O último recado enviado pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi tão colérico que fez até seus aliados mais fiéis se afastarem. A um parlamentar, ele avisou que chegou ao limite e ameaçou fazer delação premiada. Disse que tem material para “explodir” o mundo empresarial, a começar por gigantes do setor de carne, já abalados pela Operação Carne Fraca, deflagrada pela PF no último mês. Seus advogados, porém, continuam negando que ele tenha disposição em fazê-lo.
Quem acompanha de perto os desdobramentos da Lava Jato acredita que Cunha seguirá o exemplo de Duda Mendonça e tentará fechar acordo de colaboração com a PF, e não com os procuradores. Dizem ainda que ele e o corretor Lúcio Funaro, também preso, jogam juntos.
Da cadeia, Dirceu diz que delações de João Santana e sua mulher podem levar Lula e Dilma para prisão
Preso desde agosto de 2015, José Dirceu fez análises sobre o cenário político aos que o visitaram na cadeia recentemente. Sem traço de autopiedade, mais magro, mas com boa aparência, disse a aliados que o PT vem ignorando o risco de o ex-presidente Lula ser preso — cenário que ele considera provável, especialmente agora, com as delações do publicitário João Santana e sua mulher, Mônica Moura. Para Dirceu, Lula e Dilma Rousseff são os principais alvos da colaboração.
Dirceu disse a mais de um interlocutor que o PT deveria preparar, desde já, junto a movimentos sociais e grupos da sociedade civil, grandes manifestações de rua para fazer frente a qualquer investida da Justiça contra o ex-presidente.
Temer diz que 'não cometeu nenhum erro' no Planalto
O presidente Michel Temer (PMDB) avalia que não cometeu “nenhum erro” em quase 11 meses no comando do país. De acordo com o presidente, que concedeu entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, ele só teve “acertos” até agora.
“Eu acho que não cometi nenhum erro. Eu cometi acertos. E acertos derivados de muita coragem, com toda a franqueza. Até mais do que coragem, ousadia. Eu pratiquei atos, especialmente com o apoio do Congresso, que foram considerados ousados. E tivemos sucesso. Eu não creio que tenha praticado nenhum erro. Não consigo vislumbrar um equívoco praticado nesse governo”, concluiu Temer.
Ao ser questionado se isso não teria ocorrido nem mesmo no criticado discurso do Dia Internacional da Mulher, quando afirmou ter “convicção do quanto a mulher faz pela casa”, ele afirmou ter sido mal-interpretado. “Não me arrependo porque houve uma interpretação equivocada. Quem lesse o discurso por inteiro, verificaria”, afirmou.
Temer também rejeitou as críticas sobre a condução que deu ao caso Geddel Vieira Lima, que deixou o governo após ser acusado pelo então ministro da Cultura, Marcelo Calero, de pressionar pela liberação de um prédio de seu interesse em Salvador. “Equivocado foi alguém entrar na sala do presidente e gravá-lo”, disse, em referência à informação de que teria sido gravado por Calero.
Na entrevista, Temer foi questionado sobre o parecer do Ministério Público Eleitoral apontando que a chapa formada com Dilma Rousseff em 2014 recebeu dinheiro irregular. Ao ser perguntado se não teria se beneficiado dos recursos para estar hoje na presidência, o peemedebista lembrou que o documento não pede sua inelegibilidade, mas apenas a cassação da chapa.
“No tocante à arrecadação, o que eu quero ressaltar não é palavra minha, é a palavra do procurador eleitoral: o Temer, o vice-presidente, não teve absolutamente nenhuma participação nisso. Portanto, deve-se decretar a cassação da chapa, na opinião dele, por causa da incindibilidade, mas deve-se preservar a elegibilidade do atual presidente”, argumentou Temer, que se recusou a dizer se seria candidato em uma eleição indireta, caso fosse cassado mas não ficasse inelegível.
Na conversa, o presidente falou sobre a proximidade com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, e negou que isso gere qualquer tipo de suspeita quanto a uma possível parcialidade no julgamento da chapa. Ele ainda reconheceu o risco de instabilidade política por conta da divulgação das delações premiadas de executivos da Odebrecht.
“Há de preocupar sempre, não há dúvidas, mas elas (as investigações) não podem cessar em função disso. Senão vão dizer que estamos contra a Lava Jato”, disse.