O fórum se tornou um evento tradicional no calendário político brasileiro, no qual os principais atores políticos se deslocam para Portugal e participam de palestras e eventos sociais. A diferença é que em Lisboa é muito mais difícil para a imprensa presenciar e noticiar o que acontece, observa Bilenky
Por José Roberto de Toledo, Thais Bilenky - UOL
A dinâmica do evento revela uma estrutura hierárquica complexa, com diferentes níveis de exclusividade. "O Fórum de Lisboa é dividido em castas", conta Bilenky, descrevendo como existem eventos oficiais e uma programação paralela com coquetéis, jantares, almoços e eventos exclusivos. Um exemplo emblemático foi o jantar oferecido pelo BTG Pactual, banco de André Esteves, no restaurante Suba, recomendado pelo Guia Michelin.
A exclusividade deste jantar foi tal que nem todos os participantes da programação oficial do fórum sabiam de sua existência. Um evento "top AAA", brinca José Roberto de Toledo no podcast.
No centro das negociações estão figuras-chave do cenário político brasileiro. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, ex-presidentes da Câmara e do Senado, além de Hugo Motta, sucessor de Lira, participam de jantares e eventos exclusivos com Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. É nesse contexto que personagens importantes dos três poderes discutem desde emendas parlamentares até indicações para agências reguladoras e cargos de estatais.
O governo Lula, porém, tem representação limitada nessas conversas decisivas. "Não tem nenhum representante de primeiro time do governo", observa Toledo, destacando que apenas Jorge Messias, da Advocacia Geral da União, e o deputado Odair Cunha, representam o Palácio do Planalto. "Não está lá o ministro da Fazenda, não está lá o ministro chefe da Casa Civil, não está nem sequer a Gleisi Hoffmann", complementa.
As negociações em Lisboa têm impacto direto na disputa em torno do decreto que aumenta o IOF, que foi derrubado pelo Congresso através de um PDL (Projeto de Decreto Legislativo). O Congresso, no entanto, pode reagir diante da ofensiva do governo se fizer avançar o projeto de anistia, que ficou adormecido em meio aos últimos embates entre Legislativo e Executivo.
A estratégia do governo de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para derrubar o PDL também foi calculada. "O governo só entrou no Supremo depois que uma ação do PSOL contra esse PDL já tinha sido distribuída para o Alexandre de Moraes", explica Bilenky.
O que está em jogo vai além do decreto do IOF. As conversas em Lisboa buscam recuperar a governabilidade perdida, mas de forma mais tortuosa do que uma simples discussão sobre alíquotas. "A defesa da Câmara dos Deputados não vai ser feita pelo advogado da Câmara, lá no Supremo, junto ao Alexandre de Moraes, no Plenário do Tribunal. Já está sendo feita nos jantares lisboetas", analisa Toledo.
O presidente Lula deixou claro que considera a questão crucial, afirmando que se ele não fosse ao Supremo, perderia a governabilidade porque derrubaram um PDL. A lógica por trás da derrubada do decreto, para Toledo, foi apenas mostrar para Lula que ele não manda mais.
Enquanto isso, o Congresso mantém suas cartas na manga, incluindo não apenas o projeto de anistia, mas também o marco civil da internet, com projetos patrocinados pelas redes sociais para mudar o entendimento selado pelo Supremo na semana passada.
Operador de TI da C&M foi preso pela Polícia Civil de São Paulo e confessou crime
Por Elijonas Maia
A Divisão de Combate a Crime Cibernético aponta que, no decorrer das investigações, foi possível identificar que um funcionário da empresa C&M, que custodia/acautela transações via PIX entre a empresa vítima BMP e o Banco Central, estaria envolvido neste esquema, facilitando que demais indivíduos da organização realizassem transferências eletrônicas em massa.
Com base no caminho do dinheiro e na senha de acesso do operador de TI João Nazareno Roque, a PCSP o localizou e o prendeu na noite desta quinta-feira (3), na capital paulista. Na casa dele, a polícia apreendeu equipamentos eletrônicos que devem ajudar na investigação.
A Justiça também determinou bloqueio no valor de R$ 270 milhões de uma conta que teria sido a que recebeu parte dos valores desviados.
A polícia diz que o detido confessou ter sido aliciado por outros indivíduos e os auxiliou a ingressarem no sistema e realizarem as solicitações de transferências via PIX diretamente ao Banco Central.
O Banco Central esclareceu em nota que nem a C&M nem os seus representantes e empregados atuam como seus terceirizados ou com ele mantêm vínculo contratual de qualquer espécie. “A empresa é uma prestadora de serviços para instituições provedoras de contas transacionais”, destacou.
A empresa se manifestou por nota. Veja na íntegra:
"A C&M Software informa que segue colaborando de forma proativa com as autoridades competentes nas investigações sobre o incidente ocorrido em julho de 2025.
Desde o primeiro momento, foram adotadas todas as medidas técnicas e legais cabíveis, mantendo os sistemas da empresa sob rigoroso monitoramento e controle de segurança.
A estrutura robusta de proteção da CMSW foi decisiva para identificar a origem do acesso indevido e contribuir com o avanço das apurações em curso.
Até o momento, as evidências apontam que o incidente decorreu do uso de técnicas de engenharia social para o compartilhamento indevido de credenciais de acesso, e não de falhas nos sistemas ou na tecnologia da CMSW.
Reforçamos que a CMSW não foi a origem do incidente e permanece plenamente operacional, com todos os seus produtos e serviços funcionando normalmente.
Em respeito ao trabalho das autoridades e ao sigilo necessário às investigações, a empresa manterá discrição e não se pronunciará publicamente enquanto os procedimentos estiverem em andamento.
A CMSW reafirma seu compromisso com a integridade, a transparência e a segurança de todo o ecossistema financeiro do qual faz parte princípios que norteiam sua atuação ética e responsável ao longo de 25 anos de história."
Nova medida amplia gratuidade para famílias do CadÚnico e traz descontos adicionais, beneficiando cerca de 60 milhões de brasileiros
Com G1
A nova tarifa social de energia elétrica, que prevê gratuidade para famílias beneficiárias do Cadastro Único (CadÚnico) e que tenham consumo mensal de até 80 kWh, passa a valer neste sábado (5).
A MP foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em maio. Câmara e Senado terão de aprovar o texto em até 120 dias, a contar da publicação do ato. Caso a MP não seja chancelada, as mudanças perderão a validade.
Segundo dados do governo, cerca de 55 milhões de brasileiros serão beneficiados com desconto e 60 milhões com a isenção na conta de luz.
Nesta reportagem, você vai saber mais detalhes sobre o que está previsto na MP. Veja algumas perguntas e respostas abaixo:
Quem tem direito à tarifa social ampliada
De acordo com a nova MP, terão direito à tarifa social famílias beneficiárias do CadÚnico com renda até meio salário mínimo per capita, idosos com 65 anos ou mais e pessoas com deficiência inscritas no Benefício de Prestação Continuada (BPC), além de comunidades indígenas e quilombolas do CadÚnico. Também estão inclusas famílias em sistemas isolados com geração offgrid.
Como funciona atualmente e o que muda
Até então, apenas indígenas e quilombolas tinham gratuidade na conta de luz. Para famílias de baixa renda cadastradas no CadÚnico, o desconto podia chegar a 65% da conta, dependendo do consumo. Com a MP, essa regra se amplia para garantir a gratuidade para mais beneficiários, atingindo aproximadamente 55 milhões de brasileiros beneficiados com descontos e cerca de 60 milhões com a isenção total.
Implicações econômicas e sociais
O governo estima um custo de R$ 3,6 bilhões anuais com a isenção da tarifa, valor que será compensado com a abertura do mercado de energia de baixa tensão e estratégias de reequilíbrio do setor. Os benefícios da nova medida devem ajudar na redução da vulnerabilidade energética de famílias de baixa renda, promovendo maior inclusão social.
Diferença entre isenção e desconto na tarifa de energia
A tarifa social amplia a gratuidade para famílias com consumo até 80 kWh, enquanto o desconto na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) reduz em até 12% o valor para famílias com consumo de até 120 kWh, que possuem renda entre meio e um salário mínimo. A CDE é responsável por cerca de 12% da conta de luz, refletindo o valor do subsídio no preço final.
Abertura do mercado de baixa tensão e novos direitos do consumidor
Outro avanço previsto na MP é a abertura do mercado livre de energia para todos os consumidores a partir de 2026. Inicialmente, em agosto de 2026, empresas industriais e comerciais de grande porte poderão escolher seus fornecedores. A partir de dezembro de 2027, essa possibilidade será estendida a todos os consumidores residenciais e pequenos estabelecimentos.
Propostas para equilibrar o setor elétrico
O governo também anunciou medidas para equilibrar as contas do setor, incluindo a inclusão de consumidores livres na base de adquirentes de energia das usinas Angra 1 e 2, além de ajustes na distribuição de encargos e limites na autoprodução de energia, buscando distribuir os custos de forma mais justa entre os consumidores.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, o objetivo com essas ações é garantir a sustentabilidade financeira do setor elétrico, ao mesmo tempo em que amplia o acesso à energia para as populações mais vulneráveis.
Pressionado pelo Congresso e com popularidade em queda, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu intensificar o embate ideológico, em um movimento que antecipa a disputa eleitoral de 2026 e, ao mesmo tempo, arrisca agravar tensões com o Congresso e ampliar divisões na já fragmentada base de apoio
Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
Segundo fontes ouvidas pela Reuters, há um sentimento dentro do Executivo de que alguns partidos e parlamentares já estão de olho nas eleições e tentam fazer Lula sangrar, e que o governo não pode abdicar da disputa, daí a necessidade de responder com a defesa do projeto.
"O governo não pode abrir mão até do seu discurso", disse uma fonte do Palácio do Planalto. "Não é um embate com o Congresso, mas é uma disputa ideológica."
Uma fonte do centrão no Congresso admitiu que há parte do Congresso que vê hoje a oportunidade de desgastar o governo, e levar um Lula mais fraco até a eleição.
O tom de confronto foi elevado nos últimos dias em torno da pauta econômica, com a decisão do Congresso, capitaneada pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta (PP-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP), de derrubar o decreto presidencial que elevava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Em reação, Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passaram a adotar o embate ideológico em seus discursos, ressaltando as ideias de justiça tributária e o embate entre o "andar de cima e o andar de baixo".
"Vamos continuar fazendo justiça social. Pode gritar, pode falar, mas temos que fazer justiça no Brasil. Não podemos nos intimidar na busca de justiça", disse Haddad esta semana, em um discurso que foi visto, por aliados e opositores, como recheado com tons de campanha -- o que seus assessores mais próximos negaram.
Lula foi na mesma linha, reclamando que há uma "rebelião" quando se fala que quem ganha mais de R$1 milhão por ano precisa "pagar um pouco mais" para viabilizar a proposta do governo de isentar de imposto de renda quem ganha até R$5 mil por mês -- que está em tramitação no Congresso.
"Ninguém está querendo tirar nada de ninguém. Só estamos querendo tirar alguns privilégios de alguns para dar um pouco aos outros", disse o presidente.
O governo garante que não existe qualquer intenção de abrir uma batalha com o Congresso, mesmo depois de ter ido à Justiça contra a derrubada do IOF. A questão, disse uma fonte, é que o Executivo não pode ficar encurralado e precisa defender suas teses perante a opinião pública.
"A gente está defendendo as nossas teses, mas isso não significa que vamos abrir uma guerra com o Congresso Nacional. Sabemos que tem que ter ajuste fiscal, entendemos que tem que ter, mas não às custas das pessoas mais pobres", disse o presidente do PT, senador Humberto Costa (PE).
"HUGO NEM SE IMPORTA"
Nas redes sociais, apoiadores do governo, inclusive petistas, dispararam vídeos feitos por inteligência artificial com críticas a parlamentares que são acusados de estarem trabalhando pelos ricos. Um dos vídeos, em que o presidente da Câmara é representado como "Hugo Nem se Importa" em um jantar nababesco com empresários, obteve milhares de visualizações.
Um deputado próximo a Motta admitiu que os vídeos repercutiram negativamente entre os parlamentares, que não querem ser vistos como defensores de ricos em detrimento dos pobres. Com isso, abriu-se uma janela de distensionamento da relação entre os dois lados.
Da parte do governo, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), foram às redes sociais em uma espécie de desagravo a Motta, uma vez que há uma série de projetos de interesse do governo em tramitação no Congresso, como a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$5 mil -- uma das bandeiras de campanha de Lula em 2022 -- e propostas de ajuste das contas públicas, como a redução de benefícios fiscais.
Da parte de Motta e Alcolumbre, ambos indicaram em falas públicas ou nos bastidores que querem conversar e manter pontes de diálogo.
Na quarta-feira, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, esteve no gabinete do presidente do Senado para tratar de agendas de interesse do governo.
No encontro, segundo uma fonte ligada ao senador, Alcolumbre aproveitou para dizer que o Congresso sempre esteve de portas abertas ao diálogo e que o Legislativo não pode virar "inimigo do povo".
No mesmo dia, Alcolumbre articulou a aprovação da medida provisória que amplia o uso do Fundo Social do Pré-Sal, uma das prioridades do governo. Após a votação, ele depois conversou com o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), e mostrou que não tem interesse em confronto, defendeu o fim dos ataques ao Legislativo e que está disposto a conversar com Lula, conforme uma fonte ligada a Randolfe.
"Não interessa a nenhum dos lados continuar esse embate", disse essa fonte.
O deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA) também negou que haja uma intenção deliberada do Congresso de enfraquecer o governo com objetivos eleitorais, mas reconheceu que "alguns partidos de oposição" trabalham para desgastar o governo.
"O grande problema do governo é que como não tem maioria no Congresso não quer conversar com quem pensa diferente, eles acham que estão certos, mas não é assim", disse.
"Se o governo começar a fazer discursos de nós contra eles, rico contra pobre e que Congresso não está ajudando, não é verdadeiro e pode ser pior", alerta.
Em meio aos debates sobre o futuro da energia no mundo, o vice-presidente do Senado e presidente do PL Tocantins, senador Eduardo Gomes, participou nesta quinta-feira, 3, em Lisboa (Portugal), do painel “Transição e integridade no mercado de energia: desafios e soluções”
Da Assessoria
A discussão integrou a programação do Lisboa Connection Diálogos, promovido pela empresa Amado Mundo, com apoio do Instituto Brasileiro de Transição Energética (INTE).
Vice-presidente do Senado Eduardo Gomes debate integridade e transição energética em evento internacional em Lisboa
O debate reuniu autoridades de diferentes esferas, como o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues; o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Vital do Rêgo; e o ministro das Cidades, Jader Filho. A mediação foi conduzida pelo jornalista Guilherme Amado.
Durante sua participação, Eduardo Gomes ressaltou a importância de consolidar marcos regulatórios confiáveis no processo de transição energética. “O Brasil tem tudo para liderar a transição global rumo a uma matriz limpa e sustentável, mas isso exige segurança jurídica, integridade institucional e uma governança que estimule a confiança dos investidores e o compromisso com resultados sociais”, destacou.
O senador está em Portugal participando do XII Fórum de Lisboa, evento que reúne uma série de encontros com lideranças internacionais e especialistas nas áreas de economia, tecnologia, energia e meio ambiente.