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Governo Lula parte para embate ideológico e antecipa disputa eleitoral de 2026 após revés no Congresso

Posted On Sexta, 04 Julho 2025 03:40
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Pressionado pelo Congresso e com popularidade em queda, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu intensificar o embate ideológico, em um movimento que antecipa a disputa eleitoral de 2026 e, ao mesmo tempo, arrisca agravar tensões com o Congresso e ampliar divisões na já fragmentada base de apoio

 

 

Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito

 

 

Segundo fontes ouvidas pela Reuters, há um sentimento dentro do Executivo de que alguns partidos e parlamentares já estão de olho nas eleições e tentam fazer Lula sangrar, e que o governo não pode abdicar da disputa, daí a necessidade de responder com a defesa do projeto.

 

 

"O governo não pode abrir mão até do seu discurso", disse uma fonte do Palácio do Planalto. "Não é um embate com o Congresso, mas é uma disputa ideológica."

 

Uma fonte do centrão no Congresso admitiu que há parte do Congresso que vê hoje a oportunidade de desgastar o governo, e levar um Lula mais fraco até a eleição.

 

O tom de confronto foi elevado nos últimos dias em torno da pauta econômica, com a decisão do Congresso, capitaneada pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta (PP-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP), de derrubar o decreto presidencial que elevava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

 

Em reação, Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passaram a adotar o embate ideológico em seus discursos, ressaltando as ideias de justiça tributária e o embate entre o "andar de cima e o andar de baixo".

 

 

"Vamos continuar fazendo justiça social. Pode gritar, pode falar, mas temos que fazer justiça no Brasil. Não podemos nos intimidar na busca de justiça", disse Haddad esta semana, em um discurso que foi visto, por aliados e opositores, como recheado com tons de campanha -- o que seus assessores mais próximos negaram.

 

Lula foi na mesma linha, reclamando que há uma "rebelião" quando se fala que quem ganha mais de R$1 milhão por ano precisa "pagar um pouco mais" para viabilizar a proposta do governo de isentar de imposto de renda quem ganha até R$5 mil por mês -- que está em tramitação no Congresso.

 

"Ninguém está querendo tirar nada de ninguém. Só estamos querendo tirar alguns privilégios de alguns para dar um pouco aos outros", disse o presidente.

 

O governo garante que não existe qualquer intenção de abrir uma batalha com o Congresso, mesmo depois de ter ido à Justiça contra a derrubada do IOF. A questão, disse uma fonte, é que o Executivo não pode ficar encurralado e precisa defender suas teses perante a opinião pública.

 

"A gente está defendendo as nossas teses, mas isso não significa que vamos abrir uma guerra com o Congresso Nacional. Sabemos que tem que ter ajuste fiscal, entendemos que tem que ter, mas não às custas das pessoas mais pobres", disse o presidente do PT, senador Humberto Costa (PE).

 

"HUGO NEM SE IMPORTA"

 

 

Nas redes sociais, apoiadores do governo, inclusive petistas, dispararam vídeos feitos por inteligência artificial com críticas a parlamentares que são acusados de estarem trabalhando pelos ricos. Um dos vídeos, em que o presidente da Câmara é representado como "Hugo Nem se Importa" em um jantar nababesco com empresários, obteve milhares de visualizações.

 

Um deputado próximo a Motta admitiu que os vídeos repercutiram negativamente entre os parlamentares, que não querem ser vistos como defensores de ricos em detrimento dos pobres. Com isso, abriu-se uma janela de distensionamento da relação entre os dois lados.

 

Da parte do governo, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), foram às redes sociais em uma espécie de desagravo a Motta, uma vez que há uma série de projetos de interesse do governo em tramitação no Congresso, como a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$5 mil -- uma das bandeiras de campanha de Lula em 2022 -- e propostas de ajuste das contas públicas, como a redução de benefícios fiscais.

Da parte de Motta e Alcolumbre, ambos indicaram em falas públicas ou nos bastidores que querem conversar e manter pontes de diálogo.

 

Na quarta-feira, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, esteve no gabinete do presidente do Senado para tratar de agendas de interesse do governo.

 

No encontro, segundo uma fonte ligada ao senador, Alcolumbre aproveitou para dizer que o Congresso sempre esteve de portas abertas ao diálogo e que o Legislativo não pode virar "inimigo do povo".

 

No mesmo dia, Alcolumbre articulou a aprovação da medida provisória que amplia o uso do Fundo Social do Pré-Sal, uma das prioridades do governo. Após a votação, ele depois conversou com o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), e mostrou que não tem interesse em confronto, defendeu o fim dos ataques ao Legislativo e que está disposto a conversar com Lula, conforme uma fonte ligada a Randolfe.

 

"Não interessa a nenhum dos lados continuar esse embate", disse essa fonte.

 

O deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA) também negou que haja uma intenção deliberada do Congresso de enfraquecer o governo com objetivos eleitorais, mas reconheceu que "alguns partidos de oposição" trabalham para desgastar o governo.

 

"O grande problema do governo é que como não tem maioria no Congresso não quer conversar com quem pensa diferente, eles acham que estão certos, mas não é assim", disse.

 

"Se o governo começar a fazer discursos de nós contra eles, rico contra pobre e que Congresso não está ajudando, não é verdadeiro e pode ser pior", alerta.

 

 

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