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STF autoriza investigação a deputados Guimarães, Eunício e Yury por menção em caso de Júnior Mano

Posted On Quarta, 09 Julho 2025 04:03
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Da esquerda para a direita: José Guimarães, Eunício Oliveira, Yuri do Paredão e Junior Mano. Fotos em colagem. Legenda: Em ordem: José Guimarães, Eunício Oliveira, Yuri do Paredão e Junior Mano. Foto: Câmara dos Deputados Da esquerda para a direita: José Guimarães, Eunício Oliveira, Yuri do Paredão e Junior Mano. Fotos em colagem. Legenda: Em ordem: José Guimarães, Eunício Oliveira, Yuri do Paredão e Junior Mano. Foto: Câmara dos Deputados

Os parlamentares teriam enviado emendas a Choró e a Canindé, municípios no centro das investigações

 

 

Por Ingrid Campos

 

Quatro homens de terno e gravata discursam em plenário, em frente a microfones. Eles estão lado a lado em montagens verticais separadas. O primeiro, à esquerda, tem cabelo grisalho e usa terno azul-marinho com gravata listrada. O segundo tem cabelo castanho ondulado e barba, vestindo terno escuro e gravata vermelha. O terceiro tem cabelo escuro curto e usa terno cinza com gravata rosa. O quarto, à direita, também tem cabelo escuro e veste terno azul-escuro com gravata vermelha. Ao fundo, há bandeiras e o ambiente típico de um parlamento.

 

O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou, no dia 24 de junho, a abertura de investigação contra três outros nomes da bancada cearense no Congresso, em processo sobre desvio de emendas parlamentares no Ceará, após terem sido citados no caso. Além de Junior Mano (PSB), alvo de operação nesta terça-feira (8), a apuração da Polícia Federal (PF) chegou a Eunício Oliveira (MDB), Yuri do Paredão (MDB) e José Guimarães (PT), este líder do Governo Lula na Casa.

Enquanto o pessebista é apontado como “operador ativo da engrenagem criminosa”, os demais são citados por terceiros, sem apresentar diálogo ou contato direto com Bebeto Queiroz (PSB), prefeito cassado de Choró e suposto coordenador do esquema junto a empresas de fachada. Ele está foragido desde dezembro de 2024.

Por isso, o relatório da Polícia Federal citado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, indicava a necessidade de uma apuração específica sobre os achados relacionados aos outros três deputados – e a Corte acatou.

 

Considerando as citações feitas aos nomes dos parlamentares, no curso das tratativas, e os valores mencionados, revela-se necessária a realização de diligências investigativas específicas, a fim de esclarecer o conteúdo, a veracidade e a finalidade dessas indicações, bem como eventual vinculação como esquema de desvio de recursos públicos sob apuração.

Polícia Federal (PF)
Relatório sobre desvio de emendas no Ceará

As informações foram extraídas da decisão revelada nesta terça-feira (8), assinada pelo magistrado, autorizando as diligências policiais no gabinete de Junior Mano e em endereços em cinco municípios cearenses. No mesmo documento, o STF abriu investigação sobre a participação dos outros deputados em esquema de desvio de emendas.

 

Entenda a citação de cada parlamentar a seguir:

 

YURI DO PAREDÃO

Segundo o relatório, o deputado Yuri do Paredão tinha interlocução direta e indireta com o núcleo operacional liderado por Carlos Alberto Queiroz Pereira, o "Bebeto do Choró".

 

Uma assessora parlamentar, formalmente registrada como secretária parlamentar em seu gabinete, manteve contato com Bebeto em 23 de setembro de 2024, solicitando informações acerca do plano de ação e da consultoria responsável pela execução de uma emenda pix a Choró.

 

Ressalte-se que essa modalidade de transferência é executada sem necessidade de convênio formal, “o que amplia significativamente os riscos de uso indevido”. O próprio STF montou uma ofensiva contra o uso indevido desse e de outros tipos de emendas parlamentares.

 

Vale destacar, ainda, que Bebeto não era prefeito da cidade à época, mas sim candidato à Prefeitura. Quem governava o município na ocasião era seu aliado, Marcondes Jucá (sem partido). Poucas semanas depois do contato, ambos foram alvos de operações da Polícia Federal e do Ministério Público do Ceará (MPCE) por supostas irregularidades no abastecimento de veículos da gestão de Choró.

 

“O conteúdo do diálogo indica ingerência do grupo de Bebeto sobre a destinação e aplicação do referido recurso, circunstância fartamente comprovada na investigação em curso, comportamento que transcende o mero apoio político e revela possível alinhamento funcional em matéria de execução orçamentária”, aponta a PF.

 

Ainda segundo as investigações, a suspeita é reforçada pela indicação de emenda de transferência especial, popularizada como emenda pix, no valor de R$ 10 milhões a Choró, no exercício de 2024. A informação está no Portal da Transparência do Governo Federal.

 

Além das trocas indiretas, há registros de conversas diretas entre Yuri do Paredão e Bebeto. A PF faz destaque especial a diálogo no qual o parlamentar questiona se há alguma Comissão Intergestores Bipartite (CIB) aprovada com pedido de aumento de limite na área da saúde em alguma "cidade sua", dirigindo-se ao político de Choró.

 

JOSÉ GUIMARÃES E EUNÍCIO OLIVEIRA

Os deputados Guimarães e Oliveira – presidente estadual do MDB – são citados em conjunto na peça.

 

Em diálogo mantido entre Bebeto e Carlos Douglas, há referência à oferta de emenda parlamentar atribuída a José Guimarães, supostamente intermediada por Ilomar Vasconcelos, atual vice-prefeito de Canindé, com possibilidades de destinação para saúde, pavimentação ou "sarramento" (sic, em referência a piçarramento).

 

Relatório sobre desvio de emendas no Ceará PF

Carlos Douglas é um dos alvos de mandado cumpridos nesta terça-feira, no Ceará. Ele é apontado como sócio-administrador da empresa Cariri Edificações, Serviços e Conduções EIRELI, suspeita de superfaturamento e irregularidades na oferta do serviço de transporte escolar municipal.

 

Por causa disso, o Ministério Público do Ceará recomendou, em janeiro deste ano, a suspensão dos contratos firmados entre a Prefeitura de Choró e a empresa. O relatório indica que Douglas manteve “centenas de interações com Bebeto” a respeito de contratos com prefeituras cearenses.

 

Já Ilomar Vasconcelos (PSB) é vice-prefeito reeleito de Canindé, ou seja, ele rompeu com a denunciante e ex-prefeita da cidade, Rozário Ximenes (Republicanos), e passou a compor com o grupo liderado por Bebeto. Nas eleições de 2024, formou chapa com Professor Jardel (PSB), que foi eleito prefeito. Ambos são alvos de pedidos de cassação pelo MPCE.

 

Foi, inclusive, a denúncia dela que originou o processo em questão. Em outro trecho, a ex-prefeita menciona a destinação de uma emenda no valor de R$ 3 milhões a Canindé durante a sua gestão, com articulação tocada por Bebeto e Junior Mano em contato com Ilomar.

 

Contudo, o recebimento do recurso pela Prefeitura estava condicionado ao pagamento da contrapartida ilegal aos membros do esquema, segundo o seu depoimento.

 

Ximenes narrou que o vice-prefeito “teria obtido duas emendas parlamentares oriundas do gabinete do deputado José Guimarães e, posteriormente, passou a insistir no repasse de 10% do valor de cada emenda como retorno”.

 

 

O depoimento é reforçado por um achado da PF. A corporação relata, que, em mensagem posterior, Bebeto afirma para a sua irmã, Cleidiane Queiroz, ter sido informado por Eunício (via áudio) de que Guimarães teria indicado R$ 2 milhões em emenda para o município de Choró, e que o próprio emedebista também teria destinado R$ 1 milhão para Canindé.

 

Cabe mencionar que, assim como Junior Mano, ambos são pré-candidatos ao Senado no Ceará e compõem a base governista. Juntos, têm influência sobre um grande número de prefeituras.

 

INFLUÊNCIA NOS MUNICÍPIOS

As investigações seguem também no sentido de verificar o raio de atuação do esquema criminoso.

 

Isso porque tanto o depoimento de Rosário Ximenes indica uma influência do grupo em 51 municípios cearenses quanto a empresa MK Serviços, Construções e Transporte Escolar, apontada como principal operadora da dinâmica das emendas, celebrou contratos com um número semelhante de prefeituras.

 

A MK, inclusive, tem como sócio-administrador o suposto empresário Maurício Gomes. O vigilante de 37 anos recebeu, entre 2014 e 2020, um salário mensal de R$ 2,4 mil, mas abriu a empresa que tem um capital social de R$ 8,5 milhões. No relatório, a PF diz ser “possível inferir, com forte grau de segurança" que o vigilante atuava como "interposto de terceiros", um laranja de Bebeto Queiroz.

 

DEPUTADOS SE PRONUNCIAM

O PontoPoder buscou os deputados José Guimarães, Eunício Oliveira, Yuri do Paredão e Junior Mano. O vice-prefeito de Canindé, Ilomar Vasconcelos, não foi localizado, bem como Carlos Douglas. O espaço está aberto a manifestações.

 

Por meio de nota, Guimarães disse que não é alvo de inquérito ou investigação para apurar possível uso irregular de emendas e negou que tenha destinado recursos a Canindé em 2024 e em 2025.

 

"Sobre o município de Choró (CE), reafirmo o fato de que não destinei emendas parlamentares à localidade. Inclusive, nas eleições municipais mais recentes, disputamos contra o atual prefeito, tendo nosso candidato do PT sido derrotado nas urnas", completou.

 

Marcondes Jucá, então prefeito, era filiado ao PT à época das eleições e decidiu apoiar Bebeto na sucessão. Após operação em Choró, ele foi expulso do partido. O candidato do PT ao qual Guimarães se refere foi Antônio Delmiro, ex-presidente da Câmara Municipal e opositor de Bebeto.

Eunício informou, também em nota, que destina emendas em dezenas de municípios cearenses, "de forma transparente e de acordo com a legislação", e que ainda não foi notificado dessa eventual apuração. Ele, inclusive, mandou suspender, nesta terça-feira, a emenda indicada a Canindé.

 

Yury do Paredão também se pronunciou. Ele declarou ter "compromisso notável com a transparência e o desenvolvimento do Ceará", em comunicado à imprensa.

 

"Ao destinar emendas para beneficiar os municípios, Yury tem contribuindo significativamente para o progresso e o bem-estar das comunidades locais do estado. A transparência é um aspecto fundamental na gestão pública, e o fato de todos os recursos estarem disponíveis no Portal da Transferência da Câmara dos Deputados demonstra a seriedade e a responsabilidade com que o deputado Yury conduz suas ações. Sua disposição para esclarecimentos adicionais reforça ainda mais sua postura transparente e comprometida com a população", diz a nota, ainda.

 

Já Junior Mano afirma, por meio da sua assessoria de imprensa, não ter participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.

 

"Como parlamentar, o deputado não exerce qualquer função executiva ou administrativa em prefeituras, não participa de comissões de licitação, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos", diz a nota.

 

Ele declara, ainda, que confia nas instituições, em especial no Judiciário e na PF, e reitera "o compromisso com a legalidade, a transparência e o exercício probo da função pública". Por fim, afirma ter plena convicção de que "a verdade dos fatos prevalecerá, com o completo esclarecimento das circunstâncias e o reconhecimento de sua correção de conduta."

 

A liderança do PSB na Câmara dos Deputados, o deputado federal Pedro Campos, também se manifestou. "Esperamos que todos os fatos sejam investigados e esclarecidos o mais breve possível, respeitando o devido processo legal e a ampla defesa do deputado Júnior Mano".

 

 

 

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