Governo Trump revoga vistos de familiares do ministro Alexandre Padilha como punição por Mais Médicos

Posted On Sábado, 16 Agosto 2025 06:52
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Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, liderou criação do programa em 2013 Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, liderou criação do programa em 2013

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em anúncio a expansão do programa Mais Médicos com a oferta de novas vagas no primeiro edital de 2025Crédito,Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

 

Por Author, Giulia Granchi e Mariana Schreiber

 

 

 

O governo de Donald Trump revogou o visto de entrada nos Estados Unidos da esposa e da filha do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em mais uma ação contra autoridades brasileiras.

 

Padilha não foi afetado diretamente porque seu visto americano venceu em 2024. Ele, porém, fica impedido de obter um novo visto.

 

A informação foi divulgada pelo portal G1 e confirmada pela BBC News Brasil.

 

A divulgação da medida ocorre dois dias após a gestão Trump anunciar, na quarta-feira (13/08), a revogação de vistos de brasileiros envolvidos na criação do programa Mais Médicos, quando cubanos atuaram no Brasil para suprir a falta de atendimento em áreas remotas ou periféricas do país.

 

Padilha também era ministro da Saúde quando o programa foi implementado, em 2013, durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

 

"Estou absolutamente indignado. É um ato covarde que atinge uma criança de dez anos de idade, que atinge a minha esposa", disse Padilha, ao canal Globo News.

 

"E as pessoas que fazem isso, o clã Bolsonaro, que orquestra isso, têm que explicar, não para mim, para o mundo todo, qual o risco que uma criança de dez anos de idade pode ter para o governo americano", continuou.

 

A fala do ministro faz referência à atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro está naquele país desde fevereiro, articulando com o governo Trump retaliações contra o Brasil, em resposta ao processo criminal que seu pai enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF).

 

Padilha disse ainda que a criação do programa em 2013 ocorreu após visitar diversos países para buscar soluções para a falta de médicos no Brasil.

 

"Naquele momento, [médicos cubanos] estavam em mais de 60 países. E hoje ainda tem em dezenas de países, inclusive na Itália", disse Padilha, citando um país cujo governo tem boa relação com a gestão Trump.

 

O ministro ressaltou que hoje o Mais Médicos opera principalmente com profissionais brasileiros e que já não há pareceria com Cuba. A mudança foi adotada após parte da classe médica brasileira criticar fortemente a vinda dos cubanos.

 

Segundo ele, trata-se do "maior programa de provimento médico do mundo", com 28 mil médicos alocados em áreas remotas do país.

 

"Qual que é a explicação que não tem qualquer tipo de sanção, qualquer crítica a esses outros países [que ainda empregam cubanos], e vêm fazer uma sanção aqui no Brasil contra servidores brasileiros e contra a família do ministro da Saúde, se nós não temos mais parcerias com médicos e médicas cubanas?", continuou.

 

Na quarta-feira (13/08), o governo americano divulgou o nome de outros dois brasileiros atingidos por seu envolvimento com o Mais Médicos.

 

Mozart Julio Tabosa Sales é o atual secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde. Já Alberto Kleiman é, segundo seu perfil no LinkedIn, coordenador-geral para a COP30 da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

 

A medida foi divulgada pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, como parte da retomada da "política de restrição de vistos relacionada a Cuba".

 

O texto afirma que os dois teriam atuado no "esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano", em referência à participação de médicos cubanos no programa entre 2013 e 2018. Rubio também destacou que a medida se baseia na suposta cumplicidade de Sales e Kleiman com o trabalho forçado do governo cubano por meio do Mais Médicos.

 

O Departamento de Estado dos EUA acusa os envolvidos de enriquecer o "corrupto regime cubano" e de privar o povo da ilha de atendimento médico.

 

Além disso, o comunicado aponta que a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) teria atuado como intermediária para implementar o programa sem seguir os requisitos constitucionais brasileiros, driblando sanções dos EUA a Cuba. A Opas, vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não se manifestou sobre o caso.

 

No atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Mais Médicos passou a priorizar profissionais brasileiros. Segundo dados divulgados na segunda-feira (11/08), 92,25% dos 24,9 mil médicos ativos no programa são nacionais.

 

A medida contra Sales e Kleiman foi elogiada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que vive nos EUA e tem pressionado o governo americano por sanções a autoridades brasileiras, especialmente ministros do STF.

 

O episódio ocorre em meio a uma escalada de retaliações de Trump ao Brasil. Em julho, Washington impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou o ministro Alexandre de Moraes, acusando o país de perseguição política contra Jair Bolsonaro, réu em uma ação penal sobre suposta tentativa de golpe após a derrota nas eleições de 2022.

 

Mozart Sales, em sua conta do Instagram, publicou um texto afirmando que a penalidade é uma "sanção injusta" e defendeu o Mais Médicos.

 

"Essa sanção injusta não tira minha certeza de que o Mais Médicos é um programa que defende a vida e representa a essência do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo - universal, integral e gratuito".

 

 

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