AFINAL, HÁ DIFERENÇA DE INTENÇÃO DE VOTOS ENTRE BOLSONARO E LULA?

Posted On Quarta, 26 Outubro 2022 07:20
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Quatro dias.  Apenas quatro dias separam o Brasil de conhecer o seu novo presidente da República.  Se Lula ressurgirá das cinzas como a Phoenix da esquerda ou se Bolsonaro retumbará como baluarte da direita. Enquanto isso, os institutos de pesquisa já desistiram de tentar “interpretar as vertentes do eleitorado”, ante o fracasso de suas metodologias de trabalho no primeiro turno.

 

Por Edson Rodrigues

 

Enquanto todos cravavam uma diferença de, no mínimo, 15 pontos percentuais pró Lula, mesmo ventilando a hipótese de um segundo turno, a direita e o presidente Jair Bolsonaro mostraram suas forças e a diferença entre os dois candidatos foi de apenas 5%, ou seja, uma margem de erro mais ampla, poderia ter selado o empate técnico.  Coisa que nenhum instituto previu.

 

Enquanto isso, da forma com que o Observatório Político de O Paralelo 13 previu, os eleitores indecisos são a grande “estrela” da vez, com capacidade de decidir para um ou para outro, em uma situação eleitoral jamais vista no País.

 

ELEITORES VOLÚVEIS

 

O número de eleitores que ainda não tem certeza do voto para presidente, segundo as pesquisas, é similar à distância que separa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa ao Planalto.

 

O percentual dos que consideram mudar o voto – os chamados “eleitores volúveis” – varia entre os institutos, de 6% a 7%. Já a diferença entre Lula e Bolsonaro oscila de quatro a oito pontos percentuais nas pesquisas. A proximidade faz com que esses eleitores sejam os “fiéis da balança” do pleito, com potencial de decidir o resultado.

 

A última pesquisa Idea para presidente, publicada na quinta (20), aponta que 6% dos eleitores ainda podem mudar de voto. É o mesmo percentual apresentado pelas pesquisas Quaest, na quarta (19), e Datafolha, na quarta (19). No levantamento do Ipec, divulgado na segunda (17), a parcela é de 7%.

 

O Datafolha mostra ainda que, entre os eleitores de Lula, 94% estão convencidos do voto e 6% não. Na parcela dos que afirmam votar em Bolsonaro, 95% têm certeza e 5% ainda podem mudar.

 

A Quaest aponta que 4% dos que afirmam votar no ex-presidente e 3% dos que dizem votar no atual mandatário não têm certeza do voto.

 

INDECISO CONSOLIDADO

 

No primeiro turno, Lula teve 48,43% dos votos válidos e Bolsonaro 43,2%, uma distância, portanto, de cinco pontos percentuais. Os que votaram em branco foram 1,59%; e os que anularam o voto, 2,82%. A abstenção atingiu 20,91%.

 

“O indeciso consolidado, que não sabe em quem vai votar, é representado por um percentual baixo, mas o indefinido, que ainda não bateu o martelo quanto ao voto, é um percentual maior. Se a gente somar esses dois, temos uma parcela importante”, afirma o cientista político e mestre em economia pela Universidade Sorbonne Renato Dolci.

 

“Esses eleitores, que numericamente são muito pequenos, são, na verdade, o fiel da balança”, observou o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, ao analisar as estratégias que Lula e Bolsonaro poderiam utilizar no debate da última semana.

 

De acordo com a Quaest, os “volúveis” estão, em sua maioria, na região Sudeste, que é também a região com a maior quantidade de aptos a votar no país. Eles têm a partir de 35 anos e escolaridade e renda mais altas. As mulheres também são maioria.

 

ELITE DECISIVA

 

O instituto aponta que, entre os eleitores que responderam ser de centro, 11% se dizem indecisos. Na direita, estão 3% dos indecisos; e na esquerda, 1%. “A gente precisa lembrar que o Brasil polarizou nos últimos anos, mas ainda existe um percentual do eleitorado que não se conecta aos extremos”, pontua Dolci.

 

Segundo ele, o percentual dos que ainda não têm certeza do voto permanece bem próximo do perfil da amostra eleitoral como um todo. “É composto, em maioria, por mulheres, pessoas da região Sudeste, de centros urbanos (com forte concentração nas capitais), com maiores níveis de escolaridade e de renda”, diz.

 

Para o cientista político, esse perfil de eleitores pode ser buscado tanto pelos dois candidatos. “Esse perfil está distribuído entre as duas campanhas. A gente tem Lula mais forte entre as mulheres, Bolsonaro mais forte entre os que têm renda mais alta. Então, potencialmente, os dois poderiam buscar esse público”, pontua.

 

Segundo o cientista político e presidente do conselho científico do Ipespe, Antonio Lavareda, frente ao cenário apertado das pesquisas, hoje não dá para dizer “com certeza” qual será o resultado da eleição. “Entra no campo do imprevisível”, disse o presidente do conselho científico do Ipespe em entrevista à rede CNN.

 

FALTA DE PROPOSTAS AFETA DESEMPENHO

Na reta final do segundo turno, Lula e Bolsonaro intensificaram os esforços para conquistar os eleitores indecisos e indefinidos.

 

A senadora Simone Tebet (MDB), terceira colocada na eleição presidencial, se uniu à deputada federal eleita Marina Silva (Rede) e ao economista Armínio Fraga para convencer indecisos a votarem em Lula. Os três participaram de um encontro em São Paulo com empresários e profissionais do mercado financeiro na última segunda (17).

 

No mesmo dia, Bolsonaro também acenou aos grupos que apresentam a maior quantidade de indecisos, como o público feminino. “Quero apenas corrigir uma coisa que foi falada aqui por alguém: não é atrás de um grande homem que tem uma grande mulher, é ao lado de um homem que existe uma grande mulher”, disse, em Natal.

 

Para o cientista político Leon Victor de Queiroz, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no entanto, a troca de acusações que tem marcado o segundo turno pode levar indecisos a não comparecer às urnas no dia 30.

 

“O eleitor indeciso não está interessado em saber quais as acusações que um vai fazer sobre o outro. O eleitor indeciso quer saber como que a vida dele vai melhorar, as propostas que ambos têm para fazer com que continue diminuindo a taxa de desemprego, com que a criminalidade fique ainda mais baixa, como um país que voltou ao mapa da fome pode sair, quais as perspectivas de mobilidade social”, avaliou.

 

Para o cientista político Renato Dolci, pelos rumos das campanhas é possível que estes eleitores “fluam” muito mais para a abstenção e para o voto em branco. “Vemos isso historicamente acontecendo no segundo turno”, diz o cientista político.

 

“Esse eleitor está passando um recado. O de que os candidatos até agora não falaram o que vai acontecer depois da eleição, só falam sobre eleição. Mas não me parece que as campanhas vão mudar o rumo, me parece que elas devem continuar acirrando esse debate moral”, analisa.

 

O que esperar das urnas no próximo domingo, então?

 

Só o juiz maior, o eleitor, é quem pode responder!