ROBERTO JEFFERSON NAS “AMARELAS” DE VEJA: “LULA QUER SER PRESO”

Posted On Sexta, 24 Fevereiro 2017 03:18
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Algoz do PT no escândalo do mensalão, o ex-deputado federal Roberto Jefferson diz que operação Lava-Jato tem que tomar cuidado para não transformar ex-presidente em vítima

 

Inteligente, bem articulado e sedutor a ponto de ser cínico sem culpa, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), passou 14 meses na prisão, condenado pelo ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, por causa do seu envolvimento visceral no escândalo do mensalão, no qual teve o papel principal de acusador e principal detrator do ex-todo-poderoso José Dirceu.

Em uma conversa em que não se furtou a assumir pecados, mas tampouco de minimizá-los frente às cifras astronômicas do petrolão – atual escândalo que derruba políticos e empresários a rodo, via Curitiba – Jefferson faz um alerta ao juiz Sérgio Moro para que não prenda o ex-presidente Lula antes das eleições presidenciais de 2018 “para não lhe conferir o papel de vítima, de mártir”, mas, principalmente, para que Lula “sofra a sua maior derrota política, que será o julgamento das urnas, pondo fim ao seu discurso de vítima da caneta da Justiça”.

O próprio Jefferson se diz vítima da “mão pesada” de Joaquim Barbosa em sua condenação e comemora o surgimento de Sérgio Moro, segundo o ex-deputado, “o maior magistrado do Brasil”.

O Paralelo 13 separou alguns dos principais e mais emblemáticos trechos da entrevista de Roberto Jefferson à revista Veja, que circula neste fim de semana.

 

Aos 63 anos, Jefferson recebeu VEJA para uma conversa em seu escritório no Rio: opinou sobre a operação Lava-Jato, desafiou Lula a ser candidato em 2018 e admitiu que o bloco do Centrão usou métodos ilegais para derrubar o PT do poder.

 

Depois de cumprir pena por corrupção e lavagem de dinheiro, o senhor anunciou que pretende voltar a se candidatar em 2018. Por que?

Estou dentro da faixa etária que não deve se aposentar segundo a reforma da previdência. Falando sério, acho cedo para me recolher em casa, tenho muito a dar ainda. Minha carreira foi abruptamente interrompida no passado. Já tive a sentença do Joaquim Barbosa no processo do mensalão. Agora quero saber a avaliação do povo. Esta sim, soberana, muito acima da dele.

 

Acha que Lula também tentará voltar a disputar eleições? Torço para que tente de novo o Planalto. Esta sim será a grande sentença moral que ele irá receber: a derrota nas urnas. Vai valer muito mais do que um mandado de prisão expedido pelo Moro. Contra uma decisão judicial, Lula poderá sempre dizer que é vítima. A cara de pau para inventar discursos é imensa. Já ouvi recentemente que o Moro estava trabalhando para a CIA e que a Dona Marisa foi assassinada.

 

Não considera que ele pode ser preso antes da campanha?

No fundo, é o que ele quer. Lula deseja ser preso para poder ter o discurso de que foi perseguido pela caneta togada do Moro. Ao contrário de 2005, no auge do mensalão, desta vez acho certa a tese do FHC. É importante deixá-lo sangrar até a eleição. Se Lula for preso, vai ter romaria com bandeira de foice e martelo todo dia na porta da penitenciária em Curitiba.

Na época do mensalão, o senhor dizia que Lula era inocente...

É verdade. Na CPI, falei: “Sai daí Zé, antes que faça culpado um homem inocente”. Hoje é diferente, são muitas as evidências: apartamento no Guarujá, sítio em Atibaia e o enriquecimento dos filhos. Mesmo assim, o Moro precisa ser inteligente e não prendê-lo. Lula precisa ouvir um basta da sociedade.

 

O que o senhor vai dizer para o eleitor quando for cobrado pelo envolvimento no mensalão?

Vou perguntar se as pessoas acharam justa a sentença. Também quero saber se consideram que tive alguma importância na transformação que está ocorrendo no país. Fiz uma luta solitária no momento mais forte do PT no poder.

 

Então considerou injusta a sua condenação pedida pelo ex-ministro Joaquim Barbosa no processo do mensalão?

Sim, ele exagerou. Uma coisa é o delito eleitoral, que eu sabia que tinha cometido. Outra é a corrupção. Encarei com serenidade aquela conduta histriônica do Joaquim Barbosa. Ele jogou para a plateia, só não esperava que anos depois apareceria o Sérgio Moro. Sem televisão ao vivo, um juiz de vara de primeira instância se tornou muito maior do que ele. Fico satisfeito de ver que o Joaquim Barbosa não passou para a história como o maior magistrado do país.

 

Essa tese de separar caixa dois e corrupção não é uma conversa conveniente para políticos apavorados com a delação da Odebrecht que vem por aí?

Acho que tem que haver a separação do joio do trigo. Uma coisa é quem recebeu dinheiro por corrupção para facilitar negócio para empreiteira. Outra, o financiamento eleitoral. Não se pode chamar caixa dois de corrupção.

 

Mas essa não é uma linha muito tênue?

Não. Caixa dois houve no Brasil o tempo todo, as empresas não participavam de campanha de outra forma. Elas sempre queriam dar 10% por dentro e 90%, por fora. Ninguém queria ficar exposto e aparecer em prestações de contas bancando um candidato que depois poderia perder a eleição.

 

Foi este o seu caso?

Sim. Recebi 4 milhões de reais em caixa dois na eleição de 2004 em um grande acordo com o PT. Tudo entregue na sede do PTB pelo Marcos Valério em malas de dinheiro.

O eleitor está do seu lado nesta tese?

Claro. Do taxista à caixa do supermercado, todos me cumprimentam hoje em dia. Recentemente, fui almoçar com a minha mulher em um restaurante em Copacabana e fui aplaudido de pé. Muitos dizem: “Obrigado por derrubar o José Dirceu, senão teríamos virado uma Venezuela”.

 

Até onde vai a operação Lava-Jato?

Para o bem dela, acho que está na hora de parar de inventar. É hora de fechar o pacote, senão vira uma guerra napoleônica. Chega de aceitar novas delações. O país tem que andar para frente.

 

O PT acabou?

De jeito nenhum e nem desejo isso. O PT tem um papel importante. São melhores na oposição do que governando.