Falta de controle sobre seus aliados e declaração da CNA em favor do impeachment colocam Kátia na mira durante reunião em Brasília
Por Edson Rodrigues
A senadora e ministra Kátia Abreu tem passado por momentos difíceis com os últimos lances no tabuleiro político nacional. Ministra da cota pessoal da presidente Dilma Rousseff e senadora pelo PMDB, que deixou a base de apoio ao governo federal, ela tem estado entre a cruz e a espada ao permanecer apoiando não o governo do PT, mas sua amiga, a própria presidente Dilma.
Mas as últimas movimentações demonstraram que Kátia não tem mais o controle sobre seus correligionários. Uma declaração da CNA, Confederação Nacional da Agricultura, posicionando a entidade em favor do impeachment acabou deixando a situação da senadora tocantinense insustentável em relação á sua permanência no ministério da Agricultura.
A nota da CNA vem se juntar ao posicionamento do deputado federal Irajá Abreu, que se declarou em favor do impeachment e a um ato inesperado do presidente do Sebrae Tocantins e da Faciet, Pedro José Fernandes, tido como um dos principais líderes classistas fiéis á Kátia Abreu, também em favor do impedimento da presidente Dilma Rousseff.
REUNIÃO DEFINE NOVO MINISTÉRIO
A presidente Dilma Rousseff esteve reunida no Palácio da Alvorada, na tarde de ontem, com o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva e osministros da Chefia de Gabinete, Jaques Wagner, e da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini. Na pauta, a votação do relatório dodeputado Jovair Arantes (PTBGO), na Comissão Especial que analisa o impeachment, uma nova avaliação sobre contagem de votos noplenário da Câmara e reforma ministerial pós votação do impeachment.
O relatório de Jovair Arantes pela admissibilidade do impeachment já era esperado mas, para o governo, o documento reforça a tese doPlanalto apresentada por José Eduardo Cardozo de que não houve crime de responsabilidade
Com isso, além de avaliar as possibilidades reais de derrota do impeachment, a presidente Dilma, Lula e os ministros estão conversandotambém sobre o momento pósvotação em plenário, o que envolveria uma reforma ministerial, e mais cargos de segundo e terceiroescalões, com abertura de mais espaço para PP, PR, PRB e PTN. O governo acredita que estes partidos, mais a ala do PMDB que apoia oPlanalto, garantirão a governabilidade que a presidente Dilma precisará para manter a administração em funcionamento.
Uma das avaliações feitas hoje no Planalto é que, com a decisão da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) de passar a defender oimpeachment, a permanência de Kátia Abreu no Ministério da Agricultura é praticamente insustentável, mesmo com a proximidade queela tem com a presidente Dilma. Na avaliação do governo, a ministra não tem o controle sobre setores que diz que tem. Não tem ocontrole sobre a CNA e nem sobre o seu filho, deputado Irajá Abreu (PSDTO), que já teria anunciado, segundo o Planalto, que vota peloimpeachment de Dilma. Além do mais, a senadora está com problemas com a filiação partidária e não tem apoio no PMDB.
Um dos interlocutores do Planalto lembrou que, em tempos de vacas magras, onde os cargos são de fundamental importância paragarantir o apoio ao governo, e com os partidos menores exigindo mais espaço para ajudar a garantir a governabilidade, o Ministério daAgricultura seria uma pasta importantes para ser usada na negociação. A presidente, por exemplo, resiste a entregar o Ministério daSaúde, hoje na mão de Marcelo Castro, do PMDB do Rio, particularmente em momento de crise no setor. Da mesma forma, quersacrificar Celso Pansera, que está na Ciência e Tecnologia, já que os dois peemedebistas do Rio têm assegurado, junto com o líderLeonardo Picciani, pelo menos 25 votos a favor do governo, podendo chegar a 30.
Após essa conjunção de fatores, acreditamos que, briosa como é, a senadora Kátia Abreu deve entregar o cargo de ministra da Agricultura antes mesmo que esse venha a ser solicitado pela presidente ou pelo próprio PMDB.
Como já ressaltamos antes, Kátia ainda tem seis anos e meio como senadora e mais três anos como presidente da CNA. Seu ingresso em outra legenda é apenas uma questão de tempo e seu futuro político está em aberto, assim como sua participação no processo sucessório municipal em Palmas e no Estado ganharão relevância, reafirmando sua posição como uma das principais líderes políticas do Tocantins.