Só quem conhece a história política do Tocantins e da sua capital, Palmas, sabe o quanto a carta divulgada pelo ex-governador Siqueira Campos, no último dia 18, exato dia do 195º aniversário da criação da Comarca do Norte e dia da Autonomia do Tocantins, diz a respeito do atual processo sucessório municipal.
Por Edson Rodrigues
Para um membro-fundador do PSDB no Estado e no País, um quadro político que apoiou e fez parte da história do partido que tirou o Brasil de uma situação de hiper-inflação e o entregou para o partido que há mais de 13 anos vem desfazendo todas as conquistas realizadas, deve ter doído muito cada parágrafo, cada frase, cada palavra, cada letra co que explicitou os motivos pelos quais está deixando a legenda.
O que Siqueira Campos e seu filho, Eduardo Siqueira Campos, junto com seus familiares, fizeram pelo que, hoje é o Estado do Tocantins, está anos luz além de todas as realizações de todos os demais dirigentes que tiveram as rédeas do Estado em suas mãos.
Vem desses serviços prestados ao povo tocantinense e ao povo palmense todo o significado das entrelinhas da carta.
Quando diz que sua saída do partido diz respeito “apenas” à forma com que o partido vem sendo conduzido no Estado, Siqueira refere-se, diretamente, ao senador Ataídes de Oliveira, atual presidente estadual do PSDB que, do alto dos seus parcos 21 mil votos obtidos na Capital, achou por bem apoiar o atual prefeito, o colombiano Carlos Amastha, em sua campanha pela reeleição, alicerçada pelo aumento incompreensível de impostos, e abusivo de taxas municipais, além da implantação de uma indústria de multas que vem tirando o sossego dos cidadãos.
Ataídes não fez só isso. Montou uma barreira invisível entre as lideranças que o apóiam e um plausível protagonismo de Eduardo Siqueira Campos nas eleições municipais da Capital, que seriam proporcionados por sua volta ao PSDB. Barreira essa, diga-se de passagem, constituída de pessoas, assim como Ataídes, recém chegadas ao partido e de quem se esperava que somasse para o fortalecimento da sigla, mas que seguem como ovelhas o neófito senador.
Os tucanos genuínos, originais e íntegros, não compactuam com as decisões do grupo de Ataídes, mas tornaram-se minoria, ante a cegada desses membros oportunistas.
Guiar o partido sob cuja legenda foi edificado não só o Tocantins, mas a sua Capital, a apoiar a atual gestão, foi apenas a gota que levou a paciência de Siqueira a transbordar com o senador Ataídes e a condução que vem dando ao partido no Estado.
Quem pensa que o “velho” Siqueira está morto, está, na verdade, completamente por fora do cenário político do Tocantins, mostrando total desconhecimento da história e dos caminhos que trouxeram a unidade mais nova da Federação ao atual patamar de importância sócio-política e econômica.
A REAÇÃO
Quem conhece Siqueira Campos sabe que a sua história com o PSDB não acabou nas linhas transcritas na carta. Quem conhece Siqueira sabe que uma reação plena, urdida sob os mandos da boa política e da astúcia e da inteligência está bem mais próxima que se imagina.
Quem conhece Siqueira Campos sabe, também, que seu passado político dá sinais claros do caminho que deve seguir dentro do cenário sucessório da Capital.
E sabe, também, que o caminho mais curto para essa reação é uma reaproximação de Siqueira Campos com a senadora e ministra Kátia Abreu, junto com seus filhos Irajá e Iratã, além do senador Vicentinho Alves e seu reforçado PR, que apóiam a candidatura de Raul Filho à prefeitura de Palmas, num projeto robusto e agregador, formando uma chapa forte e coesa para concorrer á eleição municipal de Palmas.
Afinal, Kátia Abreu abriu as portas de suas intenções políticas ao apresentar ao ex-governador, antes de todos, o projeto MATOPIBA, e Vicentinho tem laços antigos e perenes com Siqueira Campos.
Siqueira Campos pode estar deixando o PSDB, o partido que rejeitou seu filho em troco de um punhado de benesses na prefeitura da Capital, para coordenar uma frente suprapartidária com força suficiente para concorrer de igual para igual com o atual prefeito e apeá-lo do poder em Palmas.
O ELEITORADO
Já se sabe que, em Palmas, o eleitorado, mais esclarecido e participante do processo, não votará em sigla ou partido e, sim, em candidatos que apresentarem bons projetos e programas de governo, pois são os cidadãos que pagam impostos municipais mais caros do País e em contrapartida, não têm atendimento de qualidade na Saúde Pública sequer.
Mas, felizmente, algo que não falta ao eleitorado palmense é informação. São vários os veículos gratuitos, entre sites, blogs e portais na internet, que prestam bons serviços de forma gratuita, deixando todo e qualquer cidadão que tenha acesso à internet, em dia com as novidades e notícias do mundo político, sem contar os canais de TV, rádio, revistas e jornais impressos.
O eleitor de Palmas não tem como falar que não gosta de política ou de políticos e que não sabe em quem vai votar nessas eleições.
O eleitor de palmas está cansado de ser explorado por um governo que só exige, só sacrifica, e nada dá em troca.
As regras do jogo sucessório das eleições municipais já estão definidas, faltando, agora, apenas os partidos e coligações escalarem seus titulares para a partida decisiva.
Mas é a partida sucessória da capital, Palmas, a que promete as maiores surpresas e novidades até as convenções que decidirão quais serão os candidatos a prefeito, a vice e a vereador, seja de coligação, seja de chapa “puro sangue”.
A carta de Siqueira é a primeira certeza dessas eleições na Capital. A certeza de que o grande perdedor será o atual prefeito, o colombiano Carlos Amastha e seu grupo.
Se Siqueira quer, Siqueira poderá. Se Siqueira quer, Siqueira fará. E fará bem feito, não apenas por fazer.
Carta aberta ao povo tocantinense
Hoje, 18 de março de 2016, 195º ano da criação da Comarca do Norte, o Dia da Autonomia do Estado do Tocantins, consagrado em Lei que remeti a Assembleia Legislativa, dirijo-me aos que um dia foram nortenses, e hoje, com o mais elevado sentimento, nos orgulhamos e podemos nos afirmar tocantinenses, os nascidos e os de coração, e também aos companheiros políticos, para informar a minha desfiliação do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB.
É importante destacar que votei em Fernando Henrique Cardoso em sua primeira eleição à Presidência da República, em 1994, e em sua reeleição, em 1998, estando sempre junto a ele em seu palanque. Igualmente apoiei as candidaturas de José Serra em 2002 e 2010, tanto quanto a de Geraldo Alckmim, em 2006. Também apoiei e votei no jovem senador Aécio Neves na campanha presidencial de 2014. Portanto, ao longo do período em que estive filiado, cumpri com todas as minhas obrigações partidárias. Feitos que repetiria com alegria por mil vezes, caso fosse preciso.
As marcas de importantes obras construídas em nosso Estado também foram frutos desta boa relação com a direção nacional do partido, como a criação da Universidade Federal do Tocantins (UFT), a ponte da Integração Nacional, a ponte que deu entrada ao Estado da Ferrovia Norte-Sul, o aeroporto de Palmas, os mais diversos financiamentos para os grandes projetos de irrigação e de luz no campo. Destacando-se ainda, milhares de quilômetros de asfalto que ligaram o Bico do Papagaio a Araguaína, e a também conhecida rodovia Coluna Prestes, que interligou toda a região Sudeste do Estado Palmas e com a Capital Federal. E mais, fazendo a conexão de Dianópolis e Novo Jardim com a Bahia. Ou seja, tive uma vida repleta de vitórias para o Estado, tanto quanto de realizações nas gestões que estive à frente.
A Ponte Fernando Henrique Cardoso, apesar de ter sido construída com 100% de recursos estaduais, foi assim denominada em reconhecimento à dedicação, e das inúmeras visitas ao Estado, mas principalmente pela criação da UFT, pelo aeroporto de Palmas, sem falar das hidrelétricas, como a do Lajeado, que deu a Palmas o seu lago. Também a hidrelétrica de Peixe e todas as outras usinas que deixamos com seus projetos delineados.
Enfim, cumpre-me informar que sendo hoje o Dia da Autonomia, minha saída restringe-se apenas à forma com que vem sendo conduzido o PSDB no Tocantins atualmente. E isso me obriga a reafirmar que continuo com os mesmos ideais, não guardando sentimento pessoal contrário a qualquer dos líderes que integram esta sigla, mas de forma autônoma, já não mais nas fileiras deste partido.
Julgo-me no direito de discordar de ações administrativas que considero desastrosas, assim como também de direção partidária, que não atinge sequer a habilidade de ampliar os quadros, de valorizar lideranças e respeitar a própria história do partido e do Estado.
Para o futuro, sigo sereno e tranquilo. E mesmo já tendo cumprido a minha missão, continuo a disposição de todos aqueles que entenderem ainda ter, dentro da minha experiência, algo a oferecer e a contribuir como fonte de consulta e aconselhamento, ou de qualquer condição que eu tenha e possa oferecer à nossa gente, como forma especial servir a Deus. Pois entendo que essa sempre foi minha missão, dedicar minha vida a essa bela terra que hoje temos o orgulho de chamar de Tocantins, cuja criação foi promovida pela Luz do Divino Espírito Santo, que nos conduziu até a tão sonhada Autonomia.
Tocantinenses, salve 18 de março de 2016, o Dia da Autonomia.
José Wilson Siqueira Campos
Ex-governador do Estado do Tocantins