Empresário suspeito de ter mandado matar narcotraficante do PCC falou em entrevista passada temer por sua vida
Com rádio Itatiaia
Antonio Vinícius Lopes Gritzbach, o empresário que foi executado no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, denunciou um suposto esquema de corrupção da polícia de São Paulo. Entrevista feita por Roberto Cabrini em fevereiro deste ano mostra relatos do empresário, que disse temer sua morte, mas que estava em busca de “justiça”.
Vinícius Gritzbach, de 38 anos, foi morto a tiros de fuzil na tarde da última sexta-feira (8) no aeroporto. Quatro homens fugiram em um carro preto, que depois foi abandonado. A polícia investiga o caso.
Em fevereiro, um mês antes de assinar acordo de delação premiada, o empresário recebeu Cabrini em sua luxuosa casa. Ao repórter, ele explicou quem teria interesse em sua morte. “Empresários, pessoas que querem me calar”, afirmou à época.
Gritzbach passou de homem de confiança do PCC para traidor quando decidiu detalhar ação da organização criminosa que atua dentro e fora dos presídios para lavar dinheiro do crime.
Sobre a compra de imóveis para traficantes, o empresário alegou que apenas intermediou a “venda” para clientes que “batiam” à sua porta. “Se nas intermediações eu cometi alguma coisa errada, que eu venha a pagar”, afirmou.
Cabrini insiste se ele terá que pagar algo. “Alguma intermediação junto à milícia. Uma venda de um valor e uma escritura em outro valor”, responde.
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Depois, ele faz uma grave denúncia sobre um suposto envolvimento de policiais civis de São Paulo em crimes de extorsão. Ele lista: “Delegado do caso, chefes dos investigadores, os tiras, tenho áudios, tenho mensagens [...] Sim, [tenho consciência da gravidade dessa acuação”, afirma.
O patrimônio do empresário era de R$ 18 milhões a R$ 19 milhões. Ao ser questionado sobre a porcentagem do patrimônio obtida por meio do crime organizado, ele diz: “Fica um pouco aberto isso Cabrini, porque nunca me foi aberto que eram criminosos, sempre se passaram por empresários.”
Ele também é perguntado sobre os R$ 6 milhões obtidos em apenas um ano. “Acredito que muita gente na pandemia ganhou dinheiro. Na pandemia trabalhei dia e noite”.
Nos últimos anos, nove integrantes do PCC foram mortos, sendo quatro ligados a Vinicius. Dentre eles, está Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e seu motorista. Vinicius é acusado de encomendar o duplo homicídio.
“Nenhum momento o Anselmo me incomodou Cabrini. A minha atribuição era intermediar a compra e venda de imóveis. Disse que queria investir, fez uma compra de R$ 12 milhões”, afirmou.
Ele afirma não saber que Anselmo era um narcotraficante. “Não tinha essas informações e tratava todos os clientes igualmente [...] Não tenho poder investigativo. Puxo as certidões.”
Perguntado sobre o vídeo em que aparece abraçando Anselmo, ele dá sua versão. “Não tinha animosidade, descontentamento, cobrança alguma.” Ele volta a defender que não mandou matá-los, e nega ter qualquer tipo de participação na morte deles.
Cabrini enfatiza: “Lavava dinheiro, se apropriou de parte desse dinheiro, enriqueceu ilicitamente e ao ser cobrado mandou matar quem cobrava”. No entanto, ele volta a negar. “Onde está esse dinheiro? Aqui [em casa] tudo tem origem, posso afirmar e comprovar.”
O repórter questiona sobre o mercado de criptomoedas, negócio que mantinha com Anselmo. “Teria que ter tido investigações sérias para se chegar num determinado mandante.”.
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Graves denúncias
Posteriormente, Vinicius mostra um áudio para Cabrini, que seria do delegado Fábio Baena Martin. “Na audiência, eu já falei, se precisar de mim, a gente vai conversar com o advogado e eu te ajudo lá", diz a voz.
Vinicius acrescenta: “Disse que não vai acontecer nada na corregedoria porque a tia dele é atual corregedora.”
“Eles ligam dizendo estarem arrependidos e que iriam me ajudar. Causa estranheza, né? A pessoa prende e depois quer ajudá-la [...] Da mesma forma que se eu cometer algum crime quero ser julgado, quero que a polícia os investigue. Por que a polícia não investiga a questão patrimonial deles? Como que um policial pode ter helicóptero? Como que ele vai trabalhar de carro blindado? Como que ele faz viagens? Por que a polícia não investiga o sistema?”.
Em seguida, Cabrini exibe a resposta de Fábio Baena, que foi dada em nota. “Toda investigação foi feita com base na lei, contraditório e ampla defesa. Todos os atos ele estava acompanhado de advogados. Enquanto estive presidindo o processo houve acompanhamento do MP e judiciário. Não há de nenhum arrependimento das ações de investigação. Todas pautadas na lei.”
Última delação foi feita há 15 dias
Nos últimos seis meses, Vinicius fez várias delações ao Ministério Público, sendo a última 15 dias antes de sua morte. Segundo Cabrini, essa ele não chegou a assinar.
Questionado se temia morrer, Vinicius respondeu: “Temo minha vida, mas quero que a verdade venha à tona. Que a polícia investigue e encontre os reais mandantes, a pessoa que matou”.
No dia da sua morte, quatro policiais militares deveriam buscar Vinicius e a namorada, porém o carro teria apresentado falhas mecânicas no meio do caminho.