Enquanto se veem cada vez mais envolvidos na trama da corrupção, investigados têm na delação premiada a única saída
Por Edson Rodrigues
Enquanto o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, faz um apelo ao juiz Sérgio Moro, em nome do seu filho de quatro anos de idade e de sua jovem esposa, no Tocantins os princípios éticos já “foram pras cucuias”, após a decretação da prisão preventiva do ex-governador Sandoval Cardoso, do seu ex-secretário Kaká e de mais cinco detidos na Operação Ápia.
O Tocantins entra em alerta ao ver uma pessoa que tinha um patrimônio milionário respeitável, antes de entrar para vida pública, com três fazendas somando pouco mais de mil alqueires formados, mais de 10 mil cabeças de gado e vários imóveis em Palmas e em outras cidades, eleito em 2010 o deputado estadual mais votado da história do Tocantins, ser preso por uma operação federal que investiga crimes de corrupção.
Como devem estar as esposas, filhos, pais e irmãos dos envolvidos ao verem figuras públicas da família nessa condição, sem nada poder fazer?
Já dizia o ex-deputado federal Roberto Jefferson, delator do mensalão, maior crime de corrupção da história do Brasil: “a prisão é uma tortura mental imensurável. As horas não passam, o dia é grande e a noite vem o maior castigo, a ressaca moral, longe do convívio familiar, do conforto do lar e da liberdade. Não desejo nem para o meu pior inimigo”.
Sandoval, além de ter a si próprio envolvido na teia do pode, trouxe seu cunhado para um governo interino, curto, e, embevecido pelo poder e a possibilidade de uma continuidade, foi empurrado ladeira abaixo por negociatas bruscas e incertas, e acabou levando com ele muita gente que não tinha experiência de poder para uma nau que naufragou antes de sua partida.
Agora, todos pagam o preço da inexperiência e da ganância.
HORA DE PAGAR A CONTA
Com a ação da Justiça Federal, da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União, do Ministério Público Federal e de outras instituições, chegou a hora de pagar a conta. Os efeitos colaterais de todas as ações que aconteceram à margem da Lei podem levar os envolvidos, de forma desmoralizante, a condenações de anos de prisão, com a perda dos bens e o tão temido distanciamento da família, que, de forma velada, encoberta um sentimento de vergonha e isolamento social que vai abalar toda a estrutura familiar.
Até para manter um relacionamento com sua parceira, como adiantou o ex-deputado Roberto Jefferson, tem que ser em dias e horários marcados, em um lugar vigiado e sem a privacidade tão cultivada, com criminosos em volta, toso cientes do que acontece entre as minúsculas quatro paredes do “quartinho” da prisão.
Essas considerações valem tanto para o ex-governador Sandoval Cardoso quanto para os demais implicados nas investigações federais.
DELAÇÕES À VISTA
A tramitação das investigações que envolvem o ex-governador do Tocantins são exatamente as mesmas da Operação Lava a Jato, que vem fazendo um limpa nas principais camadas políticas e de poder no País.
Se no cotidiano da Lava a Jato as delações premiadas pululam de acordo com o peso de cada crime e suas penalidades, na Operação Ápia não será diferente. As autoridades já têm as provas, só falta saber quem fez o quê.
Cabe, agora, a cada um dos políticos e empresários detidos, apressar-se em fazer os acordos de delação premiada, antes que os demais o façam, e confessar de forma detalhada, como exige a Justiça, quem projetou todo o esquema, quem seduziu a quem, quem corrompeu e quem se deixou ser corrompido e, o principal, onde foi parar o dinheiro desviado.
Para a Justiça, por enquanto, evidências não são provas. Logo, é aconselhável que esperemos as primeiras delações para evitarmos os pré-julgamentos e os erros de avaliação.
A única certeza, por enquanto, nesse caso, é que quem praticou os crimes tinha plena ciência do que estava fazendo e, se essas pessoas ou as implicadas e detidas, quiserem voltar ao convívio familiar o mais rápido possível, mesmo que isso leve alguns anos, elas devem abrir suas mentes e suas bocas, e contar tudo o que sabem.
Antes que alguém o faça e tornem as suas informações dispensáveis para a Justiça.
Aí, será tarde demais!!