Em Porto Nacional todos aqueles que negam cultura a seu povo serão acolhidos pelo lixo da história

Posted On Quarta, 01 Novembro 2023 06:42
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Porto Nacional é uma cidade diferenciada, um passo à frente de tantas outras. Demarcada pelas águas do rio Tocantins e por incontáveis ruelas, becos e casario centenário, esparramado entre largos e pracinhas acanhadas, abriga uma gente que sabe contar as histórias de vida de outras figuras humanas abençoadas. É por isso que essa gente portuense é certamente comprometida com a esperança de que, o ontem continua a forjar o hoje, que prepara um amanhã com as memorias vivas dos nossos antepassados.

 

 

Por Edivaldo Rodrigues e Edson Rodrigues

 

 

Essa Porto Nacional que, neste instante, se agarra a desesperança cultural, é a mesma que acolheu os Frades Dominicanos que aqui chegaram em 1886, carregando em seus alforges alguns escritos bíblicos e uma fé imorredoura, cravada na alma ainda no início do sacerdócio nas dependências geladas do Castelo Medieval de São Maxmin, no Norte da França, ainda no Século XII.

 

Foram eles, os religiosos franceses, que construíram em Porto Nacional várias escolas e nelas implantaram grades curriculares privilegiando as ciências que já eram aplicadas no Continente Europeu e assim, na trajetória da linha do tempo, floresceu uma cidade aculturada e politizada, que durante todo o Século XX e nessa primeira metade do Século XXI, se consolidou como a Capital da Cultura do então norte de Goiás e agora, Capital Cultural do Estado do Tocantins.

 

Esse título começa a ficar desbotado, sem sentido, ganhando insignificantes referencias em casarões em ruinas. Há por aqui, em muitas mesas de bares, nos palcos da vida, nos teatros da saudade, incontáveis poetas e escritores em profusão, multiplicando histórias e versos em livros não impressos; existem aqui cantores e compositores segredando suas canções e partituras em gavetas do desânimo, além de muitos cantadores e violeiros apagando a lua e as estrelas com o som do silêncio.

 

O exposto acima é o resultado do tratamento que a atual administração de Porto Nacional está dando à centenária cultura portuense. Estão desrespeitando as leis e jogando à margem da história conquistas de uma coletividade que respira suas tradições e seus costumes pelos corredores sentimentais da alma e do coração. Desde a década de 1970, que essa gente culta vivenciava a vida em efervescentes movimentos artísticos durantes a Semana da Cultura, e mais recentemente a Flip – Feira Literária Portuense.

 

A atual gestão retirou esses acontecimentos da sua grade administrativa, negando ao povo portuense o que lhe é mais caro, o que alimenta a alma da esmagadora maioria dessa secular coletividade, que sempre encontrou na Semana da Cultura e na Flip momentos de reafirmação enquanto uma sociedade que tem seus pilares e princípios de vida fincados num passado rico em humanismo e cidadania  

 

A atual administração de Porto Nacional continua apostando na realização de eventos festivos e comemorativos, e não prestigia o titular da pasta. O tratamento dado a ele nos parece ser de um fantoche pois por ser a autoridade responsável diretamente  por esse setor, se posta como uma figura sem autonomia, o que o coloca com total descompromisso com a área cultural, pois tiram dele uma ampla visão do que significa verdadeiramente a centenária história dessa terra de Felix Camoa. A vesga visão dos que administram o município não alcança a grandiosidade do que é fazer e promover cultura para o seu povo.

 

Nesses últimos anos, tentando ludibriar os agentes culturais e as pessoas mais atentas, criou-se, lá pela bandas da prefeitura, um calendários que mudava constantemente. Entrevistas, mensagens e matérias jornalísticas, destacavam e destacam as autoridades municipais sempre indicando datas de quando seria realizadas, tanto a Semana da Cultura, quanto a Flip. Fizeram da mentira e do engodo os grilhões para prender no túmulo da irresponsabilidade administrativa uma cultura que atravessou os séculos.

 

Acreditamos no passado como uma catapulta que joga luz no presente para iluminar futuro, e os costumes e as tradições são as pessoas. É  por isso que,  sabemos também, com toda certeza que, a nossa cultura sobreviverá, mas eles, abraçados às suas insignificâncias, serão brevemente acolhidos pelo lixo da história.

 

Quem viver, verá!!!