Por Eduardo Katah e Pedro Venceslau
O senador Tasso Jereissati (CE) admitiu em entrevista ao Estadão que pode formar uma frente com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e com o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio para enfrentar o governador de São Paulo, João Doria, nas prévias presidenciais do PSDB marcadas para 21 de novembro. Expresidente do partido, Tasso reconheceu que o paulista é o favorito na disputa interna.
De volta ao Senado de forma presencial, o tucano, que já tomou as duas doses da vacina contra a covid, também avaliou o cenário econômico como "péssimo sob todos os aspectos" e disse que a elite financeira e empresarial do País "demorou muito" para reagir ao presidente Jair Bolsonaro. "Estamos vivendo a tempestade mais que perfeita. É lastimável, mas tudo isso poderia ter sido evitado", declarou.
João Doria disse no programa Roda Viva que o sr. havia desistido das prévias do PSDB. Depois disso, Eduardo Leite afirmou que o sr. e ele estarão juntos na eleição interna. O sr. fechou uma aliança com Leite?
Soube com um certo espanto e, em um primeiro momento, sem acreditar que o governador Doria afirmou que eu tinha desistido. Fiquei realmente surpreso. Nunca disse isso para ninguém ou conversei com o próprio Doria. Tenho uma afinidade muito grande com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e com o Arthur Virgílio, do Amazonas. Estamos fazendo um esforço muito grande para termos uma candidatura só nas prévias que possa competir com o Doria. Evidentemente que Doria, como governador de São Paulo, onde o partido é maior, leva vantagem. Ele polariza dentro do partido. Para haver uma competição justa no PSDB, fazer alianças é importante. A probabilidade de uma aliança com Eduardo Leite e Arthur é grande. Estamos avaliando qual será a melhor alternativa, sem nenhum tipo de projeto pessoal, qual dessas candidaturas pode agregar mais os outros partidos de centro.
Então no ato da inscrição das prévias é provável que seja apresentado apenas um nome?
É possível.
O sr. não está viajando e fazendo uma campanha ostensiva nas prévias. Sua candidatura é para valer ou está marcando posição?
Minha posição ajuda a fazer esse trabalho de agregar. Meu nome está colocado de uma maneira descontraída, sem que isso seja um projeto pessoal.
Por que o sr. decidiu encontrar o ex-presidente Lula?
Porque todos os homens de bom senso deste país que entendem um pouco de história sabem que o ódio e o radicalismo não levam a coisa alguma. Se não tivermos a capacidade de dialogar com todas as correntes de pensamento, da esquerda à direita, da região Sul ao Norte, vamos ficar parados vendo essa decadência. O diálogo é fundamental. Não é a primeira vez que encontro com o Lula. Dialogar não significa ser cooptado ou cooptar. Somos muito diferentes em relação ao PT, mas queremos ter as portas abertas para dialogar.
A ideia é abrir diálogo com o PT para o partido estar junto com o PSDB na eventualidade de um segundo turno contra o presidente Jair Bolsonaro?
Não necessariamente para o segundo turno, mas para governar. Se nós ganharmos as eleições, vamos precisar ter um diálogo com o PT. Não é bom para o Brasil viver em um clima de confronto. Pelo que conversamos, o presidente Lula está consciente disso.
A terceira via tenta consolidar um nome. Ela está disputando uma vaga no segundo turno contra Bolsonaro ou Lula?
Se você me fizesse essa pergunta há quatro ou cinco meses, eu diria que nós iríamos disputar com um dos dois. Mas, pelo cenário de hoje, estaremos disputando o segundo lugar com Bolsonaro. Mas tem muita água para rolar. O Lula está muito preservado. Todos os canhões estão virados para o Bolsonaro. Na campanha os canhões vão se voltar para o favorito. As coisas mudam. Nosso objetivo é fragmentar o menos possível a candidatura de centro.
Na votação na Câmara sobre o voto impresso, 14 deputados do PSDB apoiaram a proposta, o que contrariou a orientação da Executiva do partido. O que isso significa?
Lamento muito. Não é a cara do PSDB, que nasceu com uma inspiração democrática e social. Critico de forma veemente o voto impresso e o fundão eleitoral.
Que leitura o sr. faz desse recente confronto entre o governador João Doria e o deputado Aécio Neves?
Lamento. Já fiz essa autocrítica quando fui presidente interino do PSDB. Está na hora de sairmos desse mundo de xingamentos e ofensas. O momento é de baixar a bola e reconciliação. Chega de ódio.
Qual é o significado da adesão do deputado Rodrigo Maia ao projeto do Doria para 2022?
Respeito muito o Rodrigo Maia, mas não vejo nenhuma sinalização política relevante.
Como é a sua relação com Ciro Gomes? Se ele estiver mais bem posicionado em 2022, pode ser o nome do centro?
A minha relação com ele é a melhor possível. Não é de hoje que admiro Ciro. Ele se distanciou um pouco dos potenciais aliados. Ciro é um homem de centro, não de esquerda.
Como essa crise institucional afeta a economia do País?
Infelizmente, estamos enfrentando de uma maneira desnecessária um cenário péssimo sob todos os aspectos. Temos a inflação subindo e começando a sair do controle, 14 milhões de desempregados, uma crise fiscal, a pandemia ainda em evolução e uma crise institucional inédita desde a redemocratização. O presidente da República está alienado dos problemas. Entrou em atrito com o Supremo, que é uma instituição vigorosa, e agora com o Senado. Essa crise institucional que vem da Presidência da República é a gota d'água que está causando um pessimismo gigantesco na economia. E ainda o próprio ministro da Economia dando declarações desastrosas. Estamos vivendo a tempestade mais que perfeita. É lastimável, mas tudo isso poderia ter sido evitado.
Como o sr. avalia as manifestações do 7 de Setembro?
Vou tentar ser otimista. Criou-se uma expectativa enorme ao redor destas manifestações do dia 7 de setembro, mas as declarações do cantor Sergio Reis, que alarmaram o País e foram rejeitadas pela sociedade de uma maneira veemente, podem ter furado um balão que estava crescendo. Aquilo que o cantor falou não era uma bravata, mas a rejeição da sociedade pode ter furado o balão. Tenho a esperança de que pode ser muito menor do que o presidente alardeia.
Como está o debate no Senado em torno da indicação do André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal?
Se o presidente da República mandou a indicação do nome dele para o Senado, tem que votar. Simplesmente ficar segurando não é a melhor conduta. Se (o Senado) não gosta e não quer, então vota e rejeita.
Esse cenário político conturbado pode ter reflexo na votação para a aprovação dele?
Claro que pode. Sem dúvida nenhuma. Apesar de ele ter algumas simpatias, à medida que o presidente exacerba suas posições, isso pode prejudicá-lo.
Essa exacerbação do presidente é reflexo do enfraquecimento do capital eleitoral ou só a falta de rumo do governo?
Essa tática de confronto vem desde o início do governo. O primeiro confronto que ele abriu foi com a classe política. Isso gerou uma incompatibilidade com o Parlamento que paralisou o governo. Ele foi de confronto em confronto. Vira uma coisa meio paranoica.
A sociedade reagiu com um manifesto amplo e contundente que reuniu intelectuais, banqueiros, políticos e economistas contra as ameaças de Bolsonaro às eleições. A elite empresarial e financeira do Brasil demorou a se posicionar contra o governo?
Muito. Desde as eleições, essa chamada elite, com honrosas exceções, dentro de um clima anti-Lula, fez qualquer coisa que fosse contra o PT. E essa qualquer coisa foi sem nenhum tipo de qualificação ou mérito. Quem tinha um pouco de noção previu que isso ia acontecer. Até hoje há movimentos que, em nome do antipetismo, levam o País ao caos em um terreno de ameaça às eleições.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.