FAMÍLIA PORTUENSE DE LUTO

Posted On Terça, 20 Outubro 2015 17:29
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Morte brutal de Dimas Araújo expõe violência que assola p Tocantins de Norte a Sul e a inépcia do governo Marcelo Miranda

 

Por Edson Rodrigues

Nesta última segunda-fera, dia 19 de outubro de 2015, Porto Nacional viveu um de seus piores dias.  Um dia que vai ficar tristemente marcado na memória de todos os seus moradores, dos mais novos aos mais antigos.  Dos residentes e dos que deixaram a cidade.

Morreu Dimas Araújo, o Dimas do cartório.  Uma pessoa simples, querida, amada, admirada, adepta do “fazer o bem sem olhar a quem”.  Um pai de família dedicado, um benfeitor anônimo, que ajudava muitas e muitas pessoas em que elas mesmas soubessem que eram ajudadas, desde o remédio que faltava à mensalidade do colégio ou da faculdade, Dimas não se negava a prestar sua contribuição, da forma que pudesse, para aliviar o sofrimento alheio.

Pois foi esse Dimas que ao ver o seu estabelecimento invadido, o lugar de onde tirava o sustento de sua família, não teve dúvidas em reagir, em proteger seu patrimônio e acabou levando um tiro na cabeça.  Um tiro que atingiu não só o corpo de Dimas, mas toda a sociedade portuense.

Eram três bandidos. Três insensíveis.  Três retratos prontos do desespero que um Estado ineficaz produz à cada dia nas famílias mais necessitadas.

O otimismo, a simpatia e a alegria contagiantes de Dimas, amante da confraternização, da boa música sertaneja se transformou em indignação, incompreensão e assumiu a forma de revolta que tomou as ruas de Porto Nacional.

Porto Nacional que ficou pequena para receber os amigos e admiradores de Dimas, que vieram dos quatro cantos do Tocantins, de Goiás, do Pará, de todos os lugares onde sua alegria alcançava, para dar o último adeus ao bom homem que a cidade e o Estado perderam para a violência.

Nem o Padre Paulo Sérgio, nem os amigos, os parentes, os tocadores de viola, ninguém conseguiu segurar a emoção, a dor da despedida do grande amigo que partiu de forma tão cruel e covarde.

 

REFLEXÃO

Não podemos nos calar sobre o que aconteceu com nosso amigo, irmão, Dimas Araújo.  No mesmo dia da sua partida, assistimos notícias vindas das grandes e pequenas cidades do Tocantins, todas com uma mesma tônica, com a mesma motivação, que é a violência.

Uma violência endêmica, que deixou os becos do submundo e hoje batem à porta dos justos e dos cidadãos comuns.

Quantos Dimas morreram, morrem e morrerão no Tocantins enquanto o governo do Estado fingir que governa?

As estatísticas da violência no Tocantins mostram que esse é um problema que não tem meios-termos, que não tem freios.  O sentimento de insegurança só aumenta na sociedade.  Lucram os comerciantes de cercas elétricas, os construtores de muros altos, os seguranças e vigilantes particulares.  Perdem o cidadão e a liberdade.

A culpa é da sociedade, como dizem muitos?  Sim.  Em parte.  Mas a culpa maior, a culpa-mãe, é do Estado, do governo que aí está e deixa policiais com armas obsoletas, viaturas sucateadas, combustível racionado, delegacias desabitadas, soldos e salários que são portas abertas à corrupção, de tão irrisórios que são.

Os pobre policiais, entrincheirados sob armas obsoletas e péssimas condições de trabalho também são vítimas, tanto quanto os cidadãos.

A segurança pública é mais uma areia movediça que engole, de pouquinho em pouquinho a credibilidade do governo Marcelo Miranda.

A cada cidadão assassinado, assaltado, estuprado, enganado.  A cada caixa eletrônico arrombado, a cada estabelecimento assaltado, estará impressa a marca da falta de organização, de planejamento e a ineficácia do governo.

Está na Constituição Federal: “é dever do estado prover a segurança da população”.

Mas a quem cabe cumprir esse dever?  A quem cabe fiscalizar o cumprimento desse dever?

Afirmar que não há dinheiro para a segurança pública é desculpa antiga.  A mesma Constituição que prevê sua obrigatoriedade, prevê seus proventos.  Dinheiro não falta, falta é vontade de se fazer cumprir o que manda a Lei.

Circulando há 28 anos, O Paralelo 13 jamais viu tamanho recrudescimento da violência no Tocantins.

Jamais viu, também, um governo tão mudo em divulgar seu planejamento e suas ações, o que só contribui para que aumente a sensação se insegurança da população.

Com todo o respeito que temos pelo governador Marcelo Miranda, ele não pode reclamar de falta de apoio nem da população nem do Legislativo, que aprova tudo o que ele envia.

O que falta é planejamento.  O que falta é vontade.  O que falta são policiais mais respeitados e equipados.

O que falta são nossos amigos, nossos entes queridos, levados pela violência.

Mas não vai faltar à você, amigo e irmão Dimas, sua música preferida, como nossa última e derradeira homenagem a quem só nos fez bem, e que vai fazer muita falta....

 

ASA BRANCA – LUIZ GONZAGA

Quando oiei a terra ardendo

Qual foguêra de São João

Eu perguntei-ei a Deus do céu, ai

Pru que tamanha judiação?

 

Qui brasero, que fornaia

Nem um pé de prantação

Por farta d’água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

 

Inté mesmo a asa-branca

Bateu asas do sertão

Entonce eu disse: adeus, Rosinha

Guarda contigo meu coração.

 

Hoje longe muitas légua

Numa triste solidão

Espero a chuva caí de novo

Pra mim vortá pro meu sertão (...)