Pai-avô

Posted On Segunda, 29 Janeiro 2024 11:02
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Descobri, surpreso, que vou ser pai mais uma vez. Deveria estar acostumado com esse tipo de notícia, já que este será meu sexto filho. No entanto, desta vez, a experiência tem um significado diferente, visto que já sou um quinquagenário

 

 

Por Rubens Gonçalves*

 

 

Levei vários dias para assimilar completamente a notícia da gravidez da minha esposa. O motivo desse lapso, suponho, está ligado ao autoengano, um mecanismo mental que, em sua tentativa de proteção, nos impede de compreender, de imediato, toda a amplitude da informação recebida, de forma semelhante ao que ocorre quando enfrentamos a perda de um ente querido. A compreensão total e imediata poderia nos levar à loucura.

 

Assimilada a informação, comecei a refletir sobre os desafios de criar mais um filho: estar pronto para acordar de madrugada com seu choro, embalá-lo nos braços para que volte a dormir, acompanhá-lo nas consultas médicas... Não tenho mais a mesma energia dos trinta e poucos anos, época em que nasceu a última filha.

 

Começo a temer, também, que já não tenha o mesmo senso de humor que caracterizava a infância das primeiras crianças. Em outras palavras, agora estou mais impaciente, estressado e rabugento. Por outro lado, ao contrário dos primeiros filhos, não estou ansioso para saber o sexo do bebê. Mas, dado que a maioria das "crianças" é do sexo feminino, suspeito que teria dificuldades em lidar com meninos.

 

Com elas, eu costumava assistir a desenhos da Barbie e Tinker Bell, brincar de casinha, esconde-esconde... Portanto, não sei se saberia como participar das brincadeiras típicas de meninos: futebol, pipa, cabo de guerra... Como diziam meus pais, quando questionados sobre a preferência em relação ao sexo do próximo filho: “que venha com saúde”.

 

Seja como for, finalmente assimilei a notícia. Estou feliz por ser "pai-avô" dessa nova criança e espero, sinceramente, não estragá-la demais. Afinal, parece que é função dos avós "mimar" os netos. A tarefa de educar cabe aos pais. Então, que eu possa amá-la como avô, mas cumprir o papel de educar como pai.

 

*Rubens Gonçalves, jornalista e Coordenador de Jornalismo da DICOM/ALETO