Em busca e apreensão na sede da empreiteira, há três semanas, a PF encontrou um contrato confidencial de "consultoria", fechado em 2010. Além dos comprovantes de pagamento a ele, logo após o contrato, a Camargo Corrêa firmou com a Petrobras dois contratos de serviços na refinaria Abreu e Lima, no valor de R$ 4,7 bilhões
Entre 2010 e 2011, uma empresa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu recebeu R$ 886 mil da empreiteira Camargo Corrêa, na mesma época em que empresa firmou contratos com a Petrobras. Segundo reportagem publicada no site da revista Época nesta segunda (8), no mesmo mês em que fechou negócio com a empresa de Dirceu, a Camargo obteve dois contratos junto à estatal, no valor total de R$ 4,7 bilhões.
A Camargo foi contratada para prestação de serviços na refinaria Abreu e Lima. Segundo depoimentos do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, operador financeiro do esquema de corrupção na estatal desvendado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, os contratos foram fechados por meio de pagamento de propina ao PT e ao PP. A revista lembra que, embora negue, Dirceu “indicou Renato Duque, então diretor de Serviços da estatal e responsável pelos contratos da Camargo, acusado por Costa, Youssef e por um empreiteiro de cobrar propina para o PT”.
Tanto Costa quanto Youssef estão sob regime de delação premiada e, na hipótese de que estejam mentindo sobre detalhes do esquema, perdem direitos como redução de pena e prisão domiciliar, benefício já concedido ao ex-diretor de Abastecimento. Youssef permanece preso.
“As provas da relação secreta entre Dirceu e a Camargo foram descobertas pela PF há três semanas, durante buscas na sede da Camargo. [...] O contrato entre a Camargo e a empresa de Dirceu, chamada JD Assessoria, foi assinado em 21 de fevereiro de 2010. Não tinha um objeto claro. Previa apenas que Dirceu faria análise de ‘aspectos sociológicos e políticos do Brasil’ e prestaria ‘assessoria na integração dos países da América do Sul’. Dirceu também deveria, de acordo com o contrato, divulgar o nome da Camargo na comunidade nacional e internacional, além de fazer palestras e seminários em assuntos de interesse dela. O contrato é marcado como sigiloso”, diz trecho da reportagem, informando ainda que a JD Assessoria recebeu, nos termos dos contratos, exatos R$ 886.500 mil entre maio de 2010 e fevereiro de 2011.
A revista informa ainda que, por meio de sua assessoria de comunicação, a JD diz ter prestado “consultoria na área internacional” à Camargo. Mas que, “por razões de confidencialidade contratual”, não pode detalhar “a natureza nem os resultados dos serviços prestados”. Já a Camargo Corrêa, acrescenta Época, recusou comentar o assunto, embora tenha confirmado a execução dos contratos.
FOLHA