Por Edson Rodrigues
O coordenador político do governo tocantinense, secretário Eduardo Siqueira Campos, demonstrou para os políticos oposicionistas, sua fenomenal capacidade de articulação junto aos deputados estaduais, que tinham a responsabilidade de apreciar as contas que já haviam sido rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado(TCE), referente aos exercícios de 2009 e 2010, do ex-governador Marcelo Miranda e do ex-governador “biônico” Carlos Gaguin, que estavam em análise para aprovação pelo plenário da Assembleia Legislativa.
A Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, já havia rejeitado o parecer do TCE que era pela não aprovação das contas. Dessa forma, já havia um primeiro passo no sentido de aprovar as contas pelo plenário do legislativo tocantinense. O julgamento das contas pela Assembleia aconteceu na quinta-feira, dia 5 de setembro, e por maioria esmagadora, ou seja, pelo placar de 13 votos contra nove elas foram rejeitadas pelos deputados estaduais, acompanhando o parecer oferecido pelo TCE.
Esta virada de comportamento dos deputados se deu em razão da articulação feita nos bastidores pelo secretario de Governo Eduardo Siqueira Campos. Quando a maioria das lideranças oposicionistas acreditava que o secretario não tinha nenhuma força política, ele demonstrou que não está morto. Pelo contrário, mostrou que ainda detém o mesmo poder de antes quando era o primeiro secretario da Mesa do Senado Federal, sendo que presidiu dezenas de vezes as sessões daquela Casa, além de, mesmo sendo senador do PSDB, era quem sentava na mesa das negociações políticas com o ex-presidente Lula, para discutir as pautas políticas importantes do Senado.
Além disso, Eduardo Siqueira Campos, antes de ir para o Senado, foi o primeiro prefeito eleito de Palmas, deputado federal, vice-líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Secretário de Governo na segunda administração de Siqueira Campos, cargo que ocupa novamente.
A pressão dos deputados da oposição para colocar em votação as contas dos dois ex-administradores, foi muito grande em cima do presidente da Assembleia, deputado Sandoval Cardoso, por acreditarem que conseguiriam a aprovação favorável aos dois ex-governadores. Tanto que essa pressão foi exercida pelos próprios Marcelo Miranda e Carlos Gaguin. Então, não houve outro meio ao presidente, senão colocar na Ordem do Dia, a matéria para votação.
Os dois ex-governadores tinham tanta certeza da aprovação das contas, que foram acompanhar a votação, junto com as esposas, ex-secretários, amigos e correligionários e alguns “bate-paus”, lotando as galerias e demais dependências da Assembleia.
Sessão fúnebre
O presidente Sandoval Cardoso demonstrou durante todo o decorrer da sessão da Assembleia Legislativa, o seu equilíbrio emocional, não se deixando influenciar pela pressão dos presentes. Cerca de 80% dos deputados discursaram para se posicionarem sobre a matéria em apreciação. Depois dessa cena teatral a matéria foi colocada em votação. É bom lembrar aos leitores que o voto dos deputados, nesse tipo de matéria é secreto. Só aparece no painel eletrônico o resultado da apuração.
Ao ser mostrado para os presentes o resultado de 13 votos pela rejeição das contas contra nove pela aprovação, foi um vexame total, pois naquele instante, os deputados estaduais estavam inserindo os dois ex-governadores do Tocantins na lista dos ficha-sujas, ficando impedidos, de acordo com a nova legislação federal, de concorreram a qualquer cargo eletivo, pelo prazo de oito anos.
Dois Judas
Após o anúncio do placar de 13 a nove, os deputados partidários de Marcelo Miranda e Carlos Gaguin, num total de 11 usaram a palavra para declarar que seus votos tinham sido pela aprovação das contas. Mas como no placar só haviam nove votos deles, então, quem são os dois Judas? Esses deputados chegaram ao cúmulo de um espetáculo de verdadeiros artistas da Globo, pedindo até um perito para verificar o funcionamento do placar, acusando que havia erro. Verdadeiro espetáculo de novela das nove da Globo, pois queriam jogar em cima do placar as suas traições.
Na verdade, Marcelo Miranda não foi derrotado só pelo Palácio Araguaia. Ele foi derrotado pelo seu partido político, o PMDB e pelos partidos de “oposição”, onde os líderes partidários, em nenhum momento declararam apoio pela aprovação das contas dos dois ex-governadores. No fundo, se percebe que devem ter achado muito bom que as contas fossem rejeitadas e os dois políticos se tornarem inelegíveis, abrindo assim, espaço para que esses partidos e seus “donos”, possam construir uma outra candidatura ao governo do Tocantins, que não fosse Marcelo Miranda.
Um dos erros de Marcelo Miranda, foi o fato de que no momento em que precisava do partido, deixou transparecer através de várias matérias divulgadas em diversos veículos de comunicação do estado, o seu descontentamento com o PMDB, com parte dos deputados estaduais da agremiação. Depois que chegou de encontro realizado em Brasília, com a cúpula do partido, entre os quais o vice-presidente Michel Temmer e Raul Raupp, ele teria dado, segundo fontes, ultimato à cúpula do PMDB para que ela destituísse o diretório regional tirando o comando do partido, do deputado federal Júnior Coimbra, que é também primeiro vice-líder da Câmara dos Deputados.
No mesmo dia, também estiveram com a cúpula do PMDB o deputado federal Júnior Coimbra, presidente do partido, no Tocantins, o ex-governador biônico Carlos Gaguin e o empresário Dito do Posto. Para Michel Temmer e Raul Raupp, esses líderes políticos manifestam o interesse de apresentar um candidato ao governo do estado, que não Marcelo Miranda. Nesse instante, ficou evidente para a direção nacional do PMDB, que no Tocantins haviam dois PMDBs.
Quando voltou de Brasília, Marcelo Miranda começou a promover reuniões com liderenças políticas do Tocantins, entre os quais o prefeito de Palmas Carlos Amastha, com quem se reuniu por três vezes, com o secretário de Saúde de Palmas, empresário Nicolau Esteves, governadoriável do PT. Ele deixou vazar para toda a imprensa que não ficaria no PMDB, sob o comando do deputado federal Júnior Coimbra e com isso, toda a imprensa noticiou sua saída do partido.
Emissários do PMDB, enviados pelo presidente do partido Júnior Coimbra, procuraram Marcelo Miranda na tentativa de buscar uma conciliação. Tentativa em vão, pois Marcelo alegou que não tinha nenhuma pretensão de dialogar com Júnior Coimbra.
Um deputado estadual que iria votar pela aprovação das contas de Marcelo Miranda, teria se revoltado com o líder político, ao ficar sabendo que um “bate-pau”, do Brito Miranda, de Porto Nacional, estava dizendo, dentro da Assembleia Legislativa, que Marcelo Miranda iria derrotar os deputados de seu próprio partido, por estarem seguindo orientação política de Júnior Coimbra e do ex-governador “biônico” Carlos Gaguin. Esse deputado, então, achou por bem, mudar sua posição e cortar o mal pela raiz, tornando Marcelo Miranda inelegível por oito anos. “Se ele quer nos derrotar, então vamos cortar o mal pela raiz”, teria sido a sua posição.
Diante dos fatos acima mencionados, está evidente quem derrotou Marcelo Miranda não foi só o Palácio Araguaia, mas também o seu partido, o PMDB e os “amigos” dirigentes dos partidos de oposição. No fundo, essas lideranças torciam pela rejeição das contas de Marcelo, para que ficasse fora da disputa eleitoral, permanecendo apenas como simples cabo eleitoral.
Esse quadro político deixa evidente que não há mais clima para a permanência de Marcelo Miranda no PMDB, bem como do seu grupo de liderados. Está claro que uma vez publicado o resultado da votação, ele deverá recorrer da decisão para os níveis superiores. Essa briga política só terminará no Tribunal Superior Eleitoral, cujo resultado só será conhecido daqui vários anos, quando o pleito já terá ocorrido e Marcelo sofrido as suas consequências.
O Palácio Araguaia agradece os votos de condolências recebidos pelo ato fúnebre.