Ao ser nomeado em 2018, o primeiro presidente de Cuba de fora da família Castro, Miguel Díaz-Canel, tinha duas opções: endurecer o regime, agravando a sua condição de pária, como uma Coreia do Norte caribenha, ou abri-lo a mais iniciativa privada e liberdade cultural. A decisão foi inequívoca.
Notas&Informações da coluna Estadão
Em julho, milhares de cubanos protestaram nas ruas contra a escassez de energia, comida e medicamentos. Díaz-Canel acusou-os de servirem o “imperialismo americano” e conclamou: “Revolucionários, às ruas!”. Brigadas pesadamente armadas espancaram os cidadãos. Pelo menos um foi morto com um tiro pelas costas. Jornalistas tiveram suas credenciais suspensas. A internet foi derrubada. Agentes de inteligência rastrearam dissidentes, invadiram suas casas e intimidaram suas famílias.
Mais de 1,3 mil cidadãos foram presos – entre os quais 45 menores de idade – e lançados nos calabouços cubanos – onde a visita de observadores neutros é vetada. Agora, dezenas deles estão sendo condenados a décadas de prisão. A maioria não tem participação em grupos organizados, muitos protestaram pela primeira vez. Alguns foram condenados simplesmente por filmar os protestos.
Além de violar qualquer padrão internacional, as sentenças são discriminatórias e covardes. Elas começaram a ser dadas durante as festividades de dezembro, quando a imprensa e as autoridades internacionais estavam distraídas. A maioria dos condenados é de jovens e negros, de bairros marginalizados, onde o acesso à educação é limitado e a sociedade civil é frágil. “Isso faz com que seja mais fácil ao governo trancafiá-los sem que nada aconteça”, disse Erik Jennische, da Civil Rights Defenders.
Muitos familiares perderam seus empregos. Mães que ensaiaram campanhas foram ameaçadas de responder por ações “contrarrevolucionárias”. A repressão em massa em Cuba, a maior e mais brutal desde que os irmãos Castro tomaram o poder, há 60 anos, deixou claro que, se havia alguma esperança de democracia, era mera ilusão.
Organizações civis estão conclamando autoridades internacionais. Em contraste constrangedor, o ex-presidente Lula da Silva, entusiasta da ditadura cubana, contemporizou numa entrevista em novembro: “Essas coisas não acontecem só em Cuba, mas no mundo inteiro”. E, claro, fez o que faz de melhor, que é transferir responsabilidades: “Precisamos parar de condenar Cuba e condenar um pouco mais o bloqueio dos EUA”. Ao comentar as prisões ordenadas pelo ditador nicaraguense Daniel Ortega, outro camarada dos petistas, aproveitou para, numa tacada, insinuar a culpa das vítimas, lavar as mãos para seus amigos autocratas e se vitimizar: “Eu fui preso no Brasil. Não sei o que essas pessoas fizeram. Só sei que eu não fiz nada”.
Ou seja, se o favoritismo do PT nas eleições presidenciais se confirmar, os ditadores de Cuba, da Nicarágua e da Venezuela podem dormir sossegados porque o Brasil, de quem sempre se espera liderança na defesa dos direitos humanos no continente, vai relativizar os crimes dos compadres de Lula.