Ele tentou romper um bloqueio com uma retroescavadeira
Com Agências
O senador Cid Gomes foi baleado com um tiro com bala de borracha, na tarde desta quarta-feira durante um protesto de policiais que reivindicam aumento salarial em Sobral, no interior do Ceará. Não há confirmação oficial se Cid foi atingido por bala de borracha ou por arma de fogo. Segundo a assessoria do parlamentar, o disparo foi feito por arma de fogo. A prefeitura de Sobral informou que o senador foi atingido por munição de uma pistola calibre .40.
Logo depois de ser atingido, Cid foi encaminhado ao Hospital do Coração de Sobral, que informou que o senador foi atingido na clavícula e no pulmão esquerdo. Ele ainda seria transferido para a Santa Casa do município. Ele foi atingido também por estilhaços de vidro do retroescavadeira usada por ele para tentar atingir os manifestantes. Nas redes sociais, vídeos mostram o senador consciente e com manchas de sangue no rosto e na camisa.
À imprensa, a assessoria de Cid reiterou em nota que ele foi atingido por arma de fogo: "O senador Cid Gomes foi baleado por uma arma de fogo na tarde desta quarta-feira (19), em Sobral. Neste momento, o senador passa por estabilização no Hospital do Coração de Sobral e será transferido para a Santa Casa de Misericórdia de Sobral", diz nota da assessoria do senador.
Minutos antes de subir na retroescavadeira, Cid utilizou um megafone para se comunicar com os grevistas e deu um prazo para que eles deixassem o local:
— Vocês tem cinco minutos para pegar os seus parentes, as suas esposas, os seus filhos e sair daqui em paz. Cinco minutos, nenhum a mais — disse o senador.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará informou que o Núcleo de Homicídios da Delegacia Regional de Sobral da Polícia Civil do Estado do Ceará investiga o crime.
O ex-ministro Ciro Gomes, irmão de Cid, se manifestou no Twitter sobre o ocorrido. Ele afirmou que o senador "foi vítima de dois tiros de arma de fogo por parte de policiais militares amotinados e mascarados" e que "as informações médicas são de que as balas não atingiram órgãos vitais apesar de terem mirado seu peito esquerdo". Ciro disse ainda que espera que as autoridades responsáveis "apresentem prontamente os marginais que tentaram este homicídio bárbaro às penas da lei".
O senador, que está licenciado do cargo desde dezembro, pilotava a retroescavadeira e tentava furar o bloqueio feitos pelos policiais no centro de Sobral. Durante a confusão, tiros foram disparados na direção de Cid e os vidros do veículo foram estilhaçados. Pessoas que acompanhavam a operação gritavam desesperadas.
Os policiais e bombeiros militares tentam aumento de salário desde dezembro do ano passado. O governo anunciou um pacote de reajuste no final de janeiro deste ano, que foi rechaçado pelas categorias. Depois de mais uma oferta de aumento, os policiais decidiram não só recusar o aumento como passaram a realizar atos pelo estado. Batalhões da PM chegaram a ser atacados por homens encapuzados.
Mais cedo, Cid fez uma postagem em suas redes sociais para pedir apoio da população do município para acabar com a manifestação dos policiais grevistas.
“Eu vim aqui defender a paz e a tranquilidade do povo de Sobral. Ninguém será chantageado, ninguém deixará de trabalhar, de abrir suas portas e caminhar com tranquilidade em Sobral. Uma coisa é se amotinarem em um local, outra são os próprios que deveriam defender a paz e a tranquilidade serem eles próprios os incitadores da violência. Eu tô aqui desarmado, e vou enfrentar quem armado estiver, sob o custo da minha vida. Mas ninguém vai fazer o que esses bandidos estão fazendo aqui em Sobral”.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, acionou o ministro Sergio Moro (Justiça) e o governador do Ceará, Camilo Santana, para tratar do episódio. Ele pediu informações sobre a situação do parlamentar e cobrou que a segurança de Cid Gomes fosse garantida.
Em nota, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública informou que enviou agentes da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal para o local. A assessoria da pasta disse que "está acompanhando a situação no Ceará e analisando as providências que podem ser tomadas".
O município de Sobral é o berço político da família Gomes. A cidade é o reduto eleitoral do senador e do seu irmão Ciro Gomes, ex-ministro e ex-candidato à presidência nas eleições de 2018. Sobral está hoje sob a gestão do prefeito Ivo Gomes, outro irmão do senador.
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Durante a tarde desta quarta-feira (19), o senador licenciado Cid Gomes foi baleado durante um protesto de policiais
Quem é Cid Gomes
O senador Cid Gomes, baleado nesta quarta-feira, 19, após tentar invadir um quartel da Polícia Militar do Ceará ocupado por PMs grevistas, em Sobral, é natural daquela cidade e membro de uma família de políticos da região com expressão nacional. Tanto Cid quanto seu irmão mais velho, Ciro Gomes (PDT), foram governadores do Estado e serviram como ministros a governos do PT. Seu irmão Ivo é o atual prefeito de Sobral.
Ao longo dos 32 anos de vida pública, Cid já se envolveu em uma série de polêmicas, em geral associadas a ataque verbais feitos contra a adversários, diante de um temperamento forte. Ele foi prefeito de Sobral entre 1997 e 2000. Entre 2006 e 2014, foi governador do Ceará, eleito e reeleito. Em 2018, venceu eleições para cargo de senador.
Em 2013, enquanto governador cearense, diante de uma crise de falta d'água na cidade de Itapipoca, Cid foi gravado mergulhando em uma adutora de água, após demonstrar irritação com um vazamento que não era consertado. Apesar do mergulho, ele nada pode fazer para resolver o defeito, que fazia a cidade ser um dos quase 200 municípios que, naquele ano, estava em Estado de emergência pela seca. Mas o vídeo circulou pelo País.
Dois anos depois, já como ministro da Educação do governo Dilma, ele se envolveu em uma de suas principais crises ao confrontar o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
O embate havia começado em fevereiro daquele ano, quando Cid disse, em um evento fechado em Belém, que a Câmara possuía "de 300 a 400 achacadores". Por isso, foi convocado à Câmara para prestar esclarecimentos. No plenário, atacou Cunha, que antes teria chamado Cid de "mal-educado". O então ministro afirmou que preferia "ser acusado por ele de mal-educado do que ser como ele, acusado de achaque". A sessão se transformou em intenso bate-boca, que terminou com Gomes saindo do plenário. Na sequência, o MDB pressionou Dilma a demitir Cid. A presidente, que já estava com más relações com o Congresso, no movimento que culminou com seu impeachment, cedeu.
Já nas eleições de 2018, Cid bateu boca com um militante do PT. O senador fazia campanha para o irmão Ciro e, no segundo turno, quanto Jair Bolsonaro disputava o pleito contra Fernando Haddad (PT), foi a um evento em apoio a este último. Lá, o público passou a gritar "Lula", em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cid, na hora, respondeu para um deles: "O Lula tá preso, ô babaca". O ex-presidente ainda não havia sido libertado. A frase viralizou nas redes sociais.
Já no ano passado, Cid voltou a tratar um parlamentar por "achacador". Desta vez foi o líder do PP na Câmara, deputado Arthur Lira (AL). Ele comparou o deputado a Eduardo Cunha e, em entrevista ao Estado, disse que "esses caras a gente tem que matar logo no começo". Lira rebateu e disse que o senador quer apenas "ganhar luz" ao fazer as acusações.
Não há ainda confirmação do quantitativo de agentes que virão ao Ceará. O POVO apurou, entretanto, que serão 200 homens da Polícia Rodoviária Federal e outros 60 policiais federais.
Colaborou repórter Henrique Araújo