A comunicação inteligente e efetiva precisa de forma e conteúdo. É preciso saber o que se quer informar e saber como se quer informar
Por Guilherme Mazieiro
Na terça-feira, 12, pela manhã, as redes sociais de Lula (PT) traziam um vídeo do presidente saindo do elevador e caminhando até seu gabinete. Com uma pastinha debaixo do braço, ele contava que dali a poucas horas teria um evento para anunciar 100 novos institutos federais no país. Mas você só saberia do que se tratava se aumentasse o volume para ouvi-lo. Do contrário, não entenderia nada e rolaria a tela para outro vídeo, afinal, a postagem cometeu um erro de principiante: não ter legenda.
O vídeo do pós evento, com Lula falando com os estudantes, insistiu no erro. Quem “rolou” o post sem compreender do que se tratava, já não consumiu aquela informação e ainda pode ter topado com o caricato deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Expoente da oposição nas redes, ele esteve no evento e postou um vídeo (legendado, óbvio), com estudantes dentro do Planalto o aclamando como futuro presidente da República.
A postagem de Lula com estudantes tinha 180 mil curtidas no Instagram na manhã de sexta, 15, e 10 mil comentários. O vídeo saindo do elevador com a pastinha somava 232 mil curtidas e 14 mil comentários. A publicação de Nikolas Ferreira tinha 900 mil e 35 mil comentários. O presidente tem 13,1 milhões de seguidores naquela rede, mais do que os 10,5 milhões do deputado, mas gerou menos engajamento.
Um vídeo de rede social tem que ter legenda, é o básico. Mas ao governo falta o básico. Lula é um grande comunicador, porém, ele e a esquerda ficam zonzos com as surras que tomam da extrema direita na internet.
Com mais de um ano de governo, o Planalto não consegue dominar narrativas em redes sociais e parece não ter interesse em fazer o combate ideológico. Este é um ponto importante. A gestão petista evita entrar em bolas divididas na chamada "guerra cultural" de costumes. Em situações assim, o que vemos é um recuo ao menor sinal de alarde da oposição, como na portaria sobre o aborto legal.
O documento do Ministério da Saúde só reforçava o que já está previsto em lei, zero novidade. Mas o tema, claro, ganhou as redes sociais na mão da oposição e de conservadores. O governo optou pelo recuo em vez de combater a desinformação. Veja, a questão não era nem fazer a defesa do aborto nas redes, era informar. Mas o Ministério da Saúde preferiu tirar o time de campo e derrubaram a portaria menos de 24 horas após sua publicação. Militantes e parlamentares que já tinham saído em defesa da portaria, ficaram a ver navios, sem entender.
A comunicação inteligente e efetiva precisa de forma e conteúdo. É preciso saber o que se quer informar e saber como se quer informar.
A gestão petista teme o embate e chega ao ponto de negar ao país discussões históricas como a dos 60 anos do golpe militar. A ordem de Lula é para não haver manifestações e eventos relativos aos anos de chumbos, iniciados em 1º de abril de 1964 e que por 21 anos torturou, matou, perseguiu e desapareceu com brasileiros.
Hoje, o entendimento de parte dos ministros é de que a comunicação tem culpa considerável nas avaliações negativas sobre o governo. Esse entendimento se baseia na ideia de que há melhora no PIB, queda no desemprego, inflação controlada e retomada de programas sociais e obras, mas a população “não consegue ver” a atuação governamental.
Influenciadores digitais aliados ao governo, como Felipe Neto, enchem suas redes sociais com informações positivas da gestão Lula, mas ainda reclamam da condução das ações de comunicação do governo. Em um evento do Ministério da Saúde, na segunda, 11, o influencer tocou em outro ponto: o combate à desinformação e produção de notícias falsas e a regulamentação.
“Enquanto não colocarmos em prática a educação midiática desde as crianças até os adultos, não vamos ganhar a batalha. É preciso investigar e saber quem produz os conteúdos informativos. É necessário ter uma comunicação ativa de combate à desinformação”, criticou.
Durante a semana, Lula chamou ministros para discutir a alta recente dos alimentos e buscar maneiras de baixar os preços, que seriam um dos fatores da avaliação negativa do governo. As pesquisas, no entanto, desde o ano passado, já sinalizavam um aumento no descontentamento da população.
O presidente se movimenta para melhorar a popularidade e rodar pelo país se aproximando do eleitorado com uma comunicação direta e próxima. Nesta sexta, está no Rio Grande do Sul, governado pela oposição de Eduardo Leite (PSDB) e na quarta, 13, esteve em Minas Gerais com o também opositor Romeu Zema (Novo). Para segunda, 18, já convocou os ministros para uma reunião para ajustar os ponteiros do que está errado.
Ministros e analistas do governo ainda tentam entender com mais exatidão os erros e daí, como melhorar a imagem do governo. O debate (e embate) cultural está descartado, ele só aparece escorado em falas atrapalhadas e erradas, como sobre Holocausto.
Enquanto isso, numa eleição determinante para o mundo e contra o ultra conservador Donald Trump, o presidente americano, Joe Biden, posta em suas redes que ninguém deve ser preso por portar ou usar maconha. Ao contrário de Lula, mesmo com a economia indo bem por lá, o presidente Biden arregaçou as mangas para o confronto ideológico contra a extrema direita.
Bom fim de semana!