Imprimir esta página

OS GRANDES HOMENS NÃO MORREM, FICAM ENCANTADOS - Siqueira Campos, se vivo fosse, completaria 97 anos hoje, 1° de agosto. Mas, ancorado no seu expressivo legado, ele continua vivo na memória afetiva do povo tocantinense

Posted On Sexta, 01 Agosto 2025 06:01
Avalie este item
(0 votos)

Hoje, 1° de agosto, o mítico e lendário José Wilson Siqueira Campos, se vivo fosse, estaria completando 97 anos. Em celebração à data, a Associação Amigos do Palacinho vai realizar um evento especial para homenagear essa expressiva figura pública, que mudou definitivamente a geografia social, política e econômica do antigo norte goisno, hoje o pujante Estado do Tocantins. É por tudo isso e muito mais que ele não pode ser esquecido.

 

 

Por Edivaldo Rodrigues e Edson Rodrigues

 

 

E não vai ser esquecido. Isso porque, segundo garantiu o espetacular escritor João Guimarães Rosa, os grandes homens não morrem, ficam encantados. Seus feitos e atos, como legado, são provas de sua vivência permanente em nossas memórias afetivas.

 

Em 1965, retirante de um Nordeste em brasa e desesperançoso, Siqueira Campos, na busca de amassar com seu idealismo o pão de cada dia para alimentar milhares de desvalidos que seus olhos de lideranças alcançavam, adentrou ao mundo político pela porta da frente, onde a altiva sociedade de Colinas, no paupérrimo norte de Goiás, clamava por uma liderança com coragem e ousadia.

 

Naquela precária e acanhada cidade, após travar duras batalhas para levar o sustento a sua família, dilacerando as mãos e tostando a pele num sol escaldante, na zona rural daquele município, ele externou seu tino visionário, incentivando o cooperativismo no local, o que resultou na fundação da Cooperativa Goiana de Agricultores, que aqueceu seu intimo para tentar um passo adiante.

 

 

E esse passo foi dado quando se elegeu vereador, obtendo a maior votação daquele pleito, o que possibilitou ser escolhido para presidir o legislativo municipal de Colinas. Foi nesse período que a poeira da terra batida, vinda das ruas, ruelas, largos, descampados e, principalmente, da BR-14, elo viário que tentava ligar um Brasil em busca de desenvolvimento, que Siqueira Campos foi transformado.

 

Aquela poeira avermelhada, impregnada de simbolismo, invadiu suas entranhas, moldando nele um tocantinense armado de revolta e ideais, pronto para o confronto, preparado para a batalha secular iniciada por um povo que, no decorrer das décadas, gritava por liberdade, reivindicando o total rompimento dos grilhões que prendiam um Norte abandonado a um Sul abastecimento das riquezas tocantinas.

 

As armas de Siqueira Campos, naque instante, eram a palavra de convencimento, a coragem e a ousadia política. Afixando propaganda em poste de luz, em paredes de singelas moradias de pau a pique, ele levava a àquela gente naufragada na desesperança um fio de conhecimento de que era possível conquistar uma cidadania digna, de onde emanava todos os direitos garantidos por lei.

 

E ele foi ouvido, recebendo desse povo a incumbência de defender, na Câmara dos Deputados, os reais interesses do abandonado norte goiano. Por cinco mandatos consecutivos de deputado federal, de 1971 a 1989, Siquera Campos honrou sua gente e, da tribuna daquela Casa de Leis, incansavelmente apresentou a pauta libertária do seu povo, reivindicando a Criação do Estado do Tocantins, brado de liberdade que se fezia ouvir, soberanamente, pelos corredores do Congresso Nacional.

 

 

E novamente Siqueira Campos foi ouvido. Na Assembleia Nacional Constituinte, empossada em 1987, o glossário principal da nova Carta Magna brasileira já trazia, nas suas leis Transitórias em debate, a Criação do Estado do Tocantins, o que o fez provocar um dos momentos mais emocionantes naquele plenário compostos pelos que ali representavam o retrato fiel de um Brasil em reconstrução.

 

Foi nesse instante histórico, início da noite de 6 de agosto de 1987, que o deputado constituinte, José Wilson Siqueira Campos, carregando na alma os anseios, as cores, as dores, os costumes e as tradições do povo do norte, foi aplaudido de pé pelos pares daquele colegiado de legisladores ao apresentar, num discurso memorável, as belezas, as riquezas de sua gente; dos rios e das terras do futuro Estado do Tocantins. E ele disse do funda da alma:

 

 

"...Venho com as retinas impregnadas e a alma enriquecida das imagens do inverso físico e espiritual da minha gente, das suas terras, dos seus rios, das suas belas e incomparáveis paisagens, venho do Bico do Papagaio, que o abandono e as injustiças, tornaram violento; venho das margens do Tocantins, onde as lavadeiras batem as roupas dos ricos vendo as águas levarem as energias da mocidade, desgastada no repetido malhar nos batedouros...Venho das margens do rio Araguaia onde os pescadores, nas formulações dos seus sonhos, no renascer de suas esperanças, tostam a pele ao sol e oulvidam as injustiças...Aqui cheguei com a determinação de cumprir, não os compromissos de campanha, que não os fiz, mas dos compromissos, nascidos sob a chama conscientizadora da prisão injusta, imposta pela força da opressão de trazer para o debate nacional e para decisão do Poder Legislativo a proposta libertária da criação do Estado do Tocantins..."

 

Criado o Estado do Tocantins, através das leis Transitórias da nova Constituição do Brasil, aprovada em 5 de outubro de 1988, Siqueira Campos de novo foi ouvido e povo tocantinense, que reconheceu seu expressivo feito e o elegeu o primeiro governador da mais nova Unidade Federativa do da União, que ele administrou por mais três oportunidades: (1995–2003) e 2011–2014).

 

Nesse período, Siqueira Campos se valeu de uma coragem hercúlea para implantar o estado e sua infraestrutura, consolidar suas instituições e transformar uma região esquecida e pobre numa economia pujante, que hoje é destaque de qualidade de vida e de cidadania, servindo de exemplo de desenvolvimento em todo o país.

 

Mas Siquera Campos foi além. Ele retirou do fundo da alma e, obedecendo o chamamento do seu coração, ousou grandiosamente fazendo do idealismo, somente encontrado nos homens imprescindíveis, presenteando o Tocantins e os tocantinenses com a sua capital Palmas, que nasceu de suas mãos no centro geodésico do Brasil.

 

 

A capital de todos os tocantinenses foi fundada por Siqueira Campos no dia 20 de maio de 1989, sete meses e meio após a criação do Estado do Tocantins. A partir daí, a cidade começou a ser construída pelos trabalhadores que vieram do interior e de vários outros estados do país. Entretanto, somente a partir do dia 1° de janeiro de 1990, é que Palmas passou a ser a capital definitiva.

 

 

Dos modernos projetos, urbanístico e arquitetônico; da pedra fundamental à implantação da infraestrutura administrativa e habitacional, tudo contou com os toques magistrais de um visionário Siqueira Campos, embevecido de orgulho por ter sido seu filho, o jovem Eduardo Siqueira Campos, primeiro prefeito eleito para administrar a última cidade brasileira do século XX a ser planejada e construída nesse período.

 

 

Mas o velho Siqueira Campos não abandonou os anseios do seu povo, e visionário levou para o Senado da República sua experiência e o amor pelo Tocantins e pelo Brasil. Ele assumiu o mandato de senador no dia 16 de julho de 2019, como primeiro suplente de Eduardo Gomes, que se licenciou para assumir um cargo no governo do estado. O mais amado líder do povo tocantinense tinha 90 anos e foi o mais velho a tomar posse no Senado.

 

 

Em seu discurso, emocionado, Siqueira Campos citou verso do poeta Carlos Drummond de Andrade para dizer como se sentia: “Tenho duas mãos e o sentimento do mundo”. O estão senador tocantinense afirmou na oportunidade que era preciso ser solidário ao povo brasileiro, especialmente aos pobres. Também defendeu a criação de mais 13 estados, que, segundo ele, seria o mínimo, pois o ideal seria que o Brasil tivesse 50 estados, então externou suas ideias daquela centenária tribuna:

 

"Temos um território imenso. Imaginem que, no Pará, há uma cidade cuja jurisdição é maior que a do estado do Tocantins praticamente. Refiro-me à cidade de Altamira", disse, sustentando que é preciso mudar essa realidade

 

O tempo seguiu adiante e nesse instante, Palmas, que carrega o brilho dos olhares do lendário Siqira Campos, singra rumo a um futuro como uma cidade abençoada, admirada e, acima de tudo reverenciada por proporcionar sonhos, realizar projetos pessoais; por construir cidadania, implementar hurbanidade e civilidade, caminhando em frente, garantindo qualidade de vida, renda e prosperidade. E novamente, sob a administração de Eduardo Siqueira Campos, herdeiro e fiel depositário do legado político e administrativo do pai, imortal nas nossas memórias, José Wilson Siqueira Campos, que se vivo estivesse teria glorificado sua luta dizendo como disse o general Júlio César, em 47 a.C., que depois se consagrou como o mais importante imperador romano.

 

"...Vim, vi venci ao transformar o universo físico e espiritual da minha gente, das nossas terras, rios e das paisagens tocantinenses incomparáveis...Vim, vi, venci ao promover justiça social no Bico do Papagaio e além dessa região...Vi, vi, venci ao retirar as lavadeiras das mãos exploradoras dos ricos e assim o Tocantins se fez uma realidade latente..."

 

"Eu venci!!!"

 

Última modificação em Sexta, 01 Agosto 2025 08:14
{loadposition compartilhar} {loadmoduleid 252}
O Paralelo 13

Mais recentes de O Paralelo 13