Por Edson Rodrigues e Luiz Pires
Em entrevista recente ao programa ESTÚDIO i, da Globo News, apresentado pela jornalista Andréia Sadi, o senador Eduardo Gomes, Líder do Governo no Congresso Nacional, mostrou seu conhecimento dos temas nacionais mais relevantes e reafirmou sua fidelidade ao presidente Jair Bolsonaro. Aliás, Gomes sempre fala que ter princípios e ser fiel aos companheiros é um dos fundamentos da boa política. Nesse quesito, ele demonstrou isso na prática, ao abrir mão de sua candidatura ao Governo do Estado, com grande possibilidade de sucesso, para apoiar o amigo Ronaldo Dimas, ex-prefeito de Araguaína.
TETO DE GASTOS DO GOVERNO FEDERAL
Uma das perguntas mais embaraçosas para o senador foi sobre a quebra do teto de gastos pelo presidente Jair Bolsonaro. O entrevistador cita que hoje o teto de gastos está furado, começando de forma justificável, por causa da pandemia, mas também para preservar as emendas de relator, entre outros argumentos. Hoje, o Lula fala em acabar o teto de gastos. “Então eu não vejo muita diferença, se for analisar por um lado ou outro, pro lado do PT e pro lado do Bolsonaro, em relação a essa questão fiscal, porque na verdade dos dois lados, na minha opinião pelo menos, não explicam como é que ele vai funcionar no ano que vem. O governo vai renovar a isenção da CIDE, Cofins e PIs pra gasolina e pro diesel? São mais de reais. Então, nesse campo fiscal nenhum dos dois lados vai poder falar do outro não”.
Senador Eduardo Gomes – Eu acho que na questão da origem até pode, Walter, porque o teto de gasto só foi criado pela esculhambação que o PT fez no seu governo, o maior desastre fiscal e econômico da República Brasileira. Ele fala como se sequer tivesse participado da ideia do teto. O teto surgiu para evitar que o Brasil fosse de vez pro buraco depois de administrações desastrosas do PT. Não devia nem falar do assunto. Prejuízo para a Petrobrás, as estatais todas dando prejuízo. Economicamente não há o que se discutir. Só o período eleitoral permite que PT discuta teto. Agora o presidente e o ministro Paulo Guedes tem alertado sobre o teto e a sua manutenção para o equilíbrio fiscal, mesmo com sacrifício. Eu acho que esse novo Congresso, um Congresso plural, com eleições de gente de centro, de esquerda e de direita, pode, sim, tratar do assunto, mas o PT, jamais.
AUXÍLIO BRASIL E TETO DE GASTOS
O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira deu uma entrevista para o jornal Valor Econômico dizendo que a prioridade, a pauta prioritária para 2023, vai ser manter os essenciais do auxílio Brasil. Só que não é em uma canetada como ele diz, porque é preciso discutir de onde vai sair esses recursos. Pergunto ao senhor, e quero falar também do teto de gastos, que é preciso discutir o teto em algum momento, porque senão, como ele diz aqui no Valor, não vai poder fazer obra, não vai poder fazer nada. Traduzindo para o assinante, para ver se eu entendi de forma correta: o Governo Bolsonaro tem uma agenda liberal, mas a prioridade é o Auxílio Brasil e também acabou o teto de gastos. É isso?
Senador Eduardo Gomes – O que o ministro Ciro falou e que é importante, o próprio ministro Paulo Guedes em algum momento falou sobre o assunto, é uma rediscussão sobre o teto e hipótese de manutenção parcial ou temporal do teto de gastos ou da responsabilidade fiscal e vivendo isso da maneira mais conservadora. O que o nosso adversário propõe, e falou isso pessoalmente, é acabar (com o teto de gastos).
ESTRATÉGIA PARA O SEGUNDO TURNO
Temos muitos assuntos para conversar com o senhor, mas vou começar pelo segundo turno, esses apoios das duas campanhas. Eu queria ouvir do senhor qual é a estratégia que o senhor acha que o presidente Bolsonaro precisa para alcançar Lula e vencer as eleições?
Senador Eduardo Gomes – Eu queria deixar uma impressão pessoal. Eu acho que nós estamos vivendo no Brasil uma eleição de dois turnos com dois candidatos. É como se fosse dois segundos turnos, porque os candidatos são conhecidos. Parece que a gente continua na mesma briga, duas correntes políticas e dois candidatos. Eu vi hoje o presidente Bolsonaro recebendo muitos apoios, principalmente de lideranças locais, municipais, estaduais, aqueles que correram no primeiro turno para fazer majoritariamente a campanha de seus deputados estaduais, deputados federais...
PRESIDÊNCIA DO SENADO
A senadora Damares quer ser presidente do Senado. O senhor, que conhece mais a Casa, cabe uma presidente como a Damares e o que o senhor achou das declarações dela? Hoje ela confessou que mentiu em público dizendo que crianças têm dentes arrancados para praticarem sexo oral e que só Bolsonaro pode salvar as crianças. Essa declaração, no entendimento do senhor, tira a oportunidade dela presidir uma Casa tão importante como o Senado?
Senador Eduardo Gomes – É curioso como todo mundo que participou do Governo conseguiu sucesso nas urnas, a exemplo do senador por São Paulo, Marcos Pontes e tantos outros senadores. Eu entendo que nesse momento falar sobre eleição de presidente da Casa sem a posse ainda dos 27 novos integrantes e aqueles reeleitos pro Senado é uma discussão que só vai chegar a cabo no começo do mês de fevereiro. É impossível discutir isso antes. E acho que a senadora vem falando com a imprensa sobre suas declarações.
O senhor apoiou Rodrigo Pacheco, se não me engano, para presidente do Senado. O senhor apoiaria ele de novo para reeleição no ano que vem? Ele faz uma boa gestão, ele tem condições de continuar?
Senador Eduardo Gomes – Tomando como base uma conversa que eu tive com o próprio senador Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional, ele me disse que esse ambiente todo será discutido após as eleições do segundo turno. Ele fala da legitimidade da bancada do PL, por ser a maior bancada, reivindicar a presidência, ele fala da legitimidade da sua possibilidade de eleição. Portanto, eu acho que esse vai ser um debate maduro, consciente, que ocorrerá após a eleição do segundo turno.
TEMAS INTERNACIONAIS PODEM DIMINUIR A DIFERENÇA ENTRE LULA E BOLSONARO?
O próprio Governo no primeiro turno, na campanha, utilizou gravação de clip feito do Donald Trump, de Vitor Orban da Hungria também. Uma eleição que também é, em boa parte, um plebiscito sobre um governo que está terminando para ver se quer continuar nessa linha ou mudar, o senhor acha que de fato essa ênfase em questões internacionais, nessa ideia da ameaça do comunismo pairando sobre o Brasil, que tem escravizado a campanha do presidente Bolsonaro, isso é suficiente para diminuir essa diferença que o presidente Lula conquistou no primeiro turno? E mais do que isso, vai eventualmente mudar votos de quem votou nele? O senhor acha que é esse o tom da campanha ou acha que se deve falar mais de outras questões e aí o senhor me diria do que seria prioridade na sua visão?
Senador Eduardo Gomes – Eu vejo a campanha muito par ou ímpar. Eu vejo a campanha muito acirrada, uma campanha com vários temas importantes e vejo que a matéria internacional de verdade que a gente tem nesse momento, nesse ambiente internacional, é a economia e a economia do país (está) mostrando um posicionamento diferenciado em relação a países semelhantes. Acho que isso conta (a favor do presidente Bolsonaro).
SOBRE INFLUENCIAR OS VOTOS DOS SEGMENTOS RELIGIOSOS
Senador Eduardo Gomes - Os fiéis da igreja têm capacidade de discernimento e a gente entende que não há uma ligação direta com o presidente Bolsonaro ou uma ação de campanha. Eu acompanhei o debate sobre a questão religiosa da política e me veio à memória casos recentes com a pastoral da terra e com outras formações em governos passados que tinha essa vinculação, que nem sempre eram verdadeiras. Portanto, a aceitação do presidente Jair Bolsonaro no meio evangélico, religioso, católico, depende muito da ação de seus membros. Alguns fazem política ativa. Portanto eu dou um desconto, porque eu entendo que declaração pessoal deve ser explicada pessoalmente, ainda mais por quem já tem mandato e acredito que qualquer manifestação um pouco exagerada pode dar um campo para esses debates que nós estamos (vendo) agora a 17 dias da eleição.
ENQUADRAMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Senador, outra polêmica foi provocada pela declaração do Hamilton Mourão de que o Senado vai querer interferir em outro poder, o Supremo Tribunal Federal. Isso reforçou a tese de quem apoia Lula dizer que a democracia está em risco com o segundo mandato do Bolsonaro. Há clima no Senado para, como disse o Ricardo Barros, colega do senhor como líder do Governo, de enquadrar o Judiciário. O senhor defende o enquadramento do Judiciário?
Senador Eduardo Gomes – Eu defendo a discussão plural, com respeito, com interdependência, com harmonia. Eu acho que isso é plenamente possível, acho até que essa não é a discussão jurídica central. Eu vejo um momento, em meados do ano que vem, em que podem ser discutidas as nulidades ou pelo menos a transferência de fórum da condição eleitoral do ex-presidente, que está disputando a presidência. Vejo um número muito grande de parlamentares com capacidade jurídica, como é o caso do atual presidente (do Senado), que é especialista em direito constitucional, de abrir uma discussão só com a participação dos três poderes. Não foi assim que nós conseguimos a redução do ICMS, foi preciso um debate com os secretários de Fazenda dos Estados, por exemplo.