Em reunião do Conselhão, Lula volta a atacar taxa de juros no Brasil

Posted On Sexta, 05 Mai 2023 06:04
Avalie este item
(0 votos)
Lula disse que no Brasil pode se falar de tudo, menos de juros Lula disse que no Brasil pode se falar de tudo, menos de juros FotoRicardo Stuckert/PR

Crítica a Campos Neto veio após manutenção da taxa Selic em 13,75%

 

Por: André Anelli e Israel de Carvalho

 

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o Banco Central, que em nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira (4.mai) manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano. Durante discurso de relançamento do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o "Conselhão" (saiba mais abaixo), no Palácio do Itamaraty, Lula ironizou que o colegiado pode debater qualquer questão, exceto o assunto de prerrogativa da autarquia.

 

"Esse conselho pode até discutir taxa de juros se quiser. É engraçado, todo mundo aqui pode falar de tudo, só não pode falar de juros", disse Lula, que em outro momento alfinetou o presidente do Banco Central. "Ninguém fala de juros. Como se um homem sozinho pudesse saber mais do que a cabeça de 215 milhões de pessoas".

 

Depois de aplausos da plateia, Lula concluiu: "haveremos de melhorar".

 

Apesar das críticas, o Copom justificou a manutenção da taxa básica de juros, devido a incertezas quanto à capacidade do arcabouço fiscal para controlar as contas públicas.

 

"O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional", disse em nota.

 

O Governo Federal defende que a política monetária do Banco Central atrapalha o desenvolvimento do país, já que deixa o crédito mais caro para a tomada de investidores, que podem preferir a renda fixa atrelada à taxa de juros.

 

"Conselhão"

 

O Conselho de Desenvolvimento Econômico Social foi criado em 2003, no primeiro mandato de Lula, mas desativado no governo de Jair Bolsonaro.

 

O instrumento, agora retomado e tendo à sigla acrescentada o S (sustentável), é o órgão responsável por formular e analisar políticas públicas junto a sociedade civil, considerando a diversidade nacional, com representantes dos mais variados setores, com cerca de 200 conselheiros.

 

Lula apontou que os representantes, passando por indígenas, ONGs, empresários, produtores de alimentos, startups, e mais, "pode ser uma fotografia do Brasil que o governo quer construir: "o que está reunido aqui é a cara da sociedade brasileira".

 

Para ilustrar a importância do conselho, Lula disse que os programas Minha Casa, Minha Vida e o Programa de Aceleramento do Crescimento (PAC) tiveram as primeiras conversas debatidas no Conselhão.

 

"Por isso, aquilo que vocês aprovarem aqui será levado muito a sério pelo governo, senão não teria nenhum sentido existir esse conselho", disse.

 

O presidente afirmou que o órgão deve ser um espaço de produção, não de "queixa nem de reclamação".

 

"Nenhum governo, por mais competente que seja, é capaz de resolver sozinho os problemas de um país, por isso estou colocando muita expectativa no mundo que vocês podem criar nas discussões daqui", disse.

 

Representatividade

 

O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse a retomada do Conselhão é a prova que o diálogo no Brasil é possível e exaltou o aumento da diversidade no órgão e representantes de todos os 27 estados do país, pela primeira vez.

 

"Em 2003, tinha 10%, 15% de mulheres e hoje, com alegria, informo que temos mais de 40% de mulheres aqui e podemos ampliar cada vez mais", disse. "Também tínhamos 10% de pretos, pardos ou indígenas, hoje temos 30%", afirmou.

 

Padilha também disse que o Brasil tem um "potencial enorme", visto que está no centro do debate ambiental. "Temos tudo para assumir um grande protagonismo e assumir essa agenda do futuro", disse.