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A SEMANA DA CULTURA DE PORTO NACIONAL DE 2025 FOI JOGADA À BEIRA DO ABISMO, ONDE SE SEGREDA A DESESPERANÇA. APRISIONARAM ALI NOSSOS COSTUMES, TRADIÇÕES E CRENÇAS NUM CERCADINHO ACANHADO, MOLDADO PELO DESMERECIMENTO

Posted On Segunda, 23 Junho 2025 03:56
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Os compêndios menos ilustrativos e com profundidade acurada nas análises sociológicas pontuam, em livre entendimento, que cultura é o conjunto dos traços distintivos — espirituais, materiais, intelectuais e afetivos — que caracterizam uma sociedade ou um grupo social. Abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, os sistemas de valores e a convivência

 

 

Por Edivaldo Rodrigues e Edson Rodrigues

 

 

Esse balaio de costumes, tradições, crenças e saberes, descrito acima, desabrocha naturalmente pelas praças, ruas, ruelas e quintais dos casarões centenários de Porto Nacional. Por aqui, a cultura popular se derrama pelas beiradas — e não é de hoje.

 

As línguas d'água que, há séculos, lambem as barrancas do Rio Tocantins — de Porto Real a Porto Nacional — são testemunhas de que, nessas terras de Félix Camoa, as ladainhas e os benditos ensinados pelos dominicanos franceses desde a segunda metade do século XVIII misturam-se, no balbuciar dos lábios desse povo, aos belos versos de Pablo Neruda, Célio Pedreira e Fernando Pessoa; à literatura exuberante e regionalista, ao mesmo tempo que universal, de Ariano Suassuna e Juarez Moreira; ao academicismo literário de Elizeu Lira e às canções contestadoras de Everton dos Andes. Isso é, acima de tudo, uma cultura com elos seculares.

 

Por essas bandas, em Porto Nacional, as cantigas, o dedilhar da viola e o dançar na terra bruta são embalados por um vento que singra a linha do tempo há quase 300 anos, agigantando esse fazer cultura — que tem o molde, o sangue, a determinação e o idealismo de uma ancestralidade exemplar. É isso que nos concede esse lugar de fala.

 

 

Muitos dos que hoje se dizem representantes dessa cultura portuense, em atos e ações, não têm esse direito, esse lugar de fala. São apartados da nossa história, distanciados dos nossos costumes, crenças e tradições — princípios que alimentam a alma dessa coletividade, agora órfã de representatividade institucional.

 

Os anos avançam, e a municipalidade persiste em lançar nossa cultura à beira do abismo, onde se segredam a desesperança e o grito de um povo que clama por sua vivência histórica. É um desmerecimento ao passado que cimentou os pilares deste presente, preparando um futuro de cidadania plena.

 

Esse retrato, outrora esplendoroso, abriu espaços de visibilidade para escritores, poetas, músicos, artesãos, dançarinos e empreendedores, dentre outros — uma junção de representatividade maiúscula, ornada pelos princípios de nossa ancestralidade.

 

 

Por isso, nenhum argumento é aceitável para a não realização da Semana da Cultura de Porto Nacional, prevista em lei, como ocorreu em anos anteriores. Pior ainda quando a improvisam, como em 2025. Encurralaram nossos quase três séculos de história num cercadinho acanhado, de piso agorgulhado  estampando a frase apelativa — para alguns desavisados — de que "O Tocantins Nasceu Aqui". Sorriram, ali, de nossa desmobilização e do silêncio dos que ainda têm voz.

 

Sabemos das limitações orçamentárias do Executivo portuense, de suas prioridades e acordos políticos. Mas uma gestão é feita de escolhas — e o chefe do Executivo portuense escolheu pessimamente ao nomear o titular da Secretaria Municipal de   Cultura e Turismo. Talvez ele tenha currículo invejável, mas, pelo desconhecimento e pela primariedade no setor é muito diminuto diante da grandiosidade da cultura da centenária Porto Nacional. Pelo histórico retratado, ele não cabe e não se encaixa no processo de consolidação de nossa trajetória centenária.

 

 

Se quisesse acertar, o mandatário portuense poderia ter buscado nas escolas superiores, nas instituições sociais, nas entidades classistas, em visita à Colônia dos Pescadores, nos bordéis, ou até mesmo no terreiro dos fazedores de cultura — onde certamente estão nomes à altura dessa pasta. Certamente encontraria um ser abençoado pelo nosso Santo Padre Luso, alguém conhecedor do legado de Dom Alano, sabedor dos inesquecíveis bailes de carnavais no Salão do Light  Clube, ou dos resultados dos benzimentos do Terreiro Sete Flchas, e da trajetória entre o sagrado e o profano que nos agiganta enquanto sociedade. Em vez disso, optou por um gestor que se atem a ideias e projetos rasos, incapazes de emoldurar 285 anos de história com a magnitude merecida.

 

Optou por alguém que não tem a leveza intelectualizada de povo portuense, nem tão pouco bebe na cacimba da humildade, reservada aos compromissados com o pioneirismo  humanista de Porto Nacional. Ele, ao externar arrogância e prepotência, desqualificando seus auxiliares e sevidores da pasta, baixa ao nível apequenado dos que são desnecessários, em qualquer ambiente de convivência humana hurbanizada.

 

Prefeito Ronivon Maciel 

 

Isso porque os servidores da Secretaria de Cultura e Turismo de Porto Nacional, são competentes e dedicados e sempre cumpriram suas obrigações com excelência. Sob o comando adequado, fariam brotar água da pedra para celebrar nossa ancestralidade. Mas, em 2025, desamparados e mal geridos, não puderam evitar esse retrato amarelado de um passado brilhante.

 

Secretário de Cultura e Turismo de Porto Nacional, Jerfeson Nascimento

 

A Semana da Cultura de Porto Nacional só foi representativa quando houve competência e parceria — quando o secretário saiu do gabinete e uniu-se à sociedade organizada, ao mundo acadêmico e aos artistas. O que era um evento espetacular, referência para tantas expressões artísticas, tornou-se um remendo cultural, um desmantelo da história de nossos antepassados.

 

Em 2025, o desrespeito somou-se ao despreparo, ao improviso e à ignorância sobre nossos valores. O resultado? Fracasso institucional e a frustração de um povo que luta para não perder seu lugar de fala.

 

Que a Semana da Cultura de 2026 seja um renascimento — que vivamos nossas tradições com a exuberância que merecemos.

 

Que Deus e os anjos nos ajudem!

 

ESSE É O PENSAMENTO DA FAMÍLIA PARALELO 13.

 

 

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