Se seguir o partido, Estado corre risco de ver recursos mais longe, mas tratamento recebido pelo governo federal leva a rompimento
Por Edson Rodrigues
O governador Marcelo Miranda está em Brasília, onde acompanha os preparativos finais para a convenção do PMDB nacional, na próxima terça-feira, dia 29. Ao seu lado, as deputadas federais Dulce Miranda e Josi Nunes, além do presidente estadual da legenda, Derval de Paiva. Nas mãos dos quatro, a responsabilidade por um posicionamento que vai definir os rumos da economia de País e do Tocantins enquanto perdurar o processo de impeachment da presidente Dilma, caso passe pela Câmara Federal.
Por um lado, os representantes tocantinenses têm que pensar no Estado como um todo. Seus votos definirão a amplitude da abertura dos cofres federais para projetos e convênios que beneficiariam o povo tocantinense.
Para Dulce Miranda, a situação é ainda mais complicada, pois, além de deputada federal, ela é esposa do governador Marcelo Miranda e primeira-dama do Estado, uma função intrinsecamente comprometida com a Ação Social, com a qualidade de vida da população.
Marcelo Miranda é outro que deve pesar muito bem seu posicionamento, já que sempre se manifestou em favor da presidente Dilma e em defesa de seu mandato, sendo considerado pelo Palácio do Planalto um dos governadores mais fiéis à aliança entre o PMDB e o PT.
Mas, por outro lado, os representantes tocantinenses na Convenção Nacional do partido devem ter em mente a forma displicente e insignificante com que vêm sendo tratados pelo governo do PT desde sempre.
Haja vista que nenhuma indicação tocantinense para cargo algum, em qualquer escalão do governo federal jamais foi atendida, e que os recursos federais não têm jorrado para o Estado – muito pelo contrário, repasses de verbas carimbadas têm tido atrasos recorrentes – numa clara demonstração de desprestígio e de “massa de manobra” com a qual o governo do PT trata o Tocantins.
Outro ponto que pesa é o fato de o governo federal ter sempre privilegiado o PMDB tocantinense comandado por Kátia Abreu, deixando claro suas preferências entre as alas que comandavam o partido no Tocantins.
Logo, Marcelo, Dulce, Josi e Derval, ficaram sem opções na hora de decidir sobre o posicionamento a ser tomado na terça-feira.
Já Kátia dá sinais de ter-se decidido por permanecer no governo, dando sinais claros que seu caminho será o PSD, mesmo com o partido sinalizando que acompanhará o desembarque da base aliada.
Para Kátia será mais fácil negociar com o PSD a sua permanência no ministério.
REFLEXOS PARA TODOS
O certo é que a forma com que o PMDB nacional vem tratando o impeachment da presidente Dilma e a forma com que vem arquitetando esse desembarque do governo do PT vem suscitando suspeitas de oportunismo e de “golpe”, já que a debandada do partido decretaria definitivamente a ingovernabilidade do País – já que traria junto um efeito dominó, tirando da base aliada partidos como PP, PR, PTB e PSD.
Não consideramos o impeachment, pura e simplesmente, como golpe, uma vez que está previsto na Constituição. Apenas alertamos para a forma com que os partidos estão se agarrando a ele como forma de criar uma via de separação entre eles e a corrupção perpetrada no governo petista, como se fossem virgens imaculadas.
Na lista da Odebrecht, sabe-se agora, os trezentos e poucos nomes são apenas a ponta do iceberg. A empreiteira já está de malas prontas para mudar sua sede para Miami, nos EUA, de onde a relação com as obras no Brasil passa a ser ínfima – assim como os reflexos de uma provável queda do governo vigente, já que mantém contratos em diversos outros países – e não tem mais nenhum compromisso com a ordem ou com a economia brasileiras, ou seja, para jogar toda a titica no ventilador, não falta mais nada.
Um movimento que deponha o governo de Dilma Rousseff de forma pouco ortodoxa, ou que deixe qualquer margem para dúvidas, vai tirar das trincheiras a única parcela da população que ainda nutre paixão por cor partidária, que são, exatamente, os petistas, os mais arraigados e empenhados na defesa de sua legenda.
Dessa forma, há que se pesar as ameaças que a ingovernabilidade do País podem suscitar, como a de um total descontrole da economia, a paralisação do comércio, a diminuição na arrecadação e a consequente falta de recursos federais, levando estados e municípios a situações alarmantes. Sem contar os sindicatos controlados pelo PT, que ameaçam com uma greve geral, caso o partido seja apeado do poder.
Logo, são muitas as variáveis a ser consideradas, mas o caminho parece já estar pavimentado para a maioria dos diretórios estaduais do PMDB. A cúpula do partido, inclusive, já adotou a linha dura para os que sejam contrários à decisão do desembarque, avisando que, caso seja essa a decisão de terça-feira próxima, os membros do partido que decidirem ficar em seus cargos no governo federal serão sumariamente expulsos da legenda.
Ou seja, não restam dúvidas sobre o caminho a ser tomado...