Cunha prega ‘voto útil contra PT’, Chinaglia conta com apoio de Kassab, Delgado mira nos votos do PSDB e Chico Alencar fala em ‘resgate da representação parlamentar’.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Arlindo Chinaglia (PT-SP), Júlio Delgado (PSB-MG) e Chico Alencar (PSOL-RJ) disputam no próximo domingo (1º) o voto dos demais 509 colegas, em eleição secreta na Casa.
Apontado como favorito, Cunha precisa convencer, especialmente os governistas, que não será um presidente com viés oposicionista. Apesar de liderar a bancada do PMDB, principal aliado na coalizão de Dilma Rousseff, o Planalto tem forte resistência ao seu nome por, entre outros motivos, ele ter liderado a rebelião legislativa contra o governo em 2014.
Na ocasião, ministros chegaram a ser convocados em série no Congresso. Entre as razões da insatisfação, a velha reclamação de falta de diálogo com o Planalto e o não atendimento dos pleitos por cargos e verbas. Cunha nega que sua eventual gestão abalará a governabilidade, embora não esconda o ressentimento pela atuação de ministros palacianos a favor de Chinaglia.
Na avaliação de alguns, pesa ainda contra Cunha a bandeira da renovação e da ética, que costuma ser pregada pelos novos deputados. Dos 513 que tomam posse no dia 1º, 198 estreiam no Legislativo.
Citado no esquema de corrupção da Petrobras, Cunha será alvo de um pedido do Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ser investigado. Ele nega ligação com o caso. Do lado petista, Chinaglia tenta se descolar do rótulo de palaciano tendo em vista o desgaste que o governo vive na Casa - os mesmos que motivaram a rebelião de 2014.
Deputados costumam repetir que o sentimento anti-PT que esteve presente na eleição se reproduz na corrida pelo comando da Câmara.
Há ainda reclamações de que Dilma atuou para enfraquecer o papel do Congresso e não cumpriu acordos para liberar verbas de emendas de deputados ao Orçamento.
Presidente da Casa em 2007 e 2008, Chinaglia ficou conhecido pelo estilo duro de se relacionar com colegas.
Considerado azarão, mas com densidade maior que a de Alencar, Júlio Delgado tenta minimizar o rótulo de ‘caçador’ de deputado. O apelido faz referência ao fato de ele ter relatado os processos de cassação dos petistas José Dirceu, envolvido no mensalão, e André Vargas (sem partido), por ligação com presos do esquema de corrupção na Petrobras.
Alinhado com a oposição, ele justifica que não tem prazer na tarefa, mas responsabilidade com a Casa. E diz apostar nos novos deputados: “Meu trabalho principal é de convencimento dos novos, que trazem das ruas esse sentimento de mudança”, disse.
Empate técnico
Conforme contabilidade extraoficial, que é modificada a cada dia, Cunha contaria com a garantia de votos de cerca de 160 deputados, vinculados ao PMDB, PTB, DEM, PSC, SD e PRB. Por sua vez, Arlindo Chinaglia teria 140 votos prometidos, de parlamentares do PT, PROS, PCdoB, PSD e PDT. E Júlio Delgado teria 100 votos, do PSB, PSDB, PPS e PV. O candidato do PSol, deputado Chico Alencar (PSol-RJ), que apresentou sua candidatura na última semana, conta apenas com os votos do seu partido – cinco.
“A campanha para a presidência da Câmara é diferente de uma eleição. Pesa muito a aproximação pessoal dos deputados com os candidatos durante o período de legislatura”, comentou Chinaglia, no início de janeiro.
“Não vai haver segundo turno. Apesar dos empecilhos causados por aqueles que tentam denegrir a minha candidatura, vou ganhar já neste domingo”, afirmou em tom de segurança Eduardo Cunha, numa referência à gravação que ele disse ter recebido de um representante da Polícia Federal que tramava sua incriminação na operação Lava Jato. Áudio que no dia seguinte peritos disseram aparentar ter sido forjado.
Cunha tem procurado deputados pedindo para que considerem um “voto útil” à sua candidatura contra o PT. Cunha, que nos últimos anos protagonizou vários trancamentos da pauta do Congresso, impôs dificuldades na votação de matérias encaminhadas pelo Palácio do Planalto e várias vezes pregou uma postura independente do governo, agora tenta amenizar o tom de suas declarações.
O peemedebista ressaltou, nos dois últimos almoços dos que participou com parlamentares, que mesmo buscando uma independência não deixará de manter o seu apoio ao Executivo, até porque faz parte do PMDB. “Arlindo Chinaglia foi um presidente da Câmara medíocre, quando governou a Casa (no período entre 2007 e 2008)”, disse.
“Não vejo essa movimentação de ministros para apoiar minha candidatura como ele (Cunha) tanto tem criticado. Eu dizia desde o começo que se fosse me basear em tudo o que estava sendo publicado sobre esta eleição, minha candidatura estaria perdida, mas não achava que seria bem assim”, enfatizou, por sua vez, Arlindo Chinaglia.
“A nossa diferença em relação aos outros é não estar vinculado ao governo. Independência é votar matéria sem vinculação com indicação de ministro e sem perder ministro porque votou de uma forma ou de outra", salientou, com outro programa de trabalho, o candidato Júlio Delgado. “Nossa plataforma é de resgate da representação parlamentar e em defesa de uma pauta progressista”, acrescentou Chico Alencar.
O resultado poderá definir uma nova base aliada para o governo, assim como as fragilidades a serem observadas em várias legendas – tanto da situação como da oposição.
Com informações da FOLHAPRESS
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