O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) manteve seu nome para a eleição de 2026, negou que vá sair do Brasil e disse ter muitos nomes capazes de substitui-lo, em um discurso repleto de recados sobre seu futuro político
POR LEONARDO VIECELI, JAN NIKLAS, CATARINA SCORTECCI E LAURA INTRIERI
As declarações foram feitas em ato no Rio de Janeiro, onde ele também ele também reforçou sua pressão pela anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro --o que, no futuro, pode beneficiá-lo-- e declarou que será um problema para seus opositores "vivo ou morto".
A mobilização ocorreu em meio ao rápido avanço da denúncia que mira o ex-presidente e mais 33 pessoas sob acusação de participação em uma trama golpista em 2022.
A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) começará a analisar a peça da Procuradoria-Geral da República no próximo dia 25, para decidir se torna os denunciados réus. Não à toa, o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, foi um dos principais alvos dos manifestantes.
Sob forte calor em Copacabana, a manifestação deste domingo ficou longe da expectativa de 1 milhão de participantes divulgada pelo ex-presidente --segundo estimativa do Datafolha, 30 mil estavam no local quando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), falava ao lado de Bolsonaro no carro de som.
Um dos apartamentos próximo ao carro tinha a mensagem "sem anistia" nas janelas.
Outros chefes de governos estaduais presentes foram Cláudio Castro (PL-RJ), Mauro Mendes (União Brasil-MT) e Jorginho Mello (PL-SC).
Vestindo a camiseta com o uniforme azul da seleção brasileira, Tarcísio, cotado à disputa pela Presidência, atacou o governo Lula.
"Ninguém aguenta mais arroz caro, gasolina cara, o ovo caro. Prometeram picanha e não tem nem ovo. E, se está tudo caro, volta Bolsonaro", disse o governador.
Em aceno à base bolsonarista, ele criticou as penas aos condenados pelo 8 de janeiro, citando com ironia o caso da cabeleireira Débora Santos, presa após ser flagrada pichando com batom a estátua "A Justiça", em frente ao STF.
"O que eles fizeram? Usaram batom? Num país onde todo dia vemos traficante na rua, onde os caras que assaltaram a Petrobras voltaram à cena política" disse.
Sem dizer a quem se referia, o governador questionou "qual a razão de afastar Jair Bolsonaro das urnas". "É medo de perder a eleição, e eles sabem que vão perder?"
Como mostrou a Folha, Tarcísio já disse a aliados que aceita disputar a sucessão de Lula se Bolsonaro pedir, mas deve demonstrar lealdade ao aliado até o fim.
Até o momento, o ex-presidente insiste na própria candidatura, embora esteja inelegível em razão de duas condenações pelo TSE, uma por ataques às urnas em reunião com embaixadores e outra por uso político da celebração do 7 de Setembro.
Em seu discurso neste domingo, ele deu indicativos sobre as duas frentes nas quais aposta para conseguir ter o nome na urna no próximo pleito.
Uma delas é o TSE, que será presidido daqui a dois anos por Kassio Nunes Marques, indicado por ele. Em sua fala, sem citá-lo, Bolsonaro afirmou que o pleito de 2026 "será conduzido com isenção".
Outra frente na qual o bolsonarismo trabalha é a da anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro. O objetivo é clima político para reverter, no futuro, a inelegibilidade do ex-presidente.
Neste domingo, Bolsonaro disse que tem o apoio do presidente do PSD, Gilberto Kassab, para aprovar o perdão aos condenados. Líder do PL, o deputado Sóstenes Cavalcante afirmou que pedirá nesta semana urgência na votação do projeto.
Embora tenha mantido seu nome para a disputa de 2026, ex-presidente disse não ter obsessão pelo poder e afirmou deixar herdeiros políticos.
"Meu ciclo vai se esgotar um dia. Mas nós estamos deixando muitas pessoas capazes de me substituir no futuro. O lado de lá não tem nenhuma liderança", afirmou.
"Se alguma covardia acontecer comigo, continuem lutando", pediu.
Apesar da sugestão de alternativas, o ex-presidente que disse que "eleições sem Bolsonaro é negar democracia no Brasil" e pediu apoio para obter maioria no Congresso no próximo pleito. "Me deem 50% da Câmara e 50% do Senado que eu mudo o destino do nosso Brasil", declarou.
O ex-presidente também criticou o governo Lula e comparou ministros da sua gestão com os atuais.
"Se tirar das mãos do PT a falsa bandeira em defesa da democracia, o PT não existe. Não tem o que apresentar para vocês. Nem para alimentar o pobre. Nem isso tem mais", continuou.
Em sua fala, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), prometeu derrotar o alexandrismo, mas como em outros atos, coube a Silas Malafaia, organizador do eventos, as críticas mais duras ao ministro do STF, chamado de "criminoso e ditador" pelo pastor.
Ao final, Malafaia defendeu "um caminho de paz e conciliação porque isso [prisão] não será bom para lado nenhum". "Eu quero apelar aos ministros do STF, senadores e deputados. O Brasil é uma nação pacífica. Isso não serve para lado nenhum. Onde vamos parar se Bolsonaro for preso?", afirmou ele.