Relato de ministro demissionário também sugere prevaricação
POR KENNEDY ALENCAR
Washington
Sendo verdade o que disse o ministro demissionário Sergio Moro, o presidente da República cometeu crime de responsabilidade ao dizer que desejava indicar para a direção-geral da Polícia Federal alguém que lhe desse informações sobre investigações sigilosas.
Sendo verdade o que disse Moro, ele prevaricou ao não revelar pressões indevidas do presidente da República que foram feitas desde o segundo semestre do ano passado.
Bolsonaro ficou mal na foto. Mas Moro também, porque trouxe tais informações a público somente depois de ser levado a pedir demissão pelo chefe. Esse relato sugere prevaricação.
Quando Moro diz que Bolsonaro queria um diretor-geral da PF para o qual pudesse ligar e obter informações sigilosas, fica claro que, no cargo de ministro da Justiça, ele testemunhou um crime de responsabilidade do presidente. Bolsonaro precisa dar resposta a acusação tão grave.
Deu ruim
Moro jogou para ficar e perdeu. Ameaçou pedir demissão a fim de ganhar a batalha para manter Maurício Valeixo na direção-geral da PF. Mas Bolsonaro não topou e o forçou a sair.
No governo Lula, Antonio Palocci Filho teve sucesso ao adotar essa tática até o surgimento do caseiro Francenildo. Na administração FHC, Pedro Malan levou todas.
O discurso de Moro de que desejava evitar interferência política na PF não fica de pé. Ele queria ter o monopólio da interferência, a carta branca que Bolsonaro teria lhe dado.
Moro usou o peso da PF para intimidar um porteiro que deu depoimento incômodo para a família Bolsonaro no caso Marielle. Ele tentou destruir material da Vaza Jato em proveito próprio. Não agiu corretamente, apesar de vender um discurso de cavaleiro do combate à corrupção que tem cadeira cativa na praça.
No final do pronunciamento de hoje, Moro se colocou à disposição do país. Abre, assim, a possibilidade de ser candidato a presidente em 2022. Ele continua a ser a principal ameaça à democracia brasileira.
Estranho
Questões de foro íntimo devem ser sempre respeitadas. É legítima a preocupação de Moro com o futuro da família caso algo lhe aconteça. Mas é inusual um magistrado experiente fazer acerto informal de pensão para entrar no governo. Teve contrato de gaveta?