A candidatura do vice-governador Laurez Moreira ao Palácio Araguaia pelo PDT entrou numa verdadeira sinuca de bico. E não apenas por conta dos desafios naturais de uma pré-campanha estadual, mas, sobretudo, pelos reflexos de um escândalo nacional que abala profundamente os alicerces do seu partido
Por Edson Rodrigues
O rombo bilionário de R$6,3 bilhões em fraudes contra aposentados, entre descontos indevidos e empréstimos consignados sem autorização, caiu como uma bomba no colo da cúpula do PDT nacional. A demissão, na última semana, do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi acusado de omissão mesmo após alertas do TCU, expôs uma crise ética e política de proporções devastadoras. Vale ressaltar que Lupi é o presidente nacional do PDT.
Ainda que nenhuma liderança do PDT tocantinense esteja envolvida diretamente no escândalo, o desgaste é inevitável. O partido passa a carregar uma marca pesada justamente no momento em que tenta se firmar como alternativa viável ao atual grupo político encabeçado por Laurez Moreira.
Laurez, figura respeitada e com trajetória limpa na política, foi deputado estadual, federal e por duas vezes prefeito de Gurupi com todas as contas aprovadas, se vê agora num labirinto. Sua única chance real de alavancar competitividade seria assumir, ainda neste mandato, o governo do Estado. Mas o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) já cravou publicamente que permanecerá no cargo até o fim. Sem a caneta do Executivo, Laurez entra na disputa com desvantagem e, agora, com o agravante do desgaste nacional de sua sigla.
Ex-prefeito de Palmas Raul Filho com o ex-deputado Cesar Halum com Laurez Moreira
Mais grave: o escândalo afugenta possíveis aliados. Tornar-se candidato majoritário ou proporcional pelo PDT passou a ser, no mínimo, um risco de imagem. E sem uma chapa forte, sem nomes competitivos para o Senado, Câmara e Assembleia, a candidatura de Laurez pode se isolar ainda mais no tabuleiro político estadual.
Mesmo com a nomeação de um novo ministro da Previdência, também filiado ao PDT, ou outro líder nacional assumindo a vaga de Lupi na presidência do partido, a ferida está aberta, e a confiança do eleitor e das lideranças políticas se tornou um bem escasso. Resta saber se Laurez conseguirá separar sua biografia ilibada do caos ético em que sua legenda nacional está mergulhada. No xadrez da sucessão tocantinense, nem sempre a reputação pessoal basta quando o jogo partidário é contaminado por escândalos de grande escala.
A candidatura do PDT ao governo do Tocantins virou, sim, uma sinuca de bico. E, neste jogo, quem não tiver precisão no discurso e firmeza nas escolhas pode acabar sem jogada possível.