atrasadas e o risco iminente de retorno à faixa de pobreza.
E O POVO?

A população tocantinense apresenta um percentual de pobreza que, embora tenha diminuído significativamente, ainda é expressivo, com a taxa de pobreza em 2023 sendo de 28,6%.O estado se situa como o segundo com a menor taxa de pobreza nas regiões Norte e Nordeste, atrás apenas de Rondônia. Em 2023, o estado também registrou uma queda significativa na pobreza extrema, que passou de 7,6% em 2021 para 4,2% em 2023.
Ainda assim, um total de 142.892 famílias em todos os 139 municípios do Tocantins estão contempladas em outubro com o Bolsa Família. O que é Uma faixa bastante significativa da população economicamente ativa, ainda mais sob o prisma do envelhecimento da população brasileira em geral, o que pode significar que boa parte dos atendidos pelo Bolsa Família no Tocantins podem jamais ter a chance de voltar ao mercado de trabalho.
Portanto, é hora dos políticos pararem de pensar em seus projetos pessoais de poder e começar a trabalhar naquilo em que foram eleitos por esse povo que está sucumbindo ou de vergonha ou de falta de oportunidades.... ou os dois!