AS CARIDOSAS

Posted On Domingo, 12 Janeiro 2025 06:23
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1992. O Carnaval de Gurupi estava em um de seus anos mágicos. Grupos de amigos reuniam se em blocos pra se divertirem. Toda excentricidade era permitida. Um com uma caçamba basculante cheia d’água. Outro com um jumento a tiracolo onde quer que fosse. Outro com uma bandinha de música em cima de um jeep. Vários ao redor de um “jirico” puxando uma carretinha cheia de cerveja. E tome cerveja. Vários trios elétricos se encontravam na avenida Goiás, fervilhando de gente. Todos tinham sedes próprias, onde serviam se caldos, diuturnamente.

 

Um bloco, porém, monopolizava a atenção de todos, quando estava na avenida: As Caridosas. Cidadãos sérios e trabalhadores vestiam se de mulheres e se permitiam ao desbunde naqueles cinco dias épicos. Zé Reis, o alfaiate, era facilmente confundido com a quenga mais esculachada do cabaré do Babão. Cinei Miranda (in memorian), dono do laboratório de análises clínicas, era patrocinador e cedia a casa para a concentração, onde as maquiagens eram feitas. Esposas, filhas e netos ajudavam aqueles homens desajeitados nos trajes femininos, a se vestir, maquiar, colocar a peruca e calçar seus tamancos. Janio Fontoura, o mecânico, mal se equilibrava no salto 15. Divino, da O Rei das Meias, era só alegria. Sambaíba (in memorian), do antigo bar da Goiás com a 4, um dos mais animados. João Boca de Risco, Toim do Incra, Hélio Amorim(in memorian), Edinaldo Reis e muitos outros, se entregavam ao bundalelê inocente, que o reinado de Momo permitia. Velhos tempos, belos dias. Eu, amigo de muitos ali, me arrependo hoje de não ter vestido o vestido oferecido, por vergonha. Acompanhava a folia em todo o trajeto, extasiado com a ousadia daqueles senhores. Aqueles senhores ajudaram fazer a história do carnaval de Gurupi. São parte importante dessa epopéia de alegria e prazer. Eu tava lá, eu vi isso. Ah, quanta saudade...