Por Edson Rodrigues
Reza uma antiga lenda tocantinense que um casal morava à beira de um lago quando, certo dia, a esposa lavava a roupa na beira de um lago e foi atacada por uma sucuri. O marido, que roçava o quintal ali perto, correu em auxílio à sua amada e, munido de uma foice, desferiu vários golpes na cobra, que, ferida, fugiu para dentro do lago. A esposa, agradecida, encheu o marido de mimos.
Anos depois, quando o assunto da cobra já havia caído no esquecimento, eis que, a situação se repete. Só que, desta vez, a sucuri estava mais forte, mais robusta, e não levou muito tempo para arrastar a mulher para o lago e devorá-la. Quando o marido chegou, só restavam as roupas que a coitada lavava.
Valemo-nos dessa parábola para exemplificar uma situação que acontece na política tocantinense. Toda vez que o PMDB tocantinense decide afrontar a sua filiada, senadora Kátia Abreu, entronizada na legenda sob a proteção do então seu presidente nacional, Michel Temer, e apadrinhada pela ex-presidente Dilma Rousseff e com o apoio dos clãs Marcelista, Paivista e Nunista, ocorre um episódio semelhante ao da lenda apresentada acima: muito se fala, muito se garante, muito se especula, mas, no fim, Kátia Abreu sempre prevalece, sempre está de volta – e cheia de moral.
Todas as vezes em que se aventou a possibilidade de expulsão ou de afastamento da senadora, ela sempre dissipou o movimento de forma inconteste e saiu distribuindo bravatas e críticas aos seus detratores. Seu alvo principal, nessas ocasiões, é sempre o governo Marcelo Miranda, ao mesmo tempo em que promove, em Brasília, jantares e eventos com a presença constante dos principais próceres do partido no Senado e com cobertura total da mídia, em que divulga todo o seu prestígio.
Para se ter uma ideia, Kátia Abreu foi escolhida para a relatoria do processo mais polêmico do Senado Federal, que trata dos supersalários, que tem uma miríade de alvos famosos em todos os poderes, o que lhe conferiu ainda mais prestígio e visibilidade.
INAÇÃO OU OMISSÃO
O mais interessante em todo esse imbróglio, é que, embora o PMDB tocantinense esteja esperneando e dando chilique por conta da nova “vitória” da senadora, até hoje ainda não se viu ninguém, nenhuma vivalma do PMDB tocantinense, sair em defesa de Marcelo Miranda ou de seu governo, desta ou em qualquer outras das vezes em que a Kátia Abreu mirou sua metralhadora giratória contra o governo do Estado e a pessoa do governador Marcelo Miranda.
EXEMPLO
Os membros do PMDB tocantinense poderiam se espelhar nos dirigentes da Confederação nacional da Agricultura, entidade maior do agronegócio brasileiro, do qual Kátia Abreu foi presidente por dois mandatos, cargo do qual afastou-se para assumir o ministério da Agricultura. Com o impeachment da ex-presidente Dilma, Kátia acabou perdendo o ministério e, ao tentar reassumir a presidência da CNA, acabou ela própria sofrendo uma espécie de impeachment, defenestrada pelos seus próprios comandados, que votaram em bloco pela sua saída. Apenas um deles foi a favor da sua permanência.
Como dizia Franco Montoro “apanhar duas vezes na mesma esquina ou é frouxo ou é mole ou é covarede”. Em qual dos adjetivos se enquadra, hoje, o PMDB tocantinense?
CONSELHO
Fica, aqui, nosso conselho para que os caciques do PMDB do Tocantins valham-se do exemplo da sucuri – tomando cuidado para que Kátia Abreu não os engula ao mínimo descuido – e impeça que a senadora tome conta do partido na renovação das comissões e na eleição do diretório.
Aliás, me pergunto, ainda, por qual motivo, até hoje, não foi feita uma reunião da cúpula do partido para decidir, finalmente, que Kátia Abreu é persona non grata, e está devidamente desconvidada a permanecer nessas hostes?
Enquanto isso ficam choramingando pelos cantos, com a ladainha de que a senadora não participa das reuniões do partido, não se interessa pelas nossas decisões. Se não tomarem uma atitude urgente, ela “engole” todos de uma vez, ainda mais que, com mais seis anos de mandato, só deve aumentar o seu cacife e aumentar cada vez mais seus ataques ao governo
AINDA HÁ CHANCE
O alinhamento de Marcelo Miranda com a bancada federal do Tocantins traz um alento para essa batalha inglória com a senadora Kátia Abreu. Depois da reunião do último dia 10, em que Até o presidente regional da legenda esqueceu da sua tão propalada diplomacia e afirmou que “as portas estão abertas para quem quiser sair, e nosso desejo é que a senadora não fique mais no nosso meio”, ante o pedido de dois membros do diretório metropolitano por “medidas enérgicas” contra a senadora. Derval sabe que não pode expulsar uma senadora, prerrogativa exclusiva do diretório nacional, mas garantiu que o PMDB do Tocantins “vai agir”. “Não dá mais para aturar, já tivemos paciência demais”, desabafou.
O motivo do azedamento das relações entre o partido e a senadora são as constantes críticas de Kátia ao governo Marcelo Miranda (PMDB), a quem ela não tem poupado.
O PMDB do Tocantins se manifestou no dia 20 de setembro pela expulsão da senadora no processo que tramita na Executiva nacional. "Este Diretório Regional, no caso em apreço, não pensava e muito menos desejava que se poderia ver consumar no seio deste Partido o conhecido adágio popular no sentido de que 'Quer conhecer o vilão lhe dê o bastão', situação esta efetivamente vivenciada pelos PMDBistas no caso da Senadora Kátia Abreu”, chega a afirmar o documento do Tocantins ao diretório nacional.
KÁTIA RESPONDE
A senadora Kátia Abreu (PMDB) reagiu às declarações de Derval de Paiva, publicadas na imprensa, contra seu posicionamento contrário ao governo Marcelo Miranda, em especial na Saúde. “O PMDB sempre foi um partido que prima pela democracia, pela pluralidade de ideias. Foi o partido que encabeçou o movimento pelas Diretas Já, e agora o presidente da legenda no Tocantins quer me amordaçar?”, reagiu ela às declarações atribuídas a Derval em nome da cúpula do partido: “As portas estão abertas para quem quiser sair... Não a queremos no nosso meio”.
Kátia Abreu fez visitas recentes ao Hospital Geral de Palmas e ao Hospital e Maternidade Dona Regina, onde constatou diversos problemas, alvo de críticas em releases que distribuiu à imprensa e também de vídeos distribuídos à sua rede via WhatsApp. Para a senadora “não faltam recursos, mas falta gestão na Saúde do Estado”.
As críticas repercutiram e provocaram a preocupação do governo, que reagiu primeiro através do braço político do governador, o comando do PMDB. “A situação da Saúde no Estado é caótica. Agora, querem me tirar o direito de representação que me foi conferido pelo mandato popular? Que é o direito de reivindicar, de cobrar, de criticar o que está errado? Eu apenas faço coro ao povo que sofre com o atendimento precário da Saúde no Estado. O que quer o senhor Derval de Paiva?
Ao que parece, a “sucuri” está mais viva que nunca e, a se repetir a fábula – se o PMDB tocantinense não agir – não será só esposa a ser engolida, desta vez. O marido, também vai no mesmo bote...