O ministro Edson Fachin encaminhou ao plenário virtual do Supremo Tribunal Federal (STF) o recurso da Procuradoria-Geral da República (PGR) que contesta a homologação da delação premiada do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral.

 

De Notas & Informações - Estadão Conteúdo

 

Trata-se de uma excelente oportunidade para o colegiado do Supremo, à luz da experiência destes anos em que o instituto foi incorporado à legislação brasileira, proporcionar uma aplicação da colaboração premiada mais madura e em maior conformidade com os princípios constitucionais.

 

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a delação foi importada de outro sistema jurídico, com pressupostos e regras diferentes dos daqui. Feita sem os devidos cuidados, sua incorporação ao ordenamento brasileiro acarretou não pequenos problemas. Por exemplo, em 2019, em respeito ao princípio da ampla defesa, o Supremo precisou definir que, nos processos penais com réus delatores e delatados, estes tinham o direito de apresentar por último suas alegações finais.

 

Além disso, as partes envolvidas na delação têm atributos diferentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, a promotoria está sujeita a constante controle popular, uma vez que os cargos são preenchidos por eleição, e não por concurso. Aqui, a colaboração premiada ampliou os poderes do Ministério Público e da Polícia Federal – por exemplo, negociam a pena com o colaborador –, mas suas responsabilidades continuaram as mesmas.

 

Ao lidar com as delações, o Judiciário deve ter especial zelo com o princípio da presunção de inocência e com a proteção da honra. Isso se aplica a todas as colaborações premiadas, envolvam ou não ministros do Supremo. Na delação de Sérgio Cabral, há acusações contra o ministro Dias Toffoli.

 

Uma colaboração premiada pode destruir a honra de uma pessoa ou em certos casos a reputação da instituição à qual ela está vinculada. Por isso, cabe à Justiça ser rigorosa, fazendo uma apuração exaustiva dos fatos acusatórios antes de dar-lhes publicidade.

 

A Lei 13.964/2019 definiu parâmetros precisos, não discricionários, sobre o momento em que o conteúdo de uma delação pode se tornar público. “O acordo de colaboração premiada e os depoimentos do colaborador serão mantidos em sigilo até o recebimento da denúncia ou da queixa-crime, sendo vedado ao magistrado decidir por sua publicidade em qualquer hipótese.”

 

A delação nada mais é do que a palavra de uma pessoa envolvida em práticas criminosas, relatando crimes de terceiros, em troca de uma pena menor. Não há contexto de isenção. Por isso, seria equivocado tomar essas declarações como verdadeiras, sem antes realizar uma rigorosa apuração.

 

Precisamente porque o delator é parte interessada, a delação não é condição suficiente para condenar criminalmente uma pessoa. Em sua versão original, a Lei 12.850/13 já dispunha que “nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador”.

 

Depois de seis anos de vigência da lei – e com a experiência de uma excessiva e desproporcional valorização da palavra do delator ao longo desse período –, o Congresso fixou limites ainda mais precisos para o valor probatório da delação. “Nenhuma das seguintes medidas será decretada ou proferida com fundamento apenas nas declarações do colaborador: (i) medidas cautelares reais ou pessoais; (ii) recebimento de denúncia ou queixa-crime; e (iii) sentença condenatória”, dispôs a Lei 13.964/2019.

 

Além disso, para que o sistema penal possa funcionar com um mínimo de segurança, delações falsas ou incompletas devem ser tratadas com rigor. Muitas vezes, a Justiça permitiu aditamentos e remendos – o que faz com que a palavra do delator mereça ainda menos crédito.

 

À luz da Constituição, cabe ao Supremo corroborar os critérios definidos pelo Congresso em 2019, conferindo à delação o valor que lhe cabe, sem exageros e sem ingenuidades. Em vez de contribuir para reduzir a impunidade, seu uso indevido gera ainda mais desequilíbrios ao sistema penal, além de desrespeitar importantes princípios constitucionais.

 

Posted On Quarta, 19 Mai 2021 04:57 Escrito por O Paralelo 13

Por Rubens Figueiredo *

 

Dois políticos chegaram ao status de semideuses no imaginário da sociedade brasileira: Lula e Sérgio Moro. Lula, porque colocou comida na mesa e TV de tela plana nas paredes das casas dos eleitores mais humildes. Sérgio Moro, porque levou à opinião pública uma ideia de Justiça na qual ninguém acreditava: no Brasil, ricos e poderosos também podem ir para a cadeia.

 

Lula, no final do seu segundo mandato, chegou a inacreditáveis 82% de ótimo de bom, segundo o Datafolha. É bem verdade que contou com um monumental e eficiente esquema de comunicação. Moro, em março de 2016, apenas com mídia espontânea, chegou a 65%. Nada mal para um juiz de Curitiba, até então pouquíssimo conhecido e sem nenhum carisma nas telas de TV.

 

A Lava Jato era unanimidade nacional. As operações se sucediam a um ritmo alucinante e Moro virou um juiz superstar, algo tão conveniente quanto um diretor de bateria de escola de samba desanimado. Esperto, Bolsonaro percebeu que ele poderia representar, em seu governo, um dos eixos de sua campanha: o combate à corrupção. O liberalismo ficaria com Paulo Guedes e a pauta dos costumes seria gerida pela infantaria ligeira, com Damares, Ricardo Salles, Ernesto Araújo etc.

 

Hoje, o inexperiente Moro é mais interessante para Bolsonaro do que Lula. Comida na mesa e TV na parede são mais concretos do que um ideal de Justiça. A aprovação do trabalho do juiz de Curitiba caiu de 65 para 45%, ele – pasme – trabalha num escritório que defende a Odebrecht e sua saída do governo Bolsonaro o chamuscou. Ainda é forte, mostram as pesquisas. Agora colocado sob suspeição, é uma pálida sombra do que foi.

 

* É CIENTISTA POLÍTICO PELA USP

Posted On Quarta, 24 Março 2021 07:15 Escrito por O Paralelo 13

Coletiva do Instituto Butantan nesta terça-feira (11) reuniu pesquisadores para detalhes sobre o estudo da Coronavac. Eficácia global da vacina na pesquisa com profissionais de saúde na linha de frente da pandemia foi de 50,4% 

 

Por Luiza Caires

 

“A melhor vacina é a que está disponível mais rápido e que pode vacinar mais gente, e a melhor saída da pandemia é ter alguma vacina razoavelmente eficaz e segura”. A frase do médico e pesquisador da USP Marcio Sommer Bittencourt refletiu o tom que parte da comunidade científica tenta transmitir à população em relação à Coronavac. Cinco dias após a divulgação ao público de parte das informações e quatro dias após a submissão à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do pedido para seu registro emergencial, o Instituto Butantan apresentou, nesta terça-feira (11), mais números e a metodologia da vacina contra a covid que desenvolveu com o laboratório Sinovac.

 

Na quinta-feira (7) uma coletiva de imprensa informou que a vacina apresentou eficácia de 78% para prevenir casos relativamente leves, mas que precisam de algum tipo de assistência médica, e 100% para prevenir casos graves, que demandam internação, assim como óbitos. Faltava a porcentagem global de eficácia, que incluía casos da doença, em qualquer nível de gravidade. É o que, no estudo, os especialistas chamam de “desfecho primário”. Levando isso em conta, a eficácia da vacina é de 50,4%. Ou seja, a chance de desenvolver a doença tomando a vacina, por este estudo, é cerca de 50% menor para quem foi vacinado quando comparado a quem não foi. E a chance de, mesmo infectado, não desenvolver sintomas graves com necessidade de assistência e nem ir a óbito é 78% menor entre quem tomou a vacina. Este último número é o que os especialistas chamam de “desfecho secundário”, ou desfecho clínico.

 

Como ponto favorável à vacina, o diretor do estudo Ricardo Palácios ressaltou que o estudo foi desenhado para ser o mais rigoroso possível, sugerindo que a eficácia global pode ter caído por isso. Ela foi testada em profissionais de saúde em contato direto com pacientes com coronavírus – o número de casos em trabalhadores que atuam na linha de frente contra a covid é maior. “Se quisermos comparar os diferentes estudos, é como comparar uma pessoa que faz uma corrida num terreno plano com outra que corre num terreno íngreme e cheio de obstáculos. Isso foi o que fizemos: colocar obstáculos”, disse. Participaram 12.476 pessoas em 16 centros clínicos localizados em oito Estados brasileiros.

 

Presente no evento, a presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC) Natália Pasternak chamou a atenção para a efetividade da vacina no “mundo real”. De acordo com a microbiologista, não adiantaria termos uma vacina com 90% de eficácia e poucas pessoas imunizadas porque a vacina não chegou até elas. Por exemplo, porque não temos freezers adequados para armazená-las. Natália ressaltou que a Coronavac tem potencial de prevenir casos graves e mortes e agora é preciso investir o quanto antes numa campanha publicitária e de vacinação.

 

Para ela, essa vacina é só o começo do fim da pandemia, e as medidas de prevenção devem continuar. Podem surgir outras melhores, inclusive essa mesma continua sendo pesquisada, aprimorada. “Se essa vacina é o começo, vamos começar!”, concluiu.

 

Marcio Bittencourt, que integra Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica Hospital Universitário (HU) da USP, também defende os benefícios da Coronavac. “Para uma vacina desenvolvida em um ano, que pode ser produzida em larga escala localmente, distribuída facilmente sem problemas, acho um espetáculo. Sim, tem outras que nas pesquisas foram melhores, mas se você não consegue distribuir não adianta nada”, diz. E ilustra:

 

“Sendo simplista, ao vacinar 1 milhão com vacina que reduz 95%, o máximo que você protegeu foram 950 mil pessoas. Mas ao vacinar 200 milhões com uma vacina que reduz 50%, você protege até 100 milhões de pessoas. E entre os que pegam, a maioria nem de médico precisa.”

 

Segurança

Nas etapas anteriores, os cientistas já haviam concluído que a Coronavac era segura e eficaz em produzir imunidade. A fase 3 foi realizada principalmente com o objetivo de saber se o imunizante, de fato, impedia que uma pessoa ficasse doente. Mesmo assim, continuam sendo acompanhados quaisquer reações e eventos adversos com os participantes.

 

Como mais um ponto a favor da segurança do produto, André Siqueira, pesquisador da Fiocruz que atuou como pesquisador principal do estudo da Coronavac no Rio de Janeiro, ressalta que a taxa de eventos adversos nos grupos placebo e vacinados foram similares, e menores em ambos os grupos após a segunda dose. Entre as reações foram relatadas dor no local da aplicação, dor de cabeça e fadiga.

 

A Anvisa tem dez dias para responder ao pedido de uso emergencial, após a entrega de todos os dados. O pedido de registro definitivo no Brasil, segundo o diretor do Butantan, deve ser feito pela Sinovac, assim como o pedido de registro em outros países, conforme os dados todos forem consolidados. “A Sinovac recolhe os dados dos estudos e é ela que submete o pedido de registro, inicialmente à MNPA, que é a ‘Anvisa chinesa’, e também à Anvisa ”, disse Dimas Covas.

 

Detalhando os dados

Durante o evento desta terça, foram apresentados os principais números do estudo. No grupo placebo, 3,6% dos participantes tiveram covid-19 (167 em um total de 4599). No grupo vacinado, 1,8% pegaram a doença (85 em um total de 4653).

 

No grupo placebo, 0,7% (31 participantes entre os 4653) precisou de assistência médica por covid-19. No grupo vacinado, somente 0,15% (7 de 4599 participantes) precisou de assistência médica. Ao comparar 0,15%, com 0,7%, chegamos a taxa de 78% pessoas a menos desenvolvendo sintomas graves.

 

Para André Siqueira, os resultados são positivos na prevenção de infecções que sobrecarregam os serviços de saúde, em especial infecções graves, de modo que podem ter um impacto relevante para saúde pública. “O quão impactante vai depender do número de doses disponibilizadas, da cobertura populacional nos diferentes Estados e da rapidez desta administração”, fatores que, destaca ele, não estão claros no plano de imunização divulgado pelo Ministério da Saúde.

 

Ele explica que a taxa de eficácia de 78% apresentada pelo Instituto Butantan foi calculada utilizando como desfecho principal um índice da OMS (ver tabela abaixo), mas considerando somente a pontuação maior ou igual a 3, comparando-se o grupo vacinado e o não vacinado. “Este score vai de 0, que é o assintomático, a 10, que é óbito; 2 é o paciente sintomático, mas independente; 3 é quando a pessoa é confirmada para infecção pelo coronavírus, sintomática, e tem necessidade de intervenção, mas perdeu de certa forma a independência do 2, que é paciente com sintoma leve.”

 

Já a taxa de 100% foi atingida considerando as formas graves, acima de 4, que precisam de internação. Ou seja, o que não entrou na conta dos 78%, e que não havia sido apresentado ainda pelo governo, eram o grupo 2, que é a infecção sintomática mas que não demanda cuidados médicos, e os assintomáticos.

 

Coronavac

 

A vacina da Sinovac é produzida com vírus inativado, incapaz de causar a doença. Quando introduzida no organismo, ativa o sistema imunológico para que ele reconheça aquele corpo estranho e produza anticorpos para se defender.

 

Os testes mostraram que serão necessárias duas doses da Coronavac – aplicadas em intervalos de 21 dias para garantir imunidade. Segundo o secretário de Estado da Saúde Jean Gorinchteyn, São Paulo já tem disponíveis 10,8 milhões de doses da vacina, e até a primeira quinzena de fevereiro chegarão mais 35 milhões. Dimas Covas anunciou que o Instituto Butantan tem capacidade para produzir 1 milhão de vacinas por dia.

 

O governador João Doria afirmou que a primeira fase da campanha de vacinação deve iniciar em 25 de janeiro deste ano. Profissionais de saúde, indígenas e quilombolas vão receber as primeiras doses.

 

Eficácia tira foco de outras discussões

O médico e pesquisador do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP José Galucci Neto acredita que estamos voltando muita atenção à questão da eficácia, quando esse não é um problema. “A nossa maior chance de fracassar será na hora de transformar a vacina em um programa efetivo de vacinação que atinja a população, capilarize”.

 

Para ele, considerando que essa será uma campanha de vacinação imensa, talvez a maior da história do país, o Ministério da Saúde teria que ter mobilizado de maneira coesa sociedade civil, profissionais de saúde, e a classe política, os governos federal e estaduais. “Mas não houve até o momento nenhum tipo de campanha nem de esclarecimento nem de mobilização. Pelo contrário, as mensagens são sempre ambivalentes, ambíguas.” Para Galucci Neto, tudo indica que o Governo Federal assumiu o risco de não se preparar acreditando que a pandemia de alguma maneira estivesse menos impactante agora ou já controlada. Haja vista que não adquiriu insumos como seringas, e está dependendo de estoques que podem ser usados mas teriam como endereço outras campanhas vacinais, como sarampo, BCG que vão ter que acontecer em paralelo.

 

“Não sabemos como está o PNI [Programa Nacional de Imunização], o quanto foi desestruturado, e se vai ter a mesma potência que tinha antes. Na época do H1n1, o PNI vacinou 80 milhões de pessoas em 3 meses. Mas eles já tinham, antes de começar a campanha, 100 milhões de doses da vacina estocadas e insumos preparados”, recorda. “Acho improvável, da maneira como as coisas estão sendo feitas, que o Ministério da Saúde consiga dar conta das duas coisas de maneira organizada” Com tudo isso, o pesquisador acha que discutir neste momento se a eficácia é 50 ou 60% acaba sendo “picuinha”, ainda que ele tenha críticas sobre a maneira como foi feita a comunicação do Governo Estadual sobre a Coronavac. “Passando dos 50%, o Ministério teria que estar preparado para começar a vacinação assim que a Anvisa aprovar, mas não está. Honestamente, estou muito preocupado”.

Política de uso

A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo

 

 

Posted On Quarta, 13 Janeiro 2021 04:21 Escrito por O Paralelo 13

Joe Biden publicou um artigo em uma das revistas mais populares sobre assuntos militares nos EUA, a Foreign Affairs. O nome do texto é Why America Must Lead Again Rescuing U.S. Foreign Policy After Trump (Por que a América deve liderar novamente. Resgatando a política externa dos EUA após Trump).

 

Por André Galindo da Costa

 

O conteúdo do texto serviu como base para as políticas externas aprovadas em agosto de 2020 pelo Partido Democrata para a campanha eleitoral de Biden, o que permite extrair um conjunto de elementos que deve pautar as ações dos EUA no mundo para os próximos quatro anos.

 

 

Críticas a Trump

Em seu artigo, Joe Biden deixa claro que irá romper com a doutrina de política externa praticada por Donald Trump. O novo presidente considera que Trump teria afastado-se de aliados históricos dos EUA e, com isso, enfraquecido a liderança dos EUA no mundo. Biden garante que na sua presidência irá renovar tais alianças e fazer com que os EUA tornem-se novamente o grande líder mundial.

OTAN

Para Biden, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é parte intrínseca da segurança nacional dos EUA. Trump realizou críticas constantes e ameaçou tirar os EUA e reduzir investimentos na OTAN. Joe Biden, por sua vez, anuncia que irá aumentar os investimentos na aliança militar e criar estímulos para que os países europeus façam o mesmo. Os aumentos com despesas em defesa buscarão reforçar a condição da OTAN de mais poderosa força militar do mundo, segundo o presidente eleito.

 

Cúpula pela “democracia”

Em seu artigo, ele também se compromete a realizar uma cúpula global em defesa da democracia, durante seu primeiro ano de governo. O novo Presidente dos EUA afirma que só farão parte desse evento as nações do “mundo livre” e as organizações da sociedade civil que praticam a defesa da democracia.

Segundo ele, esse evento servirá como fórum de decisão coletiva sobre os regimes que representam uma “ameaça global”. Sendo bastante tendencioso, ao tentar definir o que são nações do “mundo livre” e “ameaças globais”, a intenção evidencia que farão parte da cúpula apenas países que possuem alinhamento histórico com os EUA: Reino Unido, França, Alemanha, Israel, Canadá, Japão, Colômbia, Chile, etc.

 

Como “ameaças globais” devem ser enquadradas nações que se contrapõem às investidas imperialistas dos EUA e que possuem projetos mais autônomos de desenvolvimento, como Cuba, Venezuela, Nicarágua, China, Síria, Irã, Iêmen, Bielorrússia e Rússia. Assim, como o governo de Barack Obama, os EUA devem promover revoluções coloridas, troca de regimes, golpes de Estado, guerras híbridas e até mesmo guerras quentes com invasões e bombardeios nas nações que consideram ameaças globais.

 

China e Rússia

Biden afirmou que o aumento da capacidade militar da OTAN objetiva conter “violações de normas internacionais” e “agressões russas”. Também propõe a criação de uma frente única de nações com o propósito de conter possíveis violações dos direitos humanos e “ofensivas chinesas”. Isso faz crer na possibilidade de intensificação da ingerência dos EUA em conflitos na periferia da Rússia: Azerbaijão, Armênia, Ucrânia, Geórgia, Quirguistão, Moldávia e Chechênia. Há também expectativa de acentuação de tensões militares no mar do Sul da China. Podem retomar a agenda de protestos em Hong Kong e promover ações que inviabilizem as novas rotas da seda.

 

Liderança mundial dos EUA

Biden considerou a possibilidade de os EUA servir como um grande guia do mundo, algo que, segundo ele, aconteceu nos últimos 70 anos. Para o novo presidente, os EUA teria exercido liderança no estabelecimento de regras internacionais, algo que sempre se deu tanto em governos democratas, como em republicanos, mas que foi interrompido por Donald Trump. Joe Biden afirma que em seu governo a liderança mundial dos EUA será revivida.

 

O que esperar do governo Biden?

A diretriz da política externa de Biden contou com a participação de mais de dois mil conselheiros militares e de política externa. No total, 130 membros do Partido Republicano conhecidos em âmbito nacional declararam apoio a Biden. Dentre esses republicanos está John Negroponte, diretor de inteligência nacional (2005-2007) e secretário de Estado adjunto (2007 – 2009) no governo de George W. Bush. Negroponte exerceu um importante papel nas guerras contra Afeganistão e Iraque, sendo o primeiro embaixador dos EUA no Iraque após a consolidação da invasão estadunidense em 2004.

 

Essa aliança entre membros do partido republicano, em sua maioria neocons, e democrata, em sua maioria imperialistas humanitários, no apoio a Biden e em oposição a Trump evidencia as entranhas do estado profundo (deep state). As divergências entre republicanos e democratas que na política interna estão relacionadas a temas como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e igualdade racial e de gênero, não se manifestam na política externa. Esses dois partidos parecem estar alinhados na pauta imperialista de expropriação estrangeira e, portanto, formam um único partido, que é o partido da guerra.

 

Antecedentes de Biden

Como presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, em três ocasiões, entre 2001 e 2009, Joe Biden prestou importantes contribuições para as guerras do Afeganistão e Iraque no governo de Georg W. Bush. Em 2001, Biden apoiou abertamente a invasão proposta pelo Presidente George W. Bush ao Afeganistão em 2001. Em 2002, foi o responsável pela resolução do Senado que autorizou a invasão de Bush ao Iraque sob a acusação de Saddam Hussein manter armas de destruição em massa. As provas apresentadas pelos EUA sobre as armas iraquianas resultaram falsas.

 

Em 2007, Biden aprovou, no Senado, um plano que dividiu o Iraque em três regiões autônomas por grupos étnicos ou religiosos: curdos, xiitas e sunitas. O desmembramento do Iraque acirrou conflitos regionais internos, enfraquecendo a unidade e gerando um processo de balcanização. Como vice-presidente de Barack Obama (2009 – 2016), Biden foi um fervoroso apoiador das guerras na Líbia e Síria e incitou um confronto com a Rússia. As decisões sobre guerras tomadas pelo governo democrata de Obama sempre tiveram amplo apoio dos congressistas republicanos.

 

Referências

BIDEN, Robinette Joseph. Why America Must Lead Again. Rescuing U.S. Foreign Policy After Trump”. Foreign Affairs, março/abril, 2020.

 

BIDEN, Robinette Joseph. Biden Harris: a presidency for all americans. The power of America’s example: the Biden plan for leading the democratic world to meet the challenges of the 21st century. Disponível em: < https://joebiden.com/americanleadership/&gt; Acesso em: 21/12/2020.

 

DINUCCI, Manlio. Voltaire Network. La politica estera di Joe Biden. Disponível em: < https://www.voltairenet.org/article211595.html&gt; Acesso em: 21/12/2020

Fonte: Texto publicado originalmente no site Diálogos do Sul.

Link direto: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/biden-para-a-america-latina/67969/senhor-da-guerra-em-artigo-joe-biden-define-politica-externa-para-proximos-4-anos

André Galindo da Costa
Doutor em Ciências pelo Programa de Integração da América Latina PROLAM, da Universidade de São Paulo (USP)

 

 

Posted On Domingo, 10 Janeiro 2021 06:54 Escrito por O Paralelo 13

Nizan Guanaes

 

Eu fiz uma cirurgia bariátrica há muitos anos, de maneira estabanada, para me livrar dos meus antigos 150 quilos. Meu pai morreu do coração aos 45 anos, e eu não podia continuar com aquele peso. O médico diz que você vai poder comer de tudo. O problema é que você passa a beber de tudo também.

 

Eu quase virei alcoólatra. Como, aliás, acontece com muitas pessoas que fazem bariátrica sem se preparar antes e sem supervisão depois. E foi para cuidar dos meus excessos — de cigarros, bebidas, cafés, refrigerantes e remédios para dormir -  que eu, graças a Deus, conheci o médico psiquiatra Arthur Guerra. Ele transformou a minha vida não me entupindo de mais remédios, mas tirando esses remédios e me entupindo de esportes.

 

Guerra me botou para fazer triatlos e maratonas e me fez descobrir um mundo que acorda às 5 da manhã e dorme exausto e feliz às 10 da noite.

 

Mas, de tudo o que Arthur Guerra me ensinou, nada é mais brilhante do que a pergunta dele que eu coloquei em cima da minha mesa de trabalho e a que tento responder todos os dias: “Nizan, você aguenta ser feliz?”. Esta, querido leitor e querida leitora, é a pergunta que dou de presente de Ano Novo depois de um ano de tantas tristezas, mas também superações. Você aguenta ser feliz?

 

A pessoa luta para alcançar determinados objetivos na vida e, se e quando consegue atingi-los, quer mais e mais. A gente sonha com uma meta e, quando chega lá, começa a sofrer atrás de outra mais distante. Pedimos aos céus o que não temos, em vez de agradecermos o que já temos. E, quando atingimos o que tanto queríamos, aí queremos neuroticamente um novo objetivo. Ou seja, estamos sempre deixando para ser feliz na próxima conquista. Isso pode ser (e é) motivador, mas muitas vezes é enlouquecedor também.

 

Então meu ponto aqui é que a felicidade, como tanta coisa nessa vida, é uma questão de disciplina.

 

O dalai-lama diz que a felicidade é genética ou treinada. E de fato tem gente que é feliz por natureza. Para nós, a grande maioria, ela é uma conquista. É como se fosse uma outra carreira, interna: administrador de si mesmo.

 

E essa pessoa insaciável retratada nesta coluna está, em maior ou menor grau, dentro de todos nós. Os felizes não a escutam muito. Os infelizes são dominados por ela.

 

Esse comportamento nos leva a fazer duas coisas que são absolutamente inúteis: tentar corrigir erros de coisas que ficaram no passado e postergar a felicidade para conquistas que enxergamos no futuro. Como passar 2021 tentando corrigir os fracassos de 2020 ou adiando a felicidade para 2022.

 

Por isso, a pergunta é necessária. Será que você aguenta ser feliz? Até porque as melhores coisas da vida não têm preço: amor, família, amigos, fé, respiração.

 

Ser feliz é quase uma dieta, uma alimentação balanceada da alma. Que mistura bens materiais e, principalmente, imateriais.

 

Essa é uma reflexão para você, pessoa física, mas que pode ajudar muito a pessoa jurídica. Por isso Harvard tem tratado tanto da administração da pessoa ao tratar da administração da empresa.

 

O que desejo a você, leitor, é o que eu me desejo em 2021 e será o meu desafio diário: que você lute para ser as coisas que queira ser, mas não despreze o que é conquistado, o que já é. E que viva 2021, e não 2020 ou 2022.

 

Até porque o ano que começa será, tem que ser, um ano de cura, de vacina, de virada e de vida. 2020 foi um ano de grande tristeza. De muitas perdas. De muitas e duras lições.

 

Ficamos desesperados e muito tristes, e essa tristeza era inevitável. Mas a vida precisa da felicidade, e a felicidade precisa da vida.

 

Feliz ano novo!

Posted On Quinta, 31 Dezembro 2020 07:27 Escrito por O Paralelo 13
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