Imprimir esta página

PANORAMA POLÍTICO: TOCANTINS EM MODO PRÉ-ELEITORAL

Posted On Segunda, 17 Novembro 2025 06:15
Avalie este item
(0 votos)

O processo sucessório de 2026 no Tocantins já saiu dos bastidores e tomou conta das conversas em cidades, distritos, diretórios partidários e nos dois poderes Executivo e Legislativo, tanto em Brasília quanto no Estado. À medida que o mês de dezembro se aproxima, partidos médios e pequenos ainda patinam na formatação de suas nominatas para deputado estadual e federal, enquanto as articulações para composição das chapas majoritárias ganham velocidade. Além de definir candidaturas ao governo, é preciso fechar as chapas ao Senado, com duas vagas em disputa e suplentes que, em muitos casos, valem tanto quanto o titular na hora de firmar compromissos políticos.

 

 

Por Edson Rodrigues e Edivaldo Rodrigues 

 

 

Nas Câmaras Municipais, o cenário aponta para um comportamento mais independente em relação a prefeitos e prefeitas. A tendência é que cada vereador faça sua própria aposta em 2026, salvo raras exceções em que o gestor municipal realmente compartilha poder e permite que os parlamentares sejam parte efetiva da administração, algo incomum nas gestões municipais. Esse distanciamento relativo abre espaço para negociações diretas entre vereadores e lideranças estaduais, embaralhando o peso tradicional dos grupos políticos nos municípios.

 

Dorinha e Laurez no centro do tabuleiro

 

No campo majoritário, o jogo se organiza, hoje, em torno de dois polos: a senadora Professora Dorinha Seabra, que se consolida como nome competitivo da oposição, e o governador em exercício Laurez Moreira, que tenta transformar a passagem pelo Palácio Araguaia em capital política suficiente para disputar a reeleição. É a partir desses dois eixos que se desenham as pretensões ao Senado e as composições de chapa, numa dança em que cada movimento altera o equilíbrio de forças.

 

Dorinha chega à disputa com a credencial de ficha limpa e projeção nacional, sobretudo na pauta da educação. No Congresso, construiu reputação técnica e política; no Tocantins, vem costurando apoios de vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais e lideranças regionais. Hoje, aparece na dianteira das principais leituras de intenção de voto e é tratada como o nome a ser alcançado. Ao seu lado, um aliado de peso: o senador Eduardo Gomes, vice-presidente do Senado, que busca a reeleição e funciona como um dos pilares da sua chapa.

 

Eduardo Gomes em alta

 

Eduardo Gomes é reconhecido pelo perfil conciliador e pela capacidade de transformar milhões em obras, convênios e ações espalhadas pelos 139 municípios do Tocantins. A boa notícia para ele é que esse histórico está na memória de prefeitos e lideranças. A notícia menos confortável é que o eleitor quer mais do que números apresentados de longe: cobra presença física, olho no olho, explicação clara sobre o que pretende fazer no próximo mandato. A expectativa é de que, a partir de janeiro, o senador deixe o papel de articulador em Brasília e assuma com mais intensidade o de candidato em campo, rodando o Estado, entregando obras e reforçando o elo com o projeto de Dorinha ao governo.

 

Gaguim no fio da navalha

 

No mesmo campo político, o deputado Carlos Gaguim ocupa um espaço delicado. Anunciado como pré-candidato ao Senado, ainda não conseguiu fazer a pré-campanha decolar. Falta mostrar competitividade real, densidade eleitoral e musculatura política que justifiquem seu lugar em uma chapa que já tem, de um lado, uma candidata forte ao governo e, de outro, um senador com mandato e estrutura consolidada. Se, nos próximos 40 dias, não reorganizar suas articulações, ampliar apoios e demonstrar viabilidade, corre o risco de ser enxergado mais como peso do que como reforço. E, nesse cenário, a substituição de seu nome deixa de ser hipótese distante e passa a ser movimento natural nas conversas de bastidor.

 

Laurez entre a caneta e a interinidade

 

 

Do lado do governo, Laurez Moreira comanda o Estado em uma conjuntura delicada. Assume em meio ao afastamento de Wanderlei Barbosa e tenta transformar a interinidade em ativo político. Tem, a seu favor, a caneta, o controle da máquina, a possibilidade de moldar o orçamento de 2026 e a chance de construir uma relação direta com os 139 municípios, se optar por uma gestão municipalista e pragmática. Mas carrega, ao mesmo tempo, o peso de não ser titular. A interinidade traz insegurança política e jurídica, limita decisões mais ousadas e faz com que parte dos aliados ainda o veja como alguém “de passagem”. A candidatura à reeleição está em construção, mas cercada por dúvidas sobre o quanto essa condição provisória permitirá consolidar sua autoridade.

 

Irajá e Vicentinho em sintonia com o governo

 

 

Na chapa de Laurez, o desenho do Senado está praticamente dado: o senador Irajá Abreu busca a reeleição, e o deputado federal Vicentinho Júnior aparece como outro nome forte para a segunda vaga. Irajá construiu, ao longo do mandato, uma capilaridade robusta com base na distribuição de emendas impositivas aos municípios, garantindo presença em várias regiões, interlocução com prefeitos e um discurso de entrega de obras e recursos. Filiado ao PSD, integra o núcleo duro do governo em exercício e é um dos pilares da base aliada.

 

Ao seu lado, a ex-senadora Kátia Abreu segue como articuladora influente, especialmente na região sudeste do Estado, onde intensifica agendas, costura apoios e pactos que fortalecem o projeto de reeleição de Irajá e as pretensões do grupo, que inclui a candidatura de Iratã Abreu a deputado federal. Kátia Abreu, com grande influência com o presidente da República e com os ministros, é uma mulher forte e muito tem a contribuir na base de apoio a gestão Laurez Moreira em Brasília. Nesse cenário, o governo Laurez se ancora em um bloco que combina mandato, estrutura e experiência política.

 

Orçamento e cobrança de respostas

 

Para sustentar esse arranjo, Laurez precisa mostrar a que veio. A área social é o ponto mais sensível: depois dos episódios envolvendo desvio de recursos na compra de cestas básicas, a sociedade espera respostas concretas. Não basta discurso; é preciso apresentar programas claros para 2026, explicar o que a Secretaria de Ação Social vai fazer, quais políticas chegarão à população mais vulnerável e como o orçamento do próximo ano será usado para virar a página dos escândalos e construir uma imagem de gestão responsável. O orçamento ainda “virgem” de 2026 é, ao mesmo tempo, desafio e oportunidade.

 

Vicentinho em expansão

 

 

Nesse contexto, Vicentinho Júnior ganha espaço como um dos protagonistas na corrida ao Senado. Com presença crescente na região sudeste, no Bico do Papagaio e em importantes colégios eleitorais, vem ampliando base e consolidando lideranças. Seu desafio é menos de discurso e mais de estrutura: manter esse time político “abastecido” ao longo da pré-campanha, com presença, articulação e organização. Se conseguir segurar esse ritmo até o período oficial de campanha, tende a se firmar como um dos nomes mais competitivos do campo governista.

 

Wanderlei Barbosa

 

 

Enquanto Laurez move suas peças, o nome de Wanderlei Barbosa continua rondando o debate político. Mesmo afastado, o ex-governador permanece vivo no imaginário de boa parte do eleitorado e na base da Assembleia Legislativa. Não há clima para impeachment: a maioria dos deputados continua fiel a Wanderlei, o que congelou, até agora, qualquer avanço real sobre os cinco pedidos protocolados. Essa blindagem, porém, tem custo. Parlamentares sofrem desgaste diante da opinião pública, que aponta resistência do Legislativo em enfrentar o tema, e o pré-julgamento popular sobre o caso só aumenta.

 

Diante disso, ganha força, nos bastidores, a leitura de que Wanderlei precisa de uma reflexão profunda sobre o futuro. Uma renúncia negociada aparece como alternativa possível para descomprimir a Assembleia, permitir que o ex-governador percorra o Estado defendendo seu legado de duas gestões e reorganizar sua imagem para projetos posteriores. Seria uma tentativa de transformar uma situação de desgaste em ponto de partida para uma nova etapa política.

 

No curtíssimo prazo, a comunicação é o calcanhar de Aquiles ou a grande chance da gestão Laurez. Com prazo potencialmente limitado a 180 dias, prorrogáveis por mais 180, e com as restrições legais de um ano eleitoral, o sucesso político do governo em exercício depende de uma comunicação integrada, transparente e eficiente. Será necessário explicar decisões, mostrar resultados e construir a imagem de uma gestão que dialoga com os municípios e age com planejamento. Sem isso, o risco é ficar com o rótulo de “governador de passagem”, sem identidade própria nem narrativa consistente.

 

Cenário aberto

 

 

Apesar de Dorinha liderar as projeções e Laurez estar com a caneta na mão, nada está consolidado para 2026. A segunda vaga ao Senado na chapa da senadora segue em aberto, a viabilidade de Carlos Gaguim ainda é uma incógnita, a aliança entre Laurez, Irajá e Vicentinho precisa mostrar fôlego até a eleição, e o desfecho da situação de Wanderlei pode mexer de forma decisiva com o tabuleiro. Some-se a isso o movimento de vereadores e lideranças locais, cada vez menos submissos a decisões de cima para baixo.

 

Até janeiro, a fotografia política do Tocantins tem tudo para mudar: diretórios podem trocar de comando, alianças podem ser refeitas, candidaturas podem surgir ou desaparecer, e chapas majoritárias podem ser redesenhadas de forma brusca. O que já se pode afirmar, com segurança, é que o Estado entra em 2026 com uma disputa aberta para governo e Senado e com um eleitorado mais atento à coerência, ao desempenho e, principalmente, à capacidade de entrega de cada personagem que se coloca em jogo.

 

 

Última modificação em Segunda, 17 Novembro 2025 06:31
{loadposition compartilhar} {loadmoduleid 252}
O Paralelo 13

Mais recentes de O Paralelo 13

Itens relacionados (por tag)