Ou como uma política de passado ilibado perde pontos por colecionar inimigos e desafetos por causa da sua língua afiada
Por Edson Rodrigues
A senadora Kátia Abreu, com 20 anos de vida pública, não tem nenhuma mácula que deponha contra sua conduta. Começou sua carreira como presidente do Sindicato Rural de Gurupi, Presidente da Federação Estadual de Agricultura do Tocantins por três mandatos e presidente da Confederação Nacional da Agricultura por dois mandatos consecutivos, sendo a única mulher, até hoje, a ocupar esse cargo.
Na política foi deputada federal e senadora reeleita, além de ministra da Agricultura no governo Dilma Rousseff, novamente a primeira e única mulher a assumir o ministério voltado aos produtores agropecuaristas do Brasil.
Sua atuação tanto na Câmara Federal como no Senado, é reconhecida como uma das mais combativas e incisivas, sempre presente nos debates mais importantes, com posicionamento firme e sempre preparada para discutir qualquer assunto de igual para igual com todos os parlamentares.
Seu temperamento explosivo, no entanto, é visto pelos analistas políticos como um empecilho em sua vida pública. Sua veemência nos debates tem lhe rendido uma série de adversários viscerais.
AMIZADE COM DILMA
Seu posicionamento fiel e leal acabaram por lhe criar um problema ao se posicionar como fiel escudeira da presidente Dilma Rousseff, de quem se tornou amiga e confidente. Mesmo quando a situação de Dilma ficou insustentável, lá estava Kátia ao seu lado, defendendo-a com unha e dentes, mesmo contra a orientação do seu partido, o PMDB.
Kátia foi fiel e aguerrida na defesa de Dilma, com uma série de pronunciamentos e discursos que desagradaram os próceres do seu próprio partido e lhe rendeu pelejas com os ministros Geddel Vieira Lima e Eliseu Padilha.
O episódio mais simbólico do seu temperamento foi quando, em um jantar de gala, jogou uma taça de vinho no rosto do hoje ministro José Serra, ao ser chamada por ele de “namoradeira”.
Sua lista de desafetos conta ainda com Romero Jucá, com o saudoso senador João Ribeiro, e com Blairo Maggi, considerado o “rei da soja”.
TOCANTINS
No Tocantins a lista de desafetos da senadora também é grande, sempre por conta do seu temperamento explosivo e da verdadeira “metralhadora” que tem entre os dentes. Seus alvos vão do deputado estadual Paulo Mourão ao ex-governador Siqueira Campos, passando pelo ex-prefeito de Palmas, Raul Filho, governador Marcelo Miranda, deputada federal Josi Nunes, o ex-deputado Pulo Roberto, a prefeita eleita de Brejinho de Nazaré, Myiuki Yashida, e o ex-presidente da FAET, Júnior Mazzola.
Na semana passada, em um pronunciamento, seu alvo foi seu ex-aliado, Carlos Amastha. As palavras foram tão duras que praticamente colocaram fogo na ponte que poderia unir os dois em projetos futuros, e atingiram também a “arca de Noé” formada em torno de Raul Filho para tentar derrotar o prefeito reeleito da Capital.
Esse último episódio, acabou por reduzir o grupo político da ex-ministra e senadora Kátia Abreu aos seus filhos, o deputado federal Irajá Abreu, presidente estadual do PSD, que elegeu a maioria dos prefeitos em relação aos demais partidos. Isso significa que, a partir de primeiro de janeiro de 2017, Kátia Abreu terá que “alimentar” esses “netos” com o máximo de recursos federais que conseguir amealhar, sob pena de perder os aliados de última hora e de se tornar uma peça pouco atraente em 2018 na corrida sucessória para o governo estadual, tanto para os oposicionistas a Carlos Amastha quanto aos governistas ligados ao governador Marcelo Miranda, podendo transformar seu sonho de ser governadora em pesadelo.
As eleições estaduais serão daqui a dois anos e Kátia Abreu tem mais seis anos de Senado, ou seja, tem tempo de sobra para reinventar sua vida política no Tocantins. A seu favor tem o raríssimo fato de estar a tanto tempo junto ao poder e manter sua ficha clara e limpa, aliado à sua inteligência, combatividade e fama de lealdade canina.
A verdade é que Kátia tem dois limões nas mãos e, fazer uma limonada deles, cabe somente a ela.
Se ela vai saber fazer essa limonada, só o tempo dirá!!!