PEDRO SIMON: LULA FOI MINHA MAIOR DECEPÇÃO POLÍTICA E O PMDB PRECISA SE REORGANIZAR PARA MUDAR O PAÍS

Posted On Segunda, 15 Fevereiro 2016 13:38
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Um dos últimos grandes baluartes da política brasileira (política no bom sentido da palavra) revelou à revista Istoé suas decepções, esperanças e sugestões para que o Brasil saia do atoleiro político

 

Por Edson Rodrigues

 

O Brasil vive ciclos específicos na política, em que, de tempos em tempos, despontam grandes estadistas, pessoas que têm a política no sangue e ideais democráticos indeléveis.  Cada um com uma filosofia própria de ação, mas todos imbuídos em trazer melhorias ou mudar situações que colocavam em risco o futuro da nação.

Talvez os nossos mais autênticos estadistas tenham sido Rui Barbosa, o Águia de Haia, que se notabilizou como ministro da Fazenda procedendo importante reforma financeira no País.

O Barão do Rio Branco imbatível no campo diplomático sobrepujando ingleses, franceses, holandeses e argentinos com infinita e incomparável argúcia.

Se voltarmos ao passado longínquo, tivemos Floriano Peixoto, o "Marechal do Ferro", a quem se atribui a frase militar: "Receberei à bala", se referindo a colonizadores ou invasores estrangeiros. Prudente de Morais, muito prudente e abastado cafeicultor. E Campos Sales, negociador da dívida externa brasileira com os Rothschild. Somos um País surpreendente. Em 1898, o presidente Campos Sales teria ido à Europa negociar a dívida externa brasileira com os Rothschild. Naquela época fazíamos os mesmos maus negócios de hoje?

 

Em períodos sucessivos Getúlio Vargas, o grande ditador do Estado Novo, foi pioneiro nas leis trabalhistas e ideias nacionalistas. Suicidou-se no segundo governo, já eleito pelo povo.

Eurico Dutra, militar brioso com a maior dignidade, foi um presidente muito respeitado. Cognominado o "catedrático do silêncio".

Juscelino foi considerado um estadista brilhante. Depois de Brasília, o Brasil tornou-se outro País, com a veia política de realizar em cinco anos uma administração que correspondesse a 50 anos.

Na era militar, Castello Branco revelou-se muito expressivo, culto, cercado de políticos importantes e capazes.

Geisel democratizou o País com patriotismo.

Fernando Henrique intelectual, político e polêmico. Um grande ideal. Obras com louvores internacionais.

Nesse contexto, todos esses estadistas foram auxiliados por coadjuvantes que compartilhavam dos mesmos ideais mas preferiram agir no parlamento, dando condições para que os processos mais importantes para a política fossem colocados em prática.

Ulysses Guimarães, Ibsen Pinheiro e Itamar Franco também, cada um de sua maneira, fizeram muito pela credibilidade dos políticos brasileiros.

Mar, por que não falar de Pedro Ludovico, Henrique Santillo e de  José Wilson Siqueira Campos, que uniam as melhores qualidades apresentadas acima, também contribuíram significativamente para a continuidade democrática e durante muito tempo, detiveram sob seu comando os desígnios de regiões consideráveis sem, porém, tirar nenhum proveito pessoal disso?

Pedro Ludovico criou Goiânia, emancipou diversos municípios no entorno de Brasília, quando da construção da Capital Federal e morreu apenas com a casa em que morava como bem pessoal. 

Seu filho, Mauro Borges iniciou sua carreira política em 1958, quando foi eleito deputado federal por Goiás. Em 1960 foi eleito governador do estado, cargo que seu pai já exercera dezessete vezes entre 1930 e 1954, como interventor de Getúlio Vargas. Em 1979, foi eleito presidente regional do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1982, foi eleito senador pelo Partido Movimento Democratico Brasileiro PMDB e, em 1990, novamente deputado federal pelo Partido Democrata Cristão (PDC).

Henrique Santillo foi senador, governador e deputado federal e é lembrado como o grande transformador do estado de Goiás, também morreu como um homem de poucas posses.

Siqueira Campos, que praticamente fez surgir o Tocantins, construiu uma capital e comandou a maior coligação partidária que o Brasil já teve notícia, vive hoje de sua pensão de deputado federal.

PEDRO SIMON

Outro desses políticos é o ex-senador e ex-governador do Rio Grande do Sul, Pedro Simon, que em janeiro passado completou um ano de sua aposentadoria da vida parlamentar. Neste mesmo mês, ele comemora 86 anos, dos quais mais de 50 dedicados à vida pública, iniciada como deputado estadual em 1963. Longe da tribuna parlamentar, entretanto, Simon decidiu manter-se ativo no ano passado e optou por um giro pelo Brasil. Percorreu o País em palestras a políticos, estudantes, movimentos sociais e organizações empresariais. Agora, tira suas tradicionais férias na casa de verão na praia Rainha do Mar, de onde, após voltar de uma missa, conversou com a revista Istoé e colocou suas ponderações.

O Paralelo 13, sempre atento às boas iniciativas da imprensa, faz, aqui, uma compilação dos melhores trechos dessa entrevista, tão estarrecedora quanto reveladora, de um homem de opiniões fortes, de iniciativas, vezes frustradas, vezes louvadas e transformadas em ações, que, certamente, merece seu lugar no panteão da política Nacional.

AS COLOCAÇÕES DE SIMON

 "Tenho muito medo que aconteça alguma coisa com eles (Moro e Papa Francisco)"Antigo entusiasta do PT e da candidatura de Lula à Presidência da República, o ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS) diz que o partido e o ex-presidente foram suas maiores decepções na política.

“Quando houve a primeira denúncia no caso dos Correios, eu subi à tribuna e disse que o Lula iria demitir os envolvidos. Mas ele não demitiu, nem deixou que criássemos a CPI. Precisamos do STF para criá-la. Hoje, o Lula não pode mais dizer que não sabia, porque está tão provado, está tão certo, que o melhor é ele ficar quieto. Certamente, Lula ficará marcado como uns dos homens públicos que levou à ruína do país”, declarou Simon à revista IstoÉ. “Ele não vai ser mais nada, as pessoas estão muito esclarecidas agora. O PT vai pagar suas contas e o Lula deixará a cúpula do partido”, acrescentou.

 

Aposentado da atividade parlamentar desde janeiro de 2015, Simon percorre o país fazendo palestras para estudantes, movimentos sociais e políticos e falando de seus mais de 50 anos dedicados à vida pública. “O PT foi, na história do Brasil, a maior decepção e a maior paulada que levamos na vida. Foi nossa maior esperança e nossa maior expectativa, que se contrabalanceou com a maior traição que tivemos.”

TRANSFOR AÇÃO NA ORDEM POLÍTICA BRASILEIRA

Para o ex-senador, as investigações da Operação Lava Jato serão responsáveis por uma verdadeira transformação na ordem política brasileira. “O Judiciário brasileiro nunca existiu, só existia para ladrão de galinha. Hoje, ele mudou. Com o Sérgio Moro as coisas vão aparecer. Vai ficar provado que o maior escândalo criminoso do século foi feito no Brasil e, pode ter várias origens, mas teve seu apogeu no governo Lula”, disse. “Eu rezo todas as noites pelo Sério Moro e pelo Papa Francisco. Tenho muito medo que aconteça alguma coisa com eles, porque são duas pessoas muito boas e que estão fazendo coisas extremamente relevantes”, complementou.

IMPEACHMENT

Um dos principais nomes da CPI que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, Pedro Simon avalia que o pedido de afastamento da presidente Dilma foi feito de maneira precipitada. “Na época (do Collor), nos reunimos em meu gabinete para criar uma CPI a partir das denúncias do irmão dele, o Pedro Collor, sobre o PC Farias. Ou seja, primeiro os fatos contra ele apareceram – e, sinceramente, nem eram tão graves quanto os que há hoje contra o Lula e a presidente. Mas dessa vez foi o contrário, foi antes do tempo, criaram a CPI para buscar os fatos. Eu confio muito mais no Supremo. Ele sim vai apurar dados graves contra o Lula e a Dilma”, avaliou.