Mantega usa tática do avestruz: "Brasil não está em recessão"
Diante da constatação técnica de duas quedas trimestrais seguidas do PIB, ministro da Fazenda culpa Copa e crise externa por redução, em postura que prejudica ainda mais a confiança dos analistas na economia.
O rombo nas contas do governo federal no mês de julho foi de R$ 2,2 bilhões, de acordo com o Tesouro Nacional. Esse foi o pior déficit para um mês de julho desde 1997, quando a série estatística foi iniciada. O resultado afasta cada vez mais o governo da meta de superávit primário. Para piorar a situação o IBGE anunciou que a economia do País recuou 0,6% neste segundo trimestre e segundo especialistas levou o País a recessão.
As receitas aumentaram 8,5% no mês, enquanto as despesas tiveram um acréscimo de 11,5%, aumento puxado pelos custos com pagamento de pessoal. O governo espera arrecadar até R$ 20 bilhões com o pagamento de dívidas tributárias atrasadas, facilitado pelo programa do governo de parcelamento, o Refis. Só em agosto, Augustin estima a entrada de R$ 5 bilhões em função do programa.
O governo também conta com outra receita extraordinária expressiva, a do leilão das faixas de frequência para 4G, que deve somar aos cofres públicos algo em torno de R$ 8 bilhões. Mesmo assim, é pouco factível a meta de poupar R$ 99 bilhões (1,9% do PIB) até dezembro. De janeiro a julho, o governo poupou R$ 15,2 bilhões.
Outro fator que pesou para o mau resultado fiscal de julho foi a queda no repasse de dividendos das estatais, expediente muito usado pelo Tesouro. Em junho, esse valor foi de R$ 1,5 bilhão, enquanto que em julho esse valor caiu para R$ 5,2 milhões (queda de 99,7%).
A poupança do governo de janeiro a julho, de R$ 15,2 bilhões, foi 60% menor do que o desempenho fiscal do governo nesse mesmo período no ano passado. Além do fraco desempenho da economia, o Tesouro vem apontando também como causa dos seus deficits fiscais –em junho o rombo foi de R$ 1,9 bilhão– os feriados da Copa e seus efeitos na atividade econômica.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, culpou o cenário internacional, a seca e a Copa pelo resultado negativo da economia brasileira no segundo trimestre. O ministro nega que o país tenha entrado em recessão. ” Não há parâmetros universalmente aceitos para definir o que é uma recessão. O segundo trimestre foi influenciado pelo primeiro e se houver uma revisão, você deixa de ter dois trimestres negativos. Não se deve falar em recessão no Brasil pois, para mim, recessão é quando se tem uma parada prolongada, de vários meses. Aqui estamos falando de um, no máximo dois [trimestres]. E recessão é quando se tem desemprego. O emprego continua crescendo e a massa salarial também. Não dá para dizer que a economia está parada. O mercado consumidor não está encolhendo.”
O ministro também atribuiu o baixo desempenho do PIB às medidas adotadas pelo Banco Central para combater a inflação. “A política monetária restritiva, que foi necessária, causou uma redução de consumo de 0,7% a 1% considerando o PIB anualizado”.