Os arquivos da ATI – Associação Tocantinense de Imprensa já registravam, em 1959, em papel-jornal, folhas mimeografadas e manuscritos históricos — hoje amarelados pelo tempo e quase indecifráveis — que seus principais fundadores, Fabrício César Freire, Oswaldo Ayres e Feliciano Braga Machado, defendiam que o Estado do Tocantins deveria ser criado com base nos princípios da probidade administrativa, da moral, da dignidade, do desenvolvimento qualitativo e, principalmente, da responsabilidade para com as pessoas.
Assim também pensava, durante toda a sua vida de luta, JOSÉ CARLOS LEITÃO, que faleceu no último dia 10 de outubro, aos 76 anos, sem ter alcançado esse sonho — mesmo 37 anos depois da emancipação política do sofrido e abandonado norte goiano.
Por Edivaldo Rodrigues e Edson Rodrigues
JOSÉ CARLOS LEITÃO era um cidadão do mundo, forjado a ferro e fogo nas áridas terras de um Novo Acordo aguerrido — um dos campos de batalha da luta libertária do povo tocantinense. Foi nesse berço, de família simples e honrada, que se consolidou o idealismo desse jovem tocantinense que, tempos depois, abriu as portas do mundo para se consagrar como um respeitado publicitário, jornalista renomado e empresário de sucesso no universo mágico da comunicação.
Comprometido que era com a luta secular de sua gente, abraçou como bandeira de vida o ideário da divisão de Goiás para criar o Estado do Tocantins, levantando a voz na organização dos movimentos separatistas. Sua luta pela emancipação do povo do norte nasceu na juventude e ganhou força no seio da CONORTE – Comissão de Estudos dos Problemas do Norte, entidade formada por intelectuais libertos das correntes personalísticas e por milhares de jovens idealistas que defendiam um Estado do Tocantins sem os vícios que sempre afligiram um Brasil atolado em questões não republicanas.
JOSÉ CARLOS LEITÃO, por meio da CONORTE — entidade que presidiu até os últimos instantes de sua vida — mostrou os caminhos que o Tocantins deveria seguir após sua criação, para se constituir em um Estado forte, desenvolvido, probo e livre das amarras das conveniências e do lamaçal putrefato da corrupção e da política que se alimenta do poder pelo poder. Suas ideias e ações, no decorrer de sua luta libertária, desenhavam um Tocantins de direitos, de sonhos realizados e, sobretudo, um Tocantins de cidadania plena — acolhedor e consciente de sua existência como ato e resultado de um querer coletivo.
Por ser um intelectual liberto e por pensar um Tocantins criado por todos nós, ele pagou caro por suas contestações. Na companhia de outras figuras gigantes nas batalhas entrincheiradas de verdades e sonhos — como Totó Cavalcante, Zeza Maia, Goianyr Barbosa, entre outros de alma e sangue tocantinense — JOSÉ CARLOS LEITÃO foi lançado à margem do processo de implantação e governança da nova Unidade Federativa do Brasil.
Nessas últimas três décadas de governos tocantinenses, esses líderes que estudaram, pensaram e arquitetaram um Tocantins moderno — distante de conchavos e acertos nos calabouços do poder — foram removidos da história oficial, esquecidos no subsolo do que deveria ser uma conquista retratada como ato e ação de toda a coletividade.
Esse cidadão do mundo, que dedicou sua vida à causa tocantinense, não carregava mágoas por ter sido preterido, ao lado de tantos outros criadores do Estado do Tocantins. Isso porque possuía uma alma leve, carregava no peito um coração amoroso e sensível, e, ao abrir e fechar os braços, acolhia a todos, exalando a suavidade de quem cumpria os mandamentos da civilidade, do companheirismo e, acima de tudo, os preceitos daqueles que lideram uma causa cujo fundamento principal é a alegria do seu povo pela liberdade conquistada.
Ele, que deixa um legado extraordinário presente em todos os capítulos que descrevem a secular história de liberdade do Tocantins, jamais abandonou a trincheira da luta, contribuindo diuturnamente para que o Estado retomasse o caminho idealizado por muitos que tombaram imortais ao longo desse percurso.
JOSÉ CARLOS LEITÃO, homem de luta e de bravura ímpar, também tomba agora como um gigante — saindo da vida para ser exemplo de dignidade e cidadania. E, assim como todos nós que criamos o Tocantins, carrega abraçada ao corpo a imorredoura amargura da convivência com a política nefasta que degrada o Estado que tanto amamos.
Descanse em paz, amigo e irmão!
Essa é uma homenagem da Família Paralelo 13.