Lava Jato evitou calotes de US$ 7 bi no BNDES

Posted On Quinta, 18 Julho 2019 05:37
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Se as pessoas ficam escandalizadas com o fato de que o BNDES está sendo vítima de calotes no valor de US$ 518 bilhões em financiamentos à Venezuela (US$ 352 milhões), Moçambique (US$ 118 milhões) e a Cuba (US$ 48 milhões), é bom saber que a operação Lava-Jato, ao inabilitar, em 2015 (no governo Dilma), várias empresas de engenharia que pediam créditos para obras nesses três países e ainda Angola, Argentina, Gana, Guatemala e Honduras, evitou que o empréstimo de outros US$ 7 bilhões corresse risco de calotes.

 

Com Agências 

 

Segundo os dados de transparência do BNDES, os US$ 352 milhões em atrasos da Venezuela (já descontando o que foi coberto pelo Fundo Garantidor de Exportações, que é bancado pelo Tesouro Nacional) representavam 19,24% do total emprestado de US$ 1,507 bilhão.

Porto Mariel em Cuba

 

No caso de Moçambique, país pobre da África Oriental, açoitado por dois graves fenômenos climáticos nos últimos dois anos, há quase total inadimplência. Dos US$ 188 milhões financiados, o país só amortizou, efetivamente US$ 5 milhões (2,67%), deixando US$ 118 milhões em aberto.

 

Já Cuba tem em atraso US$ 48 milhões dos US$ 656 milhões emprestados pelo BNDES, basicamente às obras do porto de Mariel, executadas pela Odebrecht. Como restam US$ 506 milhões de saldo devedor, o país já amortizou (direta ou indiretamente, via FGE) US$ 102 milhões.

 

Venezuela queria mais US$ 4,6 bilhões

Mas a lista de projetos vetados ao governo de Nicolás Maduro (no poder desde 2013, após a morte de Hugo Chavez) era ainda mais ambiciosa e somava US$ 4,645 bilhões, representando 66% do total vetado, sendo a maior parte dos projetos solicitados pela Odebrecht. A Andrade Gutierrez seria contemplada com US$ 1,5 bilhão.

 

Ponte na Venezuela 

 

A lista incluía financiamento de US$ 219,3 milhões para a linha 5 do Metrô de Caracas, que teve solicitação de aditivo no valor de US$ 200 milhões, somando US$ 419,3 milhões. Outros US$ 527,8 milhões foram solicitados para financiar a construção da linha 2 do Metrô de Los Teques, que ainda teve pedido ampliado em mais US$ 334, 2 milhões, somando US$ 862 milhões. Juntos os dois metrôs teriam financiamento negado de US$ 1,281 bilhão.

 

Nas etapas anteriores, o BNDES financiou US$ 690 milhões às obras da Odebrecht no metrô de Caracas, ainda incompleto. Na expansão do Metrô do Rio para a Barra da Tijuca, o governo do Estado do Rio, na gestão Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, teve recusa de financiamentos do BNDES e recorreu ao Banco do Brasil.

 

Siderurgia e estaleiro

Com a intermediação da Construtora Andrade Gutierrez, a Venezuela também solicitou financiamento de US$ 865,4 milhões à Siderúrgica Nacional da Venezuela, um projeto que tinha parceria cubana.

 

A Andrade Gutierrez também solicitou créditos de US$ 637,9 milhões para o financiamento das obras de construção do Estaleiro Estialba, da PDVSA, a estatal venezuelana do petróleo. A assinatura do contrato, depois revogado pelo BNDES, foi firmado pela ex-presidente Dilma com Nicolás Maduro.

 

República Dominicana

Na lista dos contratos de financiamentos de exportação vigentes no BNDES, a República Dominicana tomou créditos de US$ 1.215 bilhão, sem qualquer atraso até aqui.

 

Mas seria a 2ª maior carteira de empréstimos (com obras lideradas pela Odebrecht), se a pressão da Lava-Jato não paralisasse os processos de sete tomadas de financiamento às exportações de serviços que totalizariam US$ 1,491 bilhão.

 

Angola lidera os créditos à exportação de serviços de engenharia do BNDES, com US$ 3,273 milhões. Com a facilidade de fazer pagamentos triangulares em petróleo (disputa com a Nigéria a condição de maior produtor africano) o saldo devedor de Angola é de apenas US$ 708 milhões, sem nada em atraso.

 

Usina Hidrelétrica 

 

Mas o BNDES teve de revogar quatro financiamentos a projetos em Angola no valor de US$ 708 milhões (incluindo a construção do polo de agronegócio de Capanda).

 

Na Argentina, 2º maior tomador de financiamentos, com saldo de US$ 2 bilhões, foram suspensos créditos de US$ 485 milhões para dois projetos de tratamento de água na região do Chaco argentino.

 

Gana, na costa Ocidental da África, teve suspenso créditos de US$ 202 milhões. Na América Central, o BNDES voltou atrás em financiamentos de US$ 280 milhões à Guatemala e de US$ 145 milhões a Honduras. A Guatemala teve financiamentos anteriores de US$ 168 milhões, dos quais US$ 143 milhões ainda têm de ser amortizados; Honduras ainda deve US$ 50 milhões dos US$ 59 milhões tomados.

 

Créditos facilitariam acesso do Brasil ao CS da ONU

Vale lembrar que Emilio Odebrecht, então à frente da maior construtora do Brasil, que pediu recuperação judicial no mês passado, seduziu Lula com a ideia de financiar projetos de engenharia do Brasil pela África, América do Sul e Caribe, com o argumento de que o bom relacionamento com esses países iria canalizar seus votos para uma eventual indicação do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, quando o número de países com assentos fixos ampliasse dos atuais cinco membros (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido) para 10 membros.

 

Até agora, o Brasil nada conseguiu. Mas, além do Brasil, as autoridades brasileiras (AGU, CGU e MPF promoveram acordos de colobaroraçãio com 10 países para investigar ações da Odebrech. E a empresa já fez acordos de leniência nos Estados Unidos, Suíça e ainda no Peru, Colômbia, Equador e Panamá, entre outros.