Dois ministros, de partidos diferentes, mas fiéis à presidente tentam ajudar governo a se manter com estratégias diferentes de ação. Movimentação vai respingar no Tocantins
Por Edson Rodrigues
Um dos poucos integrantes do PMDB que permanece fiel à presidente da República, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, 53, defende o mandato de Dilma Rousseff dizendo que impeachment deve ser feito com "substância", não com "adjetivação".
"Só vejo adjetivação, porque a presidente não gosta do Congresso, porque é impopular, porque briga etc.", declara a peemedebista, portavoz do agronegócio no governo federal. "Ninguém nunca ouviu dizer que ela tenha furtado uma caneta BIC."
Em entrevista à Folha de São Paulo, a ministra afirma que a deposição não resolveria os problemas da economia. "E, no dia seguinte, viria a frustração, porque nada seria modificado com rapidez, sem dor, como num passe de mágica. Não tem Hollywood nem país das maravilhas."
Contra o rótulo de novata imposto por alguns de seus correligionários, a titular da Agricultura dispara. "Não sou oferecida", mas também "não quero ser tratada a vida inteira como cristãonovo". Kátia Abreu defende Michel Temer. Garante que ele não conspira para derrubar Dilma. "A suspeição disso o deixou muito abatido." Mas reconhece que amigos do vicepresidente andaram, sim, fazendo complôs aqui e ali.
Para ela, basear o impeachment em popularidade é um risco político. "Se fizermos uma pesquisa com os governadores e prefeitos, devido à dificuldade financeira que se encontram, talvez não sobrasse nenhum." Em uma recente viagem, a ministra pediu à chefe recomendações de livros para ampliar sua cultura. Ao receber a lista bibliográfica, soltou uma frase que fez Dilma cair na risada. "Se eu ler tudo isso não vou virar comunista, né?" E logo emendou: "Sou de direita desde que nasci".
KASSAB E A SAGA DO PL
Com o apoio do primeiro escalão de Dilma Rousseff, o ministro Gilberto Kassab (Cidades) patrocina nesta semana a última tentativa de recriar o Partido Liberal, legenda cujo objetivo é formar um bloco governista para rivalizar com o PMDB, além de esvaziar a oposição e o movimento próimpeachment.
A pedido do exprefeito de São Paulo, integrantes do Palácio do Planalto adiaram a publicação da sanção presidencial à reforma política aprovada pelo Congresso.
Caso saísse no Diário Oficial na sexta (25), como esperado, a medida jogaria por terra os planos de Kassab de levar até 28 deputados federais para a nova sigla. A movimentação de bastidores do ministro das Cidades, hoje um dos mais fiéis aliados de Dilma, começou logo após a reeleição da petista, no ano passado.
Incomodado com o poder do PMDB na coalizão –é o maior partido aliado a Dilma–, o Palácio do Planalto deu sinal verde a Kassab e a Cid Gomes (que viria a ser ministro da Educação) para tentar criar um polo alternativo. Sempre negando publicamente estar ligado à operação, Kassab começou, por meio de aliados, a tentativa de recriar o Partido Liberal. O intuito era atrair deputados federais da oposição e do PMDB para a nova sigla e, depois, fundila com o PSD (o atual partido que Kassab comanda), superando em tamanho os peemedebistas. Hoje o PMDB tem 66 deputados federais; o PSD, 34.
A ação, porém, esbarrou na derrota do governo para Eduardo Cunha (PMDBRJ), que em fevereiro assumiu a presidência da Câmara dos Deputados e, desde então, trabalha para minar os planos de Kassab e denunciar publicamente a tentativa do Planalto de alvejar o parceiro PMDB.
ARTICULAÇÃO
O último revés do ex-prefeito ocorreu no começo de agosto, quando o Tribunal Superior Eleitoral rejeitou o pedido de registro do PL. São necessárias cerca de 487 mil assinaturas de eleitores para que um partido seja criado, mas o PL só apresentou na ocasião 167 mil.
A partir de então, Kassab articulou reação. O PL entrou com recurso em setembro e entregou ao tribunal uma papelada em que afirma estarem as assinaturas faltantes.
O TSE encaminhou o recurso para que o Ministério Público dê parecer e, segundo Kassab disse a colegas da Esplanada, aprovará a recriação do PL nesta terça (29).
Segundo relato de dois auxiliares de Dilma Rousseff, Kassab pediu aos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Comunicações), em reunião no Palácio da Alvorada na quinta (24), que eles suspendessem a publicação, marcada para o dia seguinte, da sanção presidencial à reforma política.
Àquela altura, Dilma voava para Nova York e havia deixado a sanção pronta. Kassab não a queria publicada na sexta porque ela coloca na lei que deputados federais só podem mudar de partido sem risco de perder o mandato no sétimo mês anterior às eleições –a próxima janela do trocatroca só se abriria em março de 2016.
Até a sanção ser publicada, continua valendo a resolução do TSE que permite a migração para novas legendas nos 30 dias posteriores à sua criação.
COMPROMISSOS
Segundo promessa de Kassab a Mercadante e Berzoini, ele já tem prontas e assinadas a filiação ao PL de 25 a 28 deputados federais de siglas como PV, DEM, PSB e PMDB, ação que seria concretizada ainda na terça (29), após eventual aval do TSE ao PL.
Caso chegue ao número máximo prometido, além de esvaziar a oposição o ex-prefeito reuniria 62 deputados na aliança PSDPL, quase o mesmo tamanho do PMDB (66). O ministro das Cidades argumentou que essa operação é, em sua visão, essencial no momento em que a oposição tenta deflagrar processo de impeachment, com apoio de alas do PMDB.
TOCANTINS
Não foi surpresa para nós, de O Paralelo 13, a decisão da senadora e ministra Kátia Abreu de sair em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff, posicionando-se contra o impeachment.
Kátia é conhecida por todos como uma mulher de decisão, de pulso firme e de posicionamentos claros. Tudo o que ela falou á Folha de São Paulo foi milimetricamente calculado e estudado.
A tocantinense chegou o ministério da Agricultura única e exclusivamente por conta de sua folha de serviços prestados ao setor agrícola do País, como presidente da CNA, deputada estadual e federal e senadora, e sua indicação foi plenamente apoiada pelo PMDB.
Em artigo recente, intitulado “Kátia Abreu pode estar com os dias contados no PMDB”, falamos da insatisfação do partido em relação á sua fidelidade canina à presidente Dilma e ao apoio velado que vem dando – sob orientação do Palácio do Planalto ou não – à criação do PL, no qual tem, digamos, interesse particular, pelo fato de seu filho, deputado federal Irajá Abreu, ser o ungido de Kassab no Tocantins, no comando das articulações de cooptação de lideranças rumo ao novo partido. A possível futura fusão do Pl com o PSD explicaria isso, uma vez que Irajá é integrante do PSD.
Logo, a situação política de Kátia dentro do PMDB não é nada confortável, principalmente agora, que Kátia definiu seu posicionamento após essa entrevista.
Só o tempo dirá o que pode acontecer daqui pra frente.
Dentro desse contexto, a próxima quarta-feira será de muita movimentação política em Brasília, quando Dilma Rousseff irá anunciar a sua reforma administrativa. Nela, a presidente estará mostrando quem manteve o prestígio e quem está fora dos planos do governo federal para o restante do mandato.
PL
Dentro dessa reforma, Gilberto Kassab, ministro das Cidades, parece “imexível”. Kassab coordena a criação – ou recriação, como a imprensa vem se referindo ao assunto – do PL, Partido Liberal, junto à Justiça Eleitoral.
Para muitos, o PL já nasce sob a pecha de “barriga de aluguel”, pois é dada como certa uma fusão futura entre o PL e o PSD e que sua criação tem como único objetivo causar um esvaziamento do PMDB em todo o País. Por isso, comenta-se, sua criação é tão bem vista pelo Palácio do Planalto, a ponto de receber até apoio palaciano para conseguir seu intento.
A imprensa nacional vem noticiando o apoio dos ministros de Dilma – Kátia Abreu incluída na lista – à criação do PL, mesmo com uma primeira negativa do TSE, que encontrou divergências no número de assinaturas colhidas pelos que lutam por sua criação.
Neste ponto, entra em questão outra data importante nesta semana. Na quinta-feira, na última reunião do colegiado antes do fim do prazo para a movimentação entre partidos sem a perda do mandato, o TSE votará novamente se aprova ou não a criação do PL.
Será uma reunião e uma decisão que vão mexer com muita gente Brasil afora e de suma importância para o futuro político do Brasil.
CLIMA DE DESPEDIDA NO TOCANTINS
É certo, após tudo o que vimos neste artigo, que o clima para um entendimento entre Kátia Abreu e o PMDB tocantinense, liderado por Marcelo Miranda, praticamente não existe mais. O caldo desandou de vez.
Marcelo Miranda vem recuperando sua popularidade e a governabilidade do Estado à proporção em que vem voltando a receber apoio de prefeitos e vereadores. 37 deles, entre prefeitos, vereadores e lideranças municipais estarão se filiando ao partido na próxima sexta-feira.
A costura política que resultou nessas filiações vem sendo feita por ícones do PMDB tocantinense, como Derval de Paiva, Dulce Miranda, Josi Nunes, Paulo Sidnei, Herbert Buti de Brito e pelo “lenhador”, Dr. Brito Miranda.
O resultado desse trabalho bem feito, é que o partido aumenta consideravelmente as chances de ter bons candidatos em 2016.
Isso acontece justamente no momento em que os sinais do distanciamento do PMDB em relação à ministra e senadora Kátia Abreu ficam cada vez mais claros. No último programa eleitoral do partido, Kátia não teve nem vez nem voz, mesmo tratamento dispensado ao ex-governador biônico Carlos Gaguim, enquanto Dulce Miranda e Josi Nunes foram bastante destacadas.
Na nossa análise, isso já equivale a um sinal de que a cúpula nacional do PMDB fechou questão em torno de Marcelo Miranda, Dulce e Josi e que Kátia Abreu já não com mais com os mesmos prestígio e respaldo de antes.
Dentro desse contexto, ficam ainda mais importantes os dias de amanhã e depois (quarta e quinta-feira). Conforme for o “andor da carruagem”, essas datas podem significar até um pedido de expulsão de Kátia Abreu do PMDB por parte da cúpula tocantinense.
Vale lembrar que não seria um demérito muito grande para Kátia, uma vez que ela poderá permanecer senadora e ministra, precisando apenas se filiar a outro partido.
Logo, é bom que todos coloquem as barbas de molhe e fiquem atentos às decisões, tanto de Dilma quanto do TSE. Muita coisa pode mudar na configuração política do Brasil e do Tocantins.
Quem viver verá!