Com o desespero batendo à porta do Planalto, até ex-desafetos são consultados. “Conspiração” e “golpe” são as palavras de ordem
A presidente Dilma Rousseff está ampliando o grupo de interlocutores que possam ajudá-la na operação política contra o impeachment. Na noite do último dia 10, ela recebeu em jantar no Palácio da Alvorada Ciro Gomes, ex-ministro e duas vezes candidato ao Planalto.
Estiveram presentes ao encontro o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e o governador do Rio de janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
Durante as conversas, Ciro Gomes argumentou que é necessário endurecer com o PMDB, partido que segundo ele estaria na linha de frente da conspiração pela derrubada de Dilma Rousseff. “Michel Temer (vice-presidente da República) está conspirando faz tempo”, afirmou.
Para Ciro, está em curso “um golpe salafrário-mafioso” e é necessário “lancetar esse tumor”. Para o ex-ministro, “Michel Temer está articulando com um poder menor do que tem a presidente da República”. Seria necessário, portanto, que o governo usasse todo o seu poder de fogo para combater o processo de impeachment.
Ciro recomendou à presidente muito “trabalho profissional e pragmático”. De um lado, combater e denunciar o que chama de golpismo. De outro, sinalizar com mudanças na economia que possam dar algum alento à população.
Já sobre o Palácio do Planalto e o PT terem rompido definitivamente com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Ciro acha que foi uma atitude correta, porém “tardia”. Mas ele acredita que “a população entenderá se a presidente explicar o que se que passa”.
O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão foi o responsável por fazer o contato com o Planalto e por recomendar a Dilma que recebesse Ciro Gomes –o ex-ministro tem sido um histórico adversário da ala majoritária nacional do PMDB, representada pelo vice-presidente Michel Temer.
Na atual conjuntura, Pezão e a ala majoritária do PMDB do Estado do Rio se transformaram no principal polo de sustentação política de Dilma Rousseff dentro dessa sigla. Pezão está em campo oposto ao de Michel Temer no mundo peemedebista.
E qual será o papel de Ciro Gomes daqui para frente? “Conversei com ela (Dilma). Dei minha opinião franca. Estou voluntariado para qualquer trabalho”.
PONTOS A PONDERAR
SÓ NÃO SE SABE O QUE Dilma e Ciro conversaram sobre alguns pontos, digamos, importantes a se ponderar a curto prazo como a quarta-feira decisiva que chega já amanhã para a vida política brasileira.
Será nesta data que o STF vai decidir sobre o rito do impeachment e dar ou não continuidade ao processo iniciado na Câmara Federal.
Outro ponto é a intimação para que o ex-presidente Lula deponha na Polícia Federal – de onde, dizem alguns analistas – pode até sair preso.
Mais um ponto é a delação premiada de Delcídio do Amaral, até poucos dias o líder do governo no Senado e que já se dispôs a “abrir o bico“ em troca de uma pena mais branda.
Aí vem a pergunta que não quer calar: será que os conselhos de Ciro Gomes são sinceros e vão valer de alguma coisa depois de quarta-feira?
Quem viver, verá!