Para o candidato, a conta que importa é a das urnas. Daí o aumento de 33% a professores, subsídio aos combustíveis e "auxílios" variados aos eleitores
Por José Casado
Ontem, por exemplo, assinou um aumento de 33,24% no piso salarial dos professores da rede pública, retroativo a janeiro de 2021.
Criou a chance de dizer que nunca antes alguém “valorizou” como ele a tropa de 1,7 milhão de professores dedicados a educar 38 milhões de alunos do ensino básico. “É o maior aumento já concedido”, celebrou.
Deu o aumento, e mandou a conta para governadores e prefeitos, responsáveis pela administração da rede pública de ensino fundamental. Aos Municípios vai custar mais de R$ 30 bilhões, calcula a Frente Nacional de Prefeitos. Aos Estados, pelo menos R$ 20 bilhões.
Se têm dinheiro suficiente para pagar, ou não, é problema deles. Importante para o candidato à reeleição é que, com isso, conseguiu ir além da “bolha” eleitoral desenhada nas pesquisas, onde aparece distante de Lula do PT, no patamar de 25% das intenções de voto.
Essa régua de racionalidade eleitoral foi usada por Bolsonaro, também, na decisão de subsidiar o consumo de combustíveis.
Bolsonaro aceitou a sugestão o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do presidente da Câmara, Arthur Lira, de retirar tributos sobre gasolina, diesel e gás, dar um “auxílio-diesel” de R$ 1.200 por mês a caminhoneiros autônomos, além de financiar a fundo perdido o transporte público e um “auxílio-gás” a famílias de baixa renda.
Pode custar mais de R$ 100 bilhões ao Tesouro Nacional, e os efeitos são duvidosos — o problema é o preço do petróleo e, infelizmente, ele está fora do controle de Brasília.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, não gostou. Mas saiu de um almoço com Bolsonaro reafirmando a disposição de ir “até o fim”. Aparentemente, o candidato prometeu-lhe que, se reeleito, fará tudo o que a Economia mandar.
Bancos federais começaram a ser mobilizados. O Banco do Brasil restringe, ou dificulta, a irrigação do caixa dos governadores adversários. A Caixa Econômica Federal projeta “linhas especiais” de financiamento a segmentos do eleitorado privilegiados por Bolsonaro — caminhoneiros, policiais e bombeiros, entre outros.
Há, ainda, a ideia de abrir crédito para eleitores de baixa renda endividados. Poderiam “zerar” débitos e sair da lista de devedores com empréstimos de até R$ 4 mil tomados nos bancos federais. O Tesouro pagaria cerca de 90% do custo.
“Muita coisa vai acontecer até a eleição”, avisou Bolsonaro ontem, um tanto enigmático. Pelas evidências, o custo para o erário e o equilíbrio das contas nacionais pouco importam.
Se, mesmo assim, perder a eleição, a mensagem aos adversários já foi dada no aumento dado aos professores, uma conta transferida aos governadores e prefeitos. É Bolsonaro quem vai assinar o orçamento de 2023, o primeiro do próximo governo.